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Ensino edição 257

Desafios das IES na formação de professores bilíngues

Preparar futuros professores para estarem inseridos em um novo perfil de sociedade com tanta volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade não é uma tarefa fácil, mas a necessidade de uma formação específica para o contexto bilíngue é um imperativo

Publicado em 24/09/2021

por Redação Ensino Superior

formação de professores bilíngues Foto: Envato Elements

formação de professores bilíngues
Foto: Envato Elements

Por Karina Fernandes*
Durante uma das aulas no curso de extensão sobre plurilinguismo e educação global voltado para estudantes, professores, pedagogos, coordenadores e diretores atuantes ou interessados em contextos bilíngues, multi e plurilíngues, notou-se uma grande quantidade de relatos sobre a necessidade de uma formação de professores mais específica. Como estratégia de ensino, utilizamos a ferramenta swot com o intuito de analisar os diferentes contextos educacionais dos participantes do curso.

Alguns testemunhos chamaram a atenção: de um lado, coordenadores e gestores de educação básica mencionando “não conseguimos encontrar profissionais altamente qualificados para lecionar em nossas escolas”. De outro lado, uma fala comum dos professores: “Não me sinto totalmente preparado(a) para atuar em contexto bilíngue, por isso procurei este curso”. Ou ainda, um discurso recorrente de professores que já cursaram ou estão cursando uma segunda graduação: “Sinto a necessidade de aperfeiçoamento profissional na área. Apenas uma graduação não contempla tudo o que precisamos para atuar em contextos bilíngues desde a educação infantil até o ensino médio”.

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Esses testemunhos fazem perceber que, na tentativa de se adaptar ao novo perfil de sociedade, as escolas de ensino básico, como que em um movimento de avalanche, repensaram seus currículos e modo de oferta de ensino bilíngue. Porém, os profissionais da linha de frente desse novo contexto encontram-se despreparados, não apenas por questões de conhecimento específico, mas também por não atenderem aos requisitos legais exigidos para lecionar em cada segmento. Não basta apenas que gestores e empreendedores remodelem as escolas; é preciso que as universidades estejam alinhadas, e à frente dessa nova demanda. E ainda, que as escolas se preparem para enfrentar também as exigências referentes à formação de seus professores.

O que se encontra no cenário atual são as seguintes opções:

A) Cursos de licenciatura de áreas específicas formando profissionais para atuarem nos segmentos do ensino fundamental 2, médio e técnico, com o objetivo principal de abordar questões referentes às suas áreas específicas, além de contemplar diversas questões formativas para que os profissionais possam atuar em diferentes contextos dentro de um escopo de conhecimento;

B) Cursos de pedagogia habilitando seus egressos a se inserirem na educação infantil e fundamental 1, focando atuação principalmente na formação pedagógica. Não há uma crítica ao modo como se tem feito especificamente em cada curso. A discussão está na ausência de uma adaptação, para que se tenha uma formação integral do profissional que possui interesse em trabalhar na educação bilíngue.

Entende-se que ainda há profissionais que irão atuar em áreas específicas de cursos de formação nos moldes atuais, porém, não podemos negar que os interessados em contextos bilíngues ainda não estão inseridos no atual quadro de ofertas de cursos de graduação. Diante desse cenário, faz-se necessária a abertura de um curso de graduação que, em sua amplitude, forme profissionais capacitados para atuarem desde a educação infantil até o ensino médio.

Com conhecimentos específicos de suas áreas, porém compreendendo os processos cognitivos da aprendizagem, bem como as teorias educacionais, e possuindo conhecimento de língua de instrução a ponto de poder transitar entre os diferentes segmentos de forma mais fluida.

Enquanto as universidades estão em processo de reelaboração de seus cursos em prol da inclusão de conhecimentos referentes à formação desses profissionais, como medida emergencial, os cursos de extensão ganharam maior importância no início deste ano, principalmente, após aprovação pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) das Diretrizes Nacionais para a Educação Plurilíngue no Brasil (Parecer CNE/CEB de nº 2/2020).

As exigências do parecer

Segundo o artigo 10 desse parecer, para os professores formados ou em formação iniciada até o ano de 2021, e que irão atuar em escolas bilíngues, será exigida a graduação em pedagogia ou em licenciatura específica da área de atuação; a comprovação de proficiência de nível de conhecimento da língua de instrução; e a formação complementar em educação bilíngue, sendo ela realizada por um curso de extensão de no mínimo 120 horas, ou pós-graduação lato sensu; mestrado ou doutorado reconhecidos pelo MEC.

Já dos professores que irão iniciar a sua formação em 2022, será exigida uma graduação específica, ou seja, pedagogia para educação bilíngue ou licenciatura na área específica para educação bilíngue. Os cursos de extensão e pós-graduação, lato sensu, continuarão fazendo parte do aperfeiçoamento profissional dos professores, como sempre, visto que há necessidade de formação continuada desses profissionais, como demandam as demais profissões do mercado em geral.

Preparar futuros professores para estarem inseridos em um novo perfil de sociedade com tanta volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade (VUCA) não é uma tarefa fácil, mas a necessidade de uma formação específica para o contexto bilíngue é um imperativo, e 2021 será o ano em que as universidades deverão repensar suas ofertas, a fim de estarem mais bem preparadas para atender a essa demanda.

Karina Fernandes é doutora em estudos linguísticos, professora do curso de letras português-inglês; coordenadora do curso de especialização em multilinguismo e de extensão em plurilinguismo e educação global na PUCPR

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Redação Ensino Superior


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