NOTÍCIA

Ensino edição 220

De olho nos expatriados

Polos presenciais em países como Estados Unidos, Japão e Portugal atraem brasileiros em busca de qualificação profissional

Publicado em 19/06/2017

por Daniel dos Santos

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Os motivos são muitos: crise econômica, busca de um lugar mais seguro, transferência no trabalho, oportunidade de aprender um novo idioma. Seja qual for a justificativa, o fato é que há um grande contingente de brasileiros deixando o país. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, eles somam mais de 3 milhões e estão espalhados por países como Estados Unidos, Japão, Portugal, Austrália, Inglaterra e Angola. E os números podem ser maiores, uma vez que muitos vivem no exterior de forma ilegal.

Atentas a essa realidade, algumas IES estão investindo em polos de apoio presenciais no exterior para atender aos expatriados que, por falta de tempo para estudar na modalidade presencial, dificuldade para arcar com os altos custos de uma faculdade no exterior ou mesmo por não terem muita familiaridade com o idioma do novo país, preferem se matricular em uma instituição brasileira.

Uma das primeiras a identificar essa necessidade, a Universidade Católica de Brasília (UCB) criou seu primeiro polo presencial no exterior em 2005, no Japão, ampliando a experiência depois para Angola, em 2006, e para os Estados Unidos, em 2009. No portfólio, constam 22 cursos de graduação e pós-graduação.

“Notamos uma demanda, que cresce a cada ano, de brasileiros que vivem no exterior”, destaca Regina Maris Pinheiro D’Azevedo, coordenadora-geral de educação a distância da UCB. “Os brasileiros procuram se qualificar para se inserir mais facilmente no mercado de trabalho”, explica. Para captar alunos, a instituição investe em ações locais em rádios e revistas, além de publicidade em emissoras brasileiras em seus canais internacionais. Há ainda ações diretas nas comunidades, além de investimento em internet, com uso inclusive de redes sociais.

Morador há dez anos da cidade de Watertown, próximo a Boston, o paulista Vanderlei Correa dos Santos, de 30 anos, foi para os EUA em busca de uma situação financeira melhor. Em solo norte-americano, ele foi ajudante de pedreiro e trabalhou em um posto de gasolina, entre outros empregos. Atualmente, ele cursa o 8º semestre do curso de Pedagogia da UCB e já dá aulas de português para filhos de brasileiros nascidos nos Estados Unidos. “Pretendo fazer pós-graduação nessa mesma modalidade e voltar ao Brasil daqui a alguns anos”, conta Santos, que afirma ter escolhido o curso pela flexibilidade de horários. “Como todo imigrante, trabalho muitas horas semanais. A educação a distância permite que eu crie meu horário de estudos”, explica.

Além do alto custo das faculdades norte- americanas, ele destaca questões legais para a decisão. “As universidades americanas exigem o status imigratório legal ou que pelo menos o candidato possua o social security (semelhante ao CPF brasileiro)”, detalha o aluno, que tem o privilégio de levar apenas 20 minutos para chegar ao polo de seu curso.

Já seu colega de universidade, João Marcos Ribeiro, de 32 anos, que mora em Nova Jersey, costuma dirigir por cerca de quatro horas para chegar ao polo. Aluno do 6º semestre do curso de Ciências Contábeis, ele faz essa viagem três vezes a cada semestre. “Sempre tive o sonho de ter um diploma. Mas quando cheguei aos Estados Unidos, vi que as universidades eram muito caras, cerca de três vezes uma graduação no Brasil”, conta Ribeiro, que começou pelo curso de Administração, depois fez pós em Gestão de Pessoas e agora cursa Ciências Contábeis, tudo a distância. “E não pretendo parar por aqui”, ressalta. Na UCB, os valores cobrados no exterior são mais altos. Nos EUA, elas custam R$ 799,49; no Japão R$ 851,09; e em Angola, R$ 917,76, tudo convertido na moeda local.

Segundo o MEC, ainda não foram divulgados dados sobre o número de brasileiros que residem no exterior e fazem graduação em IES brasileiras. Porém, esses dados encontram-se em fase de consolidação e, posteriormente, serão encaminhados ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Inep, para constar nas próximas estatísticas educacionais.

Na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), a demanda de brasileiros residentes no exterior esteve presente desde o início das atividades da EAD, há 17 anos. Em função de uma parceria com as Forças Armadas, jovens enviados em missão para outros países, como o Haiti, puderam continuar os estudos a distância e realizar as avaliações presenciais nas unidades militares nas quais atuavam.

“Isso foi possível em virtude de convênio em que a Unisul e as organizações militares compartilhavam as responsabilidades de infraestrutura e logística da operação”, explica Roberto Iunskovski, coordenador da área de ensino e inovação pedagógica da pró-reitoria de ensino, pesquisa, pós-graduação, extensão e inovação da Unisul. Porém, devido a uma mudança na regulação, esse tipo de convênio foi descontinuado, pois não atendia a alguns requisitos relacionados à estruturação dos polos de apoio presencial.

Agora, a Unisul planeja criar polos fora do Brasil com o objetivo de consolidar a internacionalização da universidade. “A Unisul estuda especialmente a estruturação de um polo no continente africano, inicialmente em países de língua portuguesa, como Angola. Além da população local, há muitos brasileiros que residem nesses países e podem ter a oportunidade de realizar seus estudos, seja uma primeira graduação, atualização, aperfeiçoamento ou mesmo em cursos de especialização lato sensu”, afirma Iunskovski.

Estrangeiros descobrem a EAD brasileira
Unidos pela língua portuguesa, e de olho em mais opções de cursos, muitos estrangeiros também descobriram as IES brasileiras, como Paulo Sérgio Manso de Sousa, que cursa o último módulo da pós-graduação em Educação Financeira oferecida pelo Centro Universitário do Sul de Minas em parceria com a DSOP, responsável pela metodologia de ensino. “Nenhuma universidade no meu país oferece pós nessa área”, afirma Sousa, que trabalha em um projeto para o Banco Central de Moçambique. A cada três meses, ele viaja para a cidade do Porto, em Portugal, para realizar as avaliações presenciais.

“Fazer esse curso não era apenas um desejo, mas sim uma necessidade para melhor corresponder às expectativas do meu serviço e prestar um trabalho mais coerente”, destaca Albertina Mancoca, angolana de 40 anos que mora em Luanda e trabalha no Banco Central do seu país. “Meu trabalho sofreu uma transformação. Criou-se uma divisão dedicada à educação financeira, uma matéria totalmente nova no departamento e recente no país”, explica ela.

O curso de pós-graduação em educação financeira foi estruturado em maio de 2014 e conta, no total, com mais de 300 alunos matriculados até hoje, sendo seis deles estrangeiros. “Já esperávamos um interesse por pessoas também do exterior, pois temos uma unidade nos Estados Unidos que indicava isso. A educação financeira nunca se fez tão necessária, especialmente devido ao cenário econômico mundial instável e aos altos níveis de inadimplência”, destaca Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros e da DSOP Educação Financeira, que atualmente mantém parceria com a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste).

Os angolanos despontam como os estrangeiros que mais utilizam cursos de IES brasileiras no exterior. “Já formamos mais de mil estudantes de Angola”, conta Regina, da UCB, que explica que a estrutura curricular é a mesma para os estrangeiros. “Nossas turmas são formadas por estudantes de todos os polos, Brasil e exterior. Há assim uma interação entre eles, com troca de informações, e formação de grupos de trabalhos.”

Regulamentação
De acordo com o MEC, a IES pode obter o credenciamento de polos presenciais no exterior no momento em que fizer o pedido de autorização para a oferta de curso EAD ou, se já for credenciada, por meio de processo de aditamento de credenciamento de polos presenciais. Sobre as exigências técnicas, a infraestrutura física, tecnológica e os recursos humanos (professores, tutores, funcionários) do polo devem estar de acordo com o Projeto de Desenvolvimento Institucional (PDI), o Projeto Pedagógico do curso a ser ofertado e com as diretrizes curriculares, elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) (leia mais na pág. 34).

E como fica a fiscalização dos polos no exterior em países tão distantes? Segundo o MEC, a avaliação fica a cargo do Inep, que pode enviar agentes do banco de avaliadores Sinaes-Basis, representantes brasileiros em embaixadas e até pesquisadores em cursos financiados pelo CNPq. Há ainda outras opções, como a avaliação por videoconferência.

Autor

Daniel dos Santos


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