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Capa/Empregabilidade | Edição 198 Preocupadas em dar respostas eficazes à inserção de seus estudantes no mercado de trabalho, instituições de ensino superior investem em ferramentas para medir e incentivar a empregabilidade de alunos e egressos por Christina Stephano de Queiroz Se um dos maiores incentivos […]

Publicado em 20/05/2015

por Redação Ensino Superior

Capa/Empregabilidade | Edição 198

Preocupadas em dar respostas eficazes à inserção de seus estudantes no mercado de trabalho, instituições de ensino superior investem em ferramentas para medir e incentivar a empregabilidade de alunos e egressos

por Christina Stephano de Queiroz

Getty Images

Se um dos maiores incentivos para a continuidade da vida acadêmica é o argumento de que mais anos de estudos se traduzem em mais renda, nada melhor para as instituições de ensino superior do que mostrar que seus alunos e egressos têm boa inserção no mercado de trabalho. Por esse motivo, as instituições de ensino superior estão monitorando seus índices de empregabilidade e investindo em ferramentas para ajudar os estudantes e egressos a ganhar espaço na estatística de pessoas empregadas. Essas iniciativas envolvem desde o desenvolvimento de portais de busca de empregos em diferentes cidades do Brasil, apoio na elaboração do currículo e no preparo às entrevistas, até estímulos ao aprimoramento de habilidades empreendedoras.

Ao reconhecer a preocupação das instituições com essa questão, Keli Lara Campos, professora da PUC de Campinas que criou uma escala para medir a empregabilidade de jovens em seu doutorado em psicologia, defende que é preciso saber como o aluno consegue se sustentar por meio das competências que adquiriu na instituição em que se formou. Em linha com Keli, Flávio Tófani, palestrante e coordenador do curso de pós-graduação em Gestão de Marcas e Identidade Corporativa da PUC de Minas Gerais, aconselha as IES a analisarem seus índices de empregabilidade, para conhecer as lacunas entre a universidade e o mercado. “É preciso contar com essa análise para poder alinhar as movimentações do mercado aos currículos das instituições”, destaca.

Prova de que medir a interação dos alunos com o mundo do trabalho ganha cada vez mais importância no Brasil é a pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), com egressos da educação superior, que participaram do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) de 2012. Com a finalidade de coletar informações sobre a relação entre o desempenho dos estudantes no exame, sua percepção sobre a qualidade da educação superior e a capacidade de conseguir trabalho, o instituto trabalha na análise dos dados coletados e prevê a divulgação dos resultados no 2º semestre deste ano.

Cálculo da empregabilidade

Com R$ 1,5 milhão em investimentos, a Kroton criou, no ano passado, uma ferramenta para busca de empregos que permite ao aluno, inclusive, calcular a probabilidade de ser chamado às vagas às quais se candidata. Segundo Fábio Lacerda, diretor de Recursos Humanos e Empregabilidade, para realizar esse cálculo a ferramenta – chamada Canal Conecta – faz o cruzamento dos dados presentes no currículo do candidato com as habilidades necessárias à vaga em questão. Além disso, por meio de testes psicológicos, identifica se as características de sua  personalidade são compatíveis com aquelas requeridas pelo posto de trabalho.

O sistema da Kroton contém vagas de trabalho nas cidades de Cuiabá e Rondonópolis, no Mato Grosso, e vai passar a funcionar em todos os municípios do estado, ainda neste semestre. A ampliação incluirá, ainda, oportunidades laborais em São Paulo e Minas Gerais, podendo ser acessada por um universo de 363 mil alunos. No final de 2014, 10 mil pessoas estavam cadastradas, sendo 600 delas em processo de seleção e 90 contratadas por meio da ferramenta, gratuita e aberta a todos os alunos e ex-alunos. “Queremos acompanhar a trajetória dos estudantes durante toda a vida e investir no seu vínculo com a instituição”, garante Lacerda. Como parte das ações, a Kroton fez uma pesquisa para avaliar a variação de renda dos alunos no decorrer dos cursos, em quatro áreas do conhecimento: humanas, administração, engenharia e saúde. “Em engenharia, por exemplo, identificamos que a renda do estudante aumenta 250% depois que ele conclui a graduação, se comparada à remuneração de quando ainda era estagiário”, exemplifica, lembrando que esse resultado se baseia no aumento da renda declarado pelo próprio aluno. De acordo com Lacerda, os dados levantados pelo Canal Conecta auxiliam no ajuste do modelo acadêmico, mantendo-o sempre alinhado com as exigências do mercado de trabalho.

Da mesma forma que a Kroton, o Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal) criou, em 2014, um programa para estreitar laços com seus egressos. Uma das primeiras ações do projeto foi realizar uma pesquisa com 593 egressos da unidade de Lorena, no interior de São Paulo, para avaliar as características exigidas pelo mercado, em comparação com aquelas oferecidas pela instituição. “Com base na amostra coletada, sabemos que 94% dos egressos estão empregados e 69% trabalham na área da formação cursada”, assegura Adriana Neves, responsável pelo relacionamento com egressos do Unisal em Lorena. Ela conta que, a partir de 2015, serão feitas pesquisas com alunos de todas as 11 unidades da instituição. “Queremos coletar informações dos formandos anualmente, e de egressos de 2 em 2 anos”, afirma.

© Gustavo Morita

Sala de aula do Mackenzie: convênios de estágio favorecem 30 mil alunos

De acordo com Adriana, os resultados das pesquisas são transmitidos à direção e coordenações de cada curso, que têm o compromisso de adaptá-lo, quando necessário. No caso de formações que apresentem baixos índices de empregabilidade, ela afirma que a ideia é adotar medidas para que o problema seja resolvido, entre elas orientações aos estudantes para entrevistas e seleções, divulgação de vagas de emprego e concursos – e não extingui-las. Adriana destaca, ainda, que o aluno pode pedir para visualizar os níveis de empregabilidade de seu curso, com a finalidade de escolher a área em que deseja realizar a pós-graduação.

Acompanhamento contínuo

A Universidade Presbiteriana Mackenzie possui há dez anos um programa de relacionamento com egressos, reunindo hoje mais de 150 mil pessoas. Desse total, a instituição realiza o mapeamento profissional de cerca de 97 mil, por meio da ferramenta de rede social LinkedIn. “A finalidade é saber, de fato, quais egressos estão no mercado de trabalho e quais estão em busca de empregos”, destaca Cleverson Pereira de Almeida, decano acadêmico do Mackenzie. Ele conta, ainda, que há convênios de estágio assinados com mais de 8 mil empresas, além de cerca de 100 agentes de integração.

“Anualmente, são firmados cerca de 19 mil termos de estágio, para um universo de aproximadamente 30 mil estudantes”, garante. Apesar de avaliar a empregabilidade dos alunos e egressos desde uma perspectiva mais genérica, o decano conta que o Mackenzie mudou os projetos pedagógicos de todos os cursos, com o propósito de atender a demandas do mercado de trabalho. Assim, os planos de aula passaram a contar com uma flexibilização curricular, incentivos ao empreendedorismo, à interdisciplinaridade e ao protagonismo estudantil.

Apesar de já contar com ferramentas estruturadas para ajudar os estudantes a encontrar trabalho, a Estácio decidiu passar a medir sua empregabilidade, no ano passado. Assim, em uma pesquisa realizada com 3,4 mil egressos de todo o Brasil, identificou que 78% estavam empregados. Ao medir a empregabilidade conforme as formações, a instituição constatou que, na área de comunicação e artes, o percentual correspondente foi de 72%, enquanto em direito foi de 71%, e em educação, 74%. Já em engenharia, o índice atingiu 84%, enquanto em gestão foi de 82%, e em saúde, 72%. Tecnologia da informação foi a área com percentual mais alto de empregabilidade, sendo que 91% dos egressos formados em 2013 declararam estar empregados em 2014.

“Pretendemos acompanhar a trajetória dos egressos durante cinco anos”, conta Solange Calvano, gestora nacional da área de carreiras da Estácio. Ela lembra que, somente aos alunos, a IES oferece um portal de vagas, no qual cerca de 30 mil empresas publicam oportunidades de trabalho, e uma central de estágios, que oferece consultoria personalizada. “Nesta área, apoiamos as pessoas a montar seu currículo, conhecer as tendências do mercado e a se preparar para os processos seletivos”, destaca.

Também restrito aos alunos da instituição, a Universidade São Judas Tadeu criou um programa de coaching para apoiar o jovem nos primeiros passos da carreira. “O programa ajuda o estudante a fazer suas escolhas com base em informações sobre sua identidade pessoal e profissional”, conta Tayna Bonifacio, docente da IES e uma das criadoras da iniciativa. Com isso, inicialmente, incentiva o estudante a aumentar seu autoconhecimento, por meio do levantamento de dados sobre seus valores, inteligência emocional e biografia, para depois ajudá-lo a olhar para as possibilidades de emprego de forma não idealizada. “Essa segunda etapa contempla a abordagem das tendências do mercado e de carreiras paralelas na mesma área”, diz, lembrando que, no final, o jovem elabora um projeto de vida por meio da construção de um plano de ação. “Assim, o aluno melhora seu entendimento da realidade e se prepara para enfrentar desafios e obstáculos da escolha profissional”, diz Tayna.

Já o núcleo de empregabilidade da FAE Centro Universitário é aberto também aos ex-alunos, independentemente do tempo de conclusão do curso. Elaine Cristina de Azevedo Pacheco, coordenadora da área, conta que muitos antigos estudantes buscam o setor quando desejam melhorar a colocação no mercado ou mudar de área. Além disso, a instituição faz pesquisas quantitativas anuais com estudantes formados há no máximo três anos para obter informações sobre a empregabilidade e as dificuldades enfrentadas. “De acordo com as pesquisas feitas em 2012 e 2013, em média, 70% deles exerciam atividade profissional na área de formação. Destes, 80% já atuavam na área antes do término da graduação”, contabiliza.

Modelo norte-americano

Diferentemente do Brasil, onde existe um órgão oficial responsável pela medida, nos Estados Unidos há empresas acreditadoras que avaliam as instituições de ensino superior, incluindo seus níveis de empregabilidade (leia mais na pág. 32). Oscar Hipólito, Chief Academic Officer da Laureate Brasil, conta que as instituições norte-americanas também costumam contar com centros de carreiras que ajudam o aluno a se preparar ao mercado de trabalho e acompanham a trajetória profissional do egresso. Segundo ele, um dos destaques do modelo dos Estados Unidos é estimular o desenvolvimento de habilidades empreendedoras. Presente em 30 países, a Laureate incorpora essa prática nas instituições brasileiras a que está vinculada. “O empreendedorismo é crucial em tempos de crise econômica, pois o formado estará apto não somente a encontrar trabalho, mas também a gerar empregos”, diz.

Hipólito destaca que a Laureate Brasil acaba de fechar uma parceria com a Universia para oferecer sua plataforma de busca de empregos em todo o território nacional aos estudantes. “Pretendemos ampliar essa aliança para que o aluno brasileiro possa ter acesso a oportunidades de emprego em todo o mundo”, adianta.

© Gustavo Morita

Laboratório da Unime Lauro de Freitas (Kroton): estudantes podem avaliar se suas habilidades estão adequadas às demandas do mercado

Uma das instituições nacionais vinculadas à Laureate, a Universidade Anhembi Morumbi realiza, atualmente, um trabalho de revisão dos perfis dos egressos, por meio de uma análise das suas competências e de como elas são desenvolvidas nos cursos ao longo dos semestres e em cada disciplina. “Queremos ajustar os objetivos de cada aula ao desenvolvimento dessas competências e, caso identifiquemos problemas na formação, revisaremos os projetos pedagógicos dos cursos”, garante o pró-reitor Paolo Tommasini. A IES acompanha a taxa de empregabilidade por até dois anos após o aluno se formar. Apesar de registrar índices de empregabilidade de cerca de 80% entre os egressos, Tommasini defende que o conceito precisa ser bem definido. “Isso porque um percentual expressivo dos nossos alunos, ou seja, cerca de 10%, inicia negócio próprio ou trabalha de forma autônoma e não busca emprego”, destaca.

Ainda de acordo com o pró-reitor, os dados de empregabilidade dos egressos são comparados a tendências do mercado profissional. De acordo com ele, há 15 anos a universidade decidiu extinguir o curso de fonoaudiologia, em razão dos baixos índices de empregabilidade. “Porém, uma consequência dessa medida é que, hoje, os fonoaudiólogos formados são bastante disputados no mercado”, ressalta. Por essa razão, Tommasini afirma que a formação superior em fonoaudiologia pode voltar a integrar o portfólio de cursos da Anhembi. Já em relação aos alunos, ele destaca que é possível solicitar os índices de empregabilidade de cada curso no ato da matrícula e também no decorrer do ano, junto aos diretores e coordenadores pedagógicos.

Palavra de veterano

Há 20 anos acompanhando a trajetória dos seus egressos, o Centro Paula Souza criou uma ferramenta que permite não somente identificar se os antigos estudantes trabalham, como também se conseguiram emprego na região onde vivem e se usam informações adquiridas na formação. Em funcionamento em 64 Faculdades de Tecnologia (Fatecs), a ferramenta realizou uma pesquisa com 80 mil recém-formados, em 2014, e identificou que 91% dos egressos estavam empregados – sendo 71% na área do curso; 28% dos tecnólogos ganhavam de 3 a 5 salários mínimos; e 25% de 5 a 10 salários mínimos. “Após um ano e meio, repetimos a mesma pesquisa, porém o percentual de respondentes caiu para cerca de 40% do total”, destaca a socióloga Gláucia Manzano Martins, responsável pela área de avaliação institucional do Centro Paula Souza.

Segundo ela, também é realizada uma pesquisa para avaliar as competências da instituição enquanto o aluno ainda estuda. Por meio do levantamento, estudantes, professores, funcionários, diretores e egressos de todas as Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) e Fatecs analisam itens como a adequação do espaço físico e as práticas pedagógicas da escola. “E essas informações são utilizadas para analisar os processos de funcionamento das unidades de ensino, seus resultados e o impacto na realidade social em que se inserem”, comenta.

Com base nos resultados, diretores e professores detectam pontos positivos e negativos de suas unidades e estabelecem estratégias para melhorar o desempenho dos alunos. Além disso, para uma proposta de abertura de um novo curso, são levadas em consideração informações sobre a demanda do mercado de trabalho da região como também os dados fornecidos pelos egressos no WebSai, como é chamada a avaliação anual.

Também preocupado em avaliar a trajetória do egresso com dados que vão além da empregabilidade, o Centro Universitário Senac realiza pesquisas semestrais para identificar se o aluno atua na área em que se formou. Roseli Bernardi, técnica de desenvolvimento profissional, conta que, em estudo feito com os estudantes formados no 2º semestre de 2014, verificou que 68% do total estava empregado; destes, 79% trabalhando na área do curso. Participaram dessa pesquisa cerca de 1,3 mil pessoas, sendo que 733 do total responderam aos questionamentos. Conforme Roseli, a empregabilidade é um dos itens que a instituição avalia em suas formações e os dados obtidos são utilizados como instrumento pedagógico, contribuindo para a reformulação das práticas, dos conteúdos, além de subsidiar o desenvolvimento de novos cursos e produtos educacionais. “O estudante também pode solicitar o atendimento personalizado do coordenador de curso e pedir o índice de empregabilidade de sua formação”, conclui a técnica do Senac.

Algumas estratégias das IES para medir e aumentar a empregabilidade
■ Criação de portais para aproximar candidatos a postos de trabalho;

■ Uso de DataBase para adequar perfis às vagas;

■ Medição do número de ex-alunos empregados;

■ Medição do percentual de alunos empregados na área de formação;

■ Divulgação do nível de empregabilidade por curso para os candidatos a pós-graduação;

■ Criação de grupos para acompanhar ex-alunos e alunos no LinkedIn;

■ Convênios para estágios;

■ Criação de central de estágios, com consultoria personalizada para processos seletivos;

■ Programas de coaching de carreira.

 

Autor

Redação Ensino Superior


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