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A nova ordem universal

Linguista britânico afirma que investir no inglês como "língua franca" é alternativa para aumentar o número de falantes

Publicado em 10/09/2011

por Gabriel Jareta

Com a economia mundial remodelada pela ação dos países emergentes e a comunicação global crescendo em escala acelerada, o inglês está deixando de ser uma “língua estrangeira” para se tornar cada vez mais uma “língua franca” mundial, ou seja, o idioma universal para comunicação. Com isso, os países não falantes de inglês que investiram no ensino do idioma saem na frente daqueles que, como Brasil, ainda têm muito o que fazer.

Para o número de falantes de inglês aumentar entre os brasileiros, é necessário começar a ensinar o idioma mais cedo, de maneira mais criativa e em maior escala. Na opinião do linguista britânico David Graddol – autor de The future of english? (1997) que esteve no Brasil para divulgar o estudo English next, ambas publicações do British Council – a língua inglesa ainda é entendida no Brasil como “estrangeira”, e não como instrumento fundamental para o estudo, o trabalho e os negócios. E, além disso, o idioma britânico está passando por mudanças: a inteligibilidade passa a ser a condição desejável, sendo mais valorizada que a correção gramatical ou a habilidade de neutralizar as variantes de pronúncia estrangeiras. “O interessante é que na maioria das vezes em que o inglês é usado como língua franca – não todas – é formado por pessoas que não falam inglês bem”, afirma. E completa: “O mau inglês é mais bem compreendido (por esses falantes)”.

Graddol apresenta alguns números para mostrar a importância desse “inglês global” na sociedade atual: segundo seu estudo, 74% das viagens internacionais são feitas por pessoas que vão de um país em que não se fala inglês a outro igualmente não falante. “Que língua o brasileiro usa pra negociar com o chinês? O inglês”, exemplifica. Do mesmo modo, a interação entre as pessoas é cada vez mais incentivada pelo modelo de produção econômica, afinal desde o início do século 20 o setor de serviços emprega mais pessoas nos países desenvolvidos que a agricultura ou a indústria, fenômeno que hoje ocorre em escala mundial. Além disso, a revolução nas comunicações proporcionada pela internet demanda um conhecimento da língua que antes não era requerido.

Se por um lado Graddol apresenta como alternativa o ensino do inglês como língua franca, simplificado e menos atento a questões estruturais, por outro adverte que, embora muito flexível, a língua inglesa precisa ser bem dominada por aqueles que pretendem estudar ou fazer negócios de modo mais aprofundado com o idioma. “Quem tenta estudar em inglês e não tem um bom nível não aprende bem. Não é capaz de ter precisão nos conceitos. Não é fluente o suficiente para interromper uma conversa e perguntar algo ao professor. Então, senta, toma notas e espera que isso faça sentido”, diz. Do mesmo modo, encontros de negócios podem exigir um nível mais alto de domínio da língua, pela necessidade de empregar termos precisos ou elaborar respostas bem argumentadas. “O investimento em inglês é crucial para manter o crescimento econômico”, reitera o linguista.

Mesmo diante dessa necessidade, ainda não há clareza sobre qual o melhor método para ensinar inglês – principalmente em um país com as dimensões e singularidades regionais do Brasil. Graddol afirma que não há resposta fácil para essa questão. “Não existe apenas uma maneira de ensinar inglês”, diz.


Aprendizado integrado


Na Europa, um modelo adotado com sucesso em alguns países é o “Content and language integrated learning” (Clil), ou “aprendizado integrado de conteúdo e língua”. Testado a princípio na Finlândia, na década de 1990, o Clil é um método de ensino bilíngue de alguns conteúdos do currículo de disciplinas como geografia ou ciências. Na maioria das vezes é aplicado no ensino médio, pois requer alunos com nível de inglês mais alto, já que também as discussões em sala de aula são todas feitas em inglês, e exige que o contato entre os docentes de inglês e de cada disciplina seja bem próximo.

Embora tenha sido bem-sucedido em países como a Holanda, é um método que exige esforço para ser posto em prática. “É muito difícil ter dois professores na sala, ensinando inglês e matemática, por exemplo. Um precisa confiar no outro, são bagagens diferentes, ideias diferentes, um não sabe muito da matéria do outro. É um processo lento”, aponta. Por outro lado, como parte de um projeto mais amplo, pode formar gerações futuras de professores que dominem tanto o inglês quanto a matemática.

Outra proposta de ensino de inglês utilizada em escala cada vez maior é o chamado “English for young learners”, ou “inglês para jovens alunos”. Trata-se de uma maneira de tentar que a proficiência seja alcançada antes dos 16 anos, tendo como ponto de partida o ensino da língua a partir da pré-escola, com crianças em idades que variam dos 4 aos 6 anos. O modelo consagrado na maioria dos países, em que o inglês passa a fazer parte do currículo de alunos entre 11 e 12 anos, prevê a proficiência do aluno com 20 anos. Segundo o estudo do linguista, no Japão a pressão dos pais para que os filhos aprendessem inglês mais cedo fez com que a porcentagem de alunos particulares da língua na faixa de 5 anos subisse de 6% em 2000 para 21% em 2005. “Essa é uma tendência típica de muitos países asiáticos”, diz o estudo.

Mas o estudioso aponta problemas nessa prática: a primeira é a falta de docentes especializados para essa faixa etária. A outra é que, ao contrário do que diz o senso comum – que crianças menores aprendem melhor -, elas podem não ter a responsabilidade necessária para estudar o idioma ou ainda carecer de habilidades intelectuais desenvolvidas. O investimento do ensino do inglês para crianças, no entanto, pode ser fundamental para países que almejam uma população bilíngue nas próximas gerações, caso de nações como Taiwan ou Mongólia.


Contato com nativos


Especialista no ensino da língua inglesa, João Antonio Telles, da Faculdade de Educação da Unesp de Assis (SP), concorda em parte com as ideias de Graddol. Para ele, o ensino da língua inglesa está em um estágio ainda atrasado no Brasil, mas o contato com nativos do idioma, que para o linguista britânico não é importante, é fundamental. “O que mais falta ao aluno brasileiro é o contato com nativos.” Afinal, por mais que a língua esteja passando por mudanças, a estrutura gramatical ou o vocabulário se mantêm quase inalterados, seja no Reino Unido ou na Austrália. “O que muda são as variantes de pronúncia.”

Na Unesp de Assis, um projeto experimental desenvolvido com apoio da Fapesp é o Teletandem (
http://www.teletandembrasil.org

), que coloca em contato universitários brasileiros que estudam outras línguas com colegas estrangeiros que estudam português em um ambiente de áudio e vídeo, via internet. Por ora, o projeto permanece restrito aos estudantes da Unesp de Assis, até pela dificuldade em encontrar alunos de português para realizar o “intercâmbio”. “O contato com nativos é uma experiência escassa mesmo dentro da universidade”, aponta.

Para Telles, a primeira mudança a ser promovida no ensino de língua inglesa em larga escala no Brasil seria direcionar a formação de professores- hoje muito “generalista”. “Os cursos de letras não têm identidade. Não sabem se formam professores de português, de língua estrangeira ou de literatura.” O modelo de ensino de língua estrangeira no país estaria errado, pois se baseia na leitura e escrita, como indica o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), elaborado em 1996.

“Acreditava-se que o aluno teria pouco contato com estrangeiros, mas hoje, com a internet, essa realidade mudou.” Além disso, o ensino da língua inglesa nas escolas precisaria substituir o método baseado em palestras e investir na utilização de recursos audiovisuais e de computação, em especial na rede pública. “A prática pedagógica do ensino da língua estrangeira ainda está no século 19, com a visão da língua como um sistema. A língua deve ser vista como um instrumento de comunicação e de ação social”, opina.

O oponente do século

Atualmente, mais de 1 bilhão de pessoas têm o mandarim como língua nativa e o crescimento econômico da China está levando muitos países asiáticos a estimular o estudo da língua. Apesar disso, o linguista inglês David Graddol não vê o idioma como ameaça ao inglês na condição de língua global no próximo século, ainda que há cem anos coubesse à língua francesa ocupar a posição de língua das artes e dos negócios internacionais. “Daqui a cem anos, (a língua franca) não será o mandarim, e o inglês será muito mais importante”, projeta.

O principal motivo é o obstáculo da escrita, de padrão completamente diferente da escrita romana. Já para os chineses, o contato com os caracteres ocidentais é comum e incentivado. O método Pinyin, por exemplo, que consiste na transcrição dos fonemas das palavras chinesas para o alfabeto romano, é largamente utilizado na informática, em teclados de computador e mensagens de texto de celulares.

O inglês como “língua franca”

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Os artigos “the” e “a” podem ser simplificados: Ex.: “She is good person”;
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A terceira pessoa pode aparecer no singular: Ex.: “He run”;
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A diferença entre os pronomes “who” e “which” pode desaparecer;
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A fala passa a ser mais silabada;
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O som do “th” passa a soar como “t”.

Autor

Gabriel Jareta


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