Colunista

Campus inteligente

Com o apoio do MIT, Facens desenvolve soluções para otimizar o uso de recursos naturais no campus e melhorar aspectos como qualidade de vida e mobilidade

inteligente2 Alunos e professores envolvidos nos projetos do Smart Campus Facen
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Painéis de captação solar produzem 15% da demanda mensal de energia da faculdade

Neste ano as contas de energia elétrica da Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens) estarão mais baratas. E a razão desta economia, em tempos de crise, não tem relação alguma com as tarifas cobradas pela operadora, e sim com um projeto ambicioso que tem como alicerce o empreendedorismo e o uso intenso das tecnologias. Com dois anos de existência, o Smart Campus Facens já é um programa consolidado. Seguindo os preceitos das denomin
adas cidades inteligentes, seu objetivo principal é aproximar os alunos – com apoio do corpo docente – das práticas mais modernas e, com isso, desenvolver soluções criativas, inovadoras e sustentáveis. Foi justamente assim que, ao tirar do papel um projeto de iniciação científica, a faculdade obteve redução de 60% no consumo de energia apenas na troca de suas antigas luminárias por lâmpadas de LED.

Para mensurar a dimensão do programa, o projeto mencionado acima é apenas uma parte do braço de Energia, seção que integra o Smart Campus juntamente com mais sete eixos: Educação, Indústria e Negócios, Meio Ambiente, Mobilidade e Segurança, Saúde e Qualidade de Vida, Tecnologia da Informação e Comunicação e, por último, Urbanização. Todos eles são desenvolvidos por grupos de trabalho, com professores e alunos, e quase que a totalidade dos recursos é provisionada pela própria faculdade. Ou seja, o foco não é um retorno financeiro e sim, a qualidade de ensino e a possibilidade de uma formação acadêmica voltada para o futuro.

Com apenas dois anos de existência, o programa já ganhou reconhecimento dentro e fora do país. O Smart Campus Facens recebeu o prêmio GS1, promovido pela Associação Brasileira de Automação, na categoria Educação, em novembro de 2016. No mês seguinte, em dezembro, foi o vencedor do Top Educacional Professor Mário Palmério, concedido pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), e, mais recentemente, em fevereiro deste ano, foi destaque na categoria Educação da conferência Smart Cities UK 2017, realizada em Londres.

Mas todo esse resultado só foi possível graças ao empenho da instituição e, principalmente, a uma parceria internacional que viabilizou a elaboração do Smart Campus. Tudo começou no primeiro semestre de 2014 após uma reunião entre professores. O diretor da Facens, Paulo Roberto Freitas de Carvalho, recorda que a instituição já vinha percebendo a necessidade de formar engenheiros com maior entendimento sobre cidades inteligentes e começava a desenhar um modelo a ser implantado. Entretanto, o desenlace dessa história ocorreu quase que por acaso, após a visita de um funcionário da Google. O americano comentou sobre a existência de um programa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em que os alunos de MBA desenvolviam soluções que pudessem ser aplicadas de forma concreta e rápida. Era o chamado Global Entrepreneurship Lab, ou apenas G-Lab.

instalação-luminária

Consumo de energia também caiu 60% com a substituição das antigas luminárias

Com uma agenda apertada, a Facens montou um grupo de trabalho interdisciplinar e começou a formatar a base do projeto. Em apenas dois meses, o time de professores elencou as principais ações, incluindo algumas que já vinham sendo desenvolvidas na instituição, como, por exemplo, um protótipo de um Sistema Solar Fotovoltaico destinado à captação de energia limpa. Após ser submetido, ainda no mês de setembro, o projeto foi aprovado pela renomada universidade americana e, no início de 2015, começou a ser executado. Ao todo, quatro alunos – dois japoneses e dois chineses – da pós-graduação do MIT se dedicaram ao desenvolvimento do Smart Campus. Nos três meses iniciais o trabalho foi feito a distância e, por fim, a equipe de engenheiros asiáticos veio ao Brasil para um último mês de atividade presencial.

Em busca de referências
O primeiro passo, conta Paulo Roberto de Carvalho, foi a realização de uma abrangente pesquisa de referências com o intuito de apontar o que vinha sendo feito pelas instituições de ensino, em relação ao tema, mundo afora. O diretor lembra que uma universidade de Fukushima – a mesma cidade que sofreu o acidente nuclear em 2011 – estava desenvolvendo um projeto para tornar seu campus eficiente em energia. Entretanto, as pesquisas se alinhavam apenas em um eixo e não foi encontrada nenhuma referência com uma proposta tão ampla. “Acabamos sendo pioneiros neste desenvolvimento em todas as áreas. Nosso conceito inicial, e praticado até hoje, era usar o campus como um laboratório vivo. E estamos sendo bem-sucedidos. Ganhamos três prêmios importantes e, atualmente, a maior parte dos nossos trabalhos de conclusão de curso (TCC) é voltada ao Smart Campus”, avalia Carvalho.

No primeiro ano de atividade, as soluções para a área de Infraestrutura foram priorizadas. Um dos destaques foi o cabeamento de fibra ótica e a disponibilidade de sinal de Wi-Fi em todas as áreas de convivência da faculdade. Já em 2016, o projeto passou por revisão, delineou melhor os objetivos de cada eixo e ampliou o número de ações. Sob o comando de Regiane Relva Romano, que assumiu o cargo de coordenadora, a iniciativa ganhou ainda mais relevância. A área de Energia voltou a se destacar com o já mencionado Projeto do Sistema Solar Fotovoltaico, que, mediante painéis de captação solar, produz 15% da demanda mensal de energia da faculdade e tem como meta, num futuro não tão distante, torná-la autossuficiente.

Alunos e professores envolvidos nos projetos do Smart Campus Facen

Alunos e professores envolvidos nos projetos do Smart Campus Facen

Atividades ligadas à conservação do meio ambiente obtiveram protagonismo nesse segundo momento. Para melhorar a qualidade do ar e reduzir as taxas de emissão de dióxido de carbono (CO2) – um dos principais gases que promovem o efeito estufa –, o programa pensou numa solução criativa para diminuir o número de carros no campus: um aplicativo de carona solidária. O app verifica onde os alunos moram e sugere caronas com pessoas que estejam próximas. E para incentivar o uso, a ferramenta dá créditos que podem ser convertidos em descontos em instituições parceiras, como postos de gasolina e restaurantes.

Nessa mesma área, o programa apostou na criação de uma estação meteorológica destinada a aferir e gerar dados sobre o clima dentro do campus. A ideia é economizar água ao regar gramados e jardins somente quando não houver previsão de chuva num período de três dias. E a meta vai além. Os índices de precipitação serão encaminhados a um sistema de supervisão – ainda em fase de elaboração –, que irá monitorar os diversos indicadores, como o de consumo de água e energia, e com isso tornar a gestão do campus mais inteligente.

Um dos integrantes da equipe de trabalho de supervisão é Victor Navarro Alonso, 22 anos. O aluno do curso de engenharia de produção aproveitou as portas abertas do Smart Campus e desenvolveu um protótipo de Indústria 4.0 – conceito que aplica diversas tecnologias, como internet das coisas e computação em nuvem, para a automação industrial. A proposta foi apresentada na Semana da Engenharia e, posteriormente, Victor foi convidado pela coordenação para dar andamento ao projeto. Seu objetivo é criar um laboratório dedicado ao tema na faculdade. E para isso as oportunidades se abriram. Além de estabelecer contato com diversos fornecedores, Victor pôde visitar uma feira internacional em Chicago, nos Estados Unidos, e ter acesso ao que há de mais moderno em tecnologia aplicada à indústria. Para ele, essa possibilidade de interagir com pessoas importantes do mercado é um dos grandes legados do Smart Campus. “Aqui recebemos visitas de vice-presidentes de multinacionais. Uma oportunidade dessas, muitas vezes, você não vai ter nem mesmo estando dentro de uma empresa”, afirma Victor.

Investimento alto
Mas tudo isso tem um preço, e não é baixo. Conforme o diretor da Facens, Paulo Roberto de Carvalho, a instituição despende anualmente, em média, R$ 1,5 bilhão para a manutenção e desenvolvimento dos projetos do Smart Campus. Essa cifra corresponde a 3% da receita da faculdade, isso sem incluir os custos indiretos. Assim, a realização do programa só foi possível graças à vontade e ao empenho da mantenedora, que apostou na ideia e aportou os recursos necessários. “Todo o retorno que temos é indireto. É o nome da Facens sendo divulgado. É a satisfação dos nossos alunos. São as parcerias feitas. Não temos retorno financeiro. O objetivo é oferecer uma melhor qualidade de ensino. A Facens nunca foi conhecida fora da região de Sorocaba. Já formamos 4,5 mil engenheiros nos últimos 40 anos e essa é a primeira vez que vendemos a marca para fora da região”, destaca o diretor.

Por: | 02/05/2017


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