NOTÍCIA

Edição 221

Alain: a escola, a aula e o exercício

Edição traz dois volumes com reflexões e lições do educador francês

Publicado em 31/08/2015

por Carlota Boto

 

 

Alain (1868-1951) é o pseudônimo de Émile-Auguste Chartier, professor de filosofia em diversos liceus na França.  Dois volumes são reunidos na edição agora publicada. Consta da publicação que as Considerações sobre a educação são uma reflexão geral sobre a matéria educativa, datada de 1932; e a Pedagogia infantil, cuja redação foi concluída em 1925, corresponde a curso ministrado no Colégio Sévigné para a formação de professoras. Um livro dá continuidade ao outro e pode ser compreendido como seu prolongamento, na lógica que vai do teórico ao prático.

As reflexões de Alain sobre a educação situam-se em consonância com os rígidos padrões de educação de seu tempo, mas na contramão das novas tendências que surgiam no debate educacional, em especial a ‘educação progressiva’ de Dewey e a Escola Nova. Para Alain, dever-se-ia marcar solenemente a passagem da brincadeira ao estudo, já que, para ele, as tarefas da educação não seriam uma continuidade do mundo dos jogos. A educação seria a arte de conferir à criança o poder de se autogovernar. Sob tal perspectiva, a escola gera ferramentas para criação de rotinas. A classe escolar parece-se com uma oficina onde todos têm uma ocupação que não decorre necessariamente de seu interesse espontâneo.

Divulgação
Considerações sobre a educação seguidas de Pedagogia infantil, de Alain (Editora É Realizações, 296 págs., R$ 69)

Alain critica a formação dada aos professores. Esses eram preparados para ministrar aulas magistrais. No ensino primário, entretanto, haveria necessidade de eles se voltarem para o acompanhamento – mais importante do que a preleção – do trabalho das próprias crianças: na leitura, na escrita, no cálculo, no ditado e na cópia. Para aprender ortografia e gramática, por exemplo, deve-se fazer a criança repetir e corrigir. Não é escutando que se instrui; é lendo, escrevendo, calculando. Nesse sentido, a atenção imóvel da criança é enganosa. O trabalho escolar é regido pelo signo do recomeço. A criança é ativa quando está mergulhada em um exercício. A criança que se debruça sobre o exercício tenta, erra, volta atrás, acerta. O aluno deve se acostumar com o erro como algo comum e natural.

A educação escolar age na direção da formação de hábitos, de rotinas e de costumes. Os exercícios escolares são, nesse sentido, um exercício de vontade. Há necessidade de regrar a atenção espontânea da criança, que é marcada pela inconstância. Na outra margem das brincadeiras, a criança precisa da seriedade, da regra, do silêncio e da disciplina. É o que diz Alain. A educação escolar gera uma obra; e essa obra é o trabalho do aluno que se aproxima do acervo cultural legado pela humanidade. Daí o valor da escola pública.


Carlota Boto é professora de Filosofia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP)

Autor

Carlota Boto


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