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Despedida

Fazem pouco caso as horas que se vão; carregam as promessas jamais cumpridas

Publicado em 10/09/2011

por Julio Groppa Aquino

Todas as manhãs do mundo são sem volta. Todas elas, sem volta. Todas as manhãs e tardes e noites, e manhãs outra vez. Todas e cada uma, sem volta.

Sem volta são também as madrugadas, idênticas às manhãs que as sucederam e as sucederão. Uma a uma, repetem-se em silêncio, mas se repetem estranhamente. Repetem-se invertidas, pois não voltam. Nenhum, nenhum retorno.

E sem volta são as manhãs seguintes, e todas as outras. Inapelavelmente, sem volta. Não retornam os alvoreceres, nem os meios-dias, menos ainda as meias-noites. Recusam-se a regressar os poentes, os nascentes e tudo o que jaz entre eles.

Todas as manhãs, iguais a todas as tardes, todas as noites, todas as madrugadas. Pelas metades, inteiras ou aos pedaços, elas não voltam jamais.

Não voltam os meios das manhãs, nem seus princípios, tampouco seus termos.

Manhãs maciças, fugazes, azuis ou brancas, todas se esvaem impunemente. Nunca hão de voltar seus interregnos, intervalos grávidos de tempo, espaços ocos de haver. Não voltam, não voltam.

E não voltam as manhãs de inverno, as de verão. Não voltam jamais. Tampouco retornam aquelas manhãs cálidas, parcas, para sempre perdidas na turvação da memória. E não voltarão as outras, improváveis, que ainda restam.


Julio Groppa Aquino Professor da Faculdade de Educação da USP juliogroppa@editorasegmento.com.br

Fazem-nos pouco caso as horas que se vão. Vão-se e arrastam tudo consigo. Carregam as promessas nelas embutidas e jamais cumpridas. Radical e atávica impermanência. Arrastam igualmente os olhares cúmplices que as testemunharam. Impermanecem, eles, junto a suas manhãs, lado a lado. Elas que existem apenas para nos lembrar que não regressarão jamais. E não apenas as manhãs, mas as tardes, as noites e as madrugadas. Não voltam porque são sem volta. Inapelavelmente, sem volta. Não voltam e não hão de voltar.

Mas, mesmo fadadas a não voltar, elas não desapareceram ainda. Partiram agora mesmo, mas, como por engano, ameaçam voltar sob formas insustentáveis: 7:29, 11:46, 8:37, 10:15 – cifras obtusas de uma matéria crepuscular, encarnada em manhãs outrora habituais.

Já não voltam aquelas manhãs, nem as tardes, nem as noites, menos ainda as madrugadas. Não voltam, não voltam. Não voltam jamais. Nem uma sequer.

Todas as manhãs do mundo são sem volta. Todo gesto é sem volta. Toda palavra é sem volta. Todo sacrifício é sem volta. Porque todas as manhãs do mundo são sem volta. Todas elas, sem volta. Pelas metades, aos pedaços ou inteiras, elas não voltam jamais.      

P.S.:
À revista Educação e aos seus leitores, minha gratidão infinita.

Autor

Julio Groppa Aquino


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