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Formação

Número de idosos matriculados em cursos de graduação aumenta 46,3%

Entre 2013 e 2017, na faixa de 19 a 24 anos, a expansão foi de 15,4%

Publicado em 16/09/2019

por Marta Avancini

idosos-ensino-suoperior Em 2012, havia 25,4 milhões de pessoas com 60 anos

Aos 71 anos, José Ignácio Castro da Silva está cursando o segundo ano de licenciatura a distância em História. Ele faz parte do grupo das 7.813 pessoas com 65 anos ou mais matriculadas num curso de graduação no país, segundo o Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).

O número pode parecer pequeno no universo de matrículas na educação superior – cerca de 8,2 milhões –, no entanto, esta é a faixa etária que apresentou maior crescimento desde 2013: 46,3%. No mesmo período, as matrículas de jovens entre 19 e 24 anos, por exemplo, aumentaram 15,4%, atingindo a marca de 3,9 milhões em 2017. O crescimento médio, considerando todas as faixas etárias, foi de 13,2%.

Leia: O valor da educação para a geração Z

Os dados relativos aos ingressantes também são significativos: o número de alunos novos nessa faixa etária dobrou em quatro anos, passando de 1.452 em 2013 para 2.932 em 2017.

“A presença de idosos está se tornando comum, especialmente nos cursos a distância. E deverá aumentar em decorrência do envelhecimento da população brasileira”, analisa Simone Telles, diretora acadêmica da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). A rede pública foi a que mais cresceu em número de matrículas: 

Projeções do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que, em 2030, a população de pessoas com 60 anos ou mais será maior do que a de crianças com até 14 anos.

Em 2017, eles chegaram a 30,2 milhões, revelou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua / IBGE).  As mulheres são maioria expressiva nesse grupo, com 16,9 milhões (56%). “Não só no Brasil, mas no mundo todo vem se observando essa tendência de envelhecimento da população nos últimos anos. Ela decorre tanto do aumento da expectativa de vida pela melhoria nas condições de saúde quanto pela questão da taxa de fecundidade, pois o número médio de filhos por mulher vem caindo. Esse é um fenômeno mundial, não só no Brasil. Aqui demorou até mais que no resto do mundo para acontecer”, explica a gerente da Pnad Contínua, Maria Lúcia Vieira.

Essa melhoria da qualidade de vida permite que eles mantenham um nível de atividade inconcebível algumas décadas atrás. “As pessoas estão chegando aos 60 anos em plena forma intelectual e com grande potencial para permanecer no mercado de trabalho, o que as leva a buscar uma formação ou a fazer uma segunda graduação”, analisa o reitor da Uninter, Benhur Gaio.

A instituição possui cerca de 500 alunos com 70 anos ou mais, a maior parte em cursos a distância. Na Univesp, são 364 alunos com 60 anos ou mais.

idosos no ensino superior
Em 2012, havia 25,4 milhões de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil. Ou seja, em cinco anos, essa população cresceu 18% (foto: Shutterstock)

Avanço na EAD

Os dados mostram ainda que a EAD está crescendo mais rapidamente do que o presencial nessa faixa etária: em um ano (2016 para 2017), houve um aumento de 19% das matrículas a distância ante 3% de crescimento no presencial. Considerando apenas as pessoas com mais de 65 anos, houve aumento de 5% das matrículas no presencial e de 27% a distância.

A maior parte desse público estuda em instituições privadas. Em 2017, havia 21.371 matrículas (presencial e EAD) de pessoas acima de 60 anos. Dessas, 15.915 eram em instituições privadas – ou seja, 74,4% do total. Na educação a distância, o sistema privado também domina, respondendo por cerca de 87% das 9.553 matrículas de maiores de 60 anos em 2017.

À primeira vista, o avanço da presença de idosos na educação a distância parece surpreendente, afinal, trata-se de uma geração menos familiarizada com a tecnologia. Em 2017, 31,1% dos idosos entrevistados pelo IBGE responderam ter acessado a internet pelo menos uma vez nos últimos três meses, enquanto no grupo etário de 20 a 24 anos essa proporção foi de 88,4%. Apesar da grande diferença, as pessoas com mais de 60 anos foram as que mais mudaram seus hábitos em comparação com 2016: elas tiveram o maior aumento proporcional (25,9%) entre os grupos analisados pela pesquisa, a Pnad Contínua TIC 2017. 

Apesar da relativa baixa inserção dos idosos no mundo digital, a experiência demonstra que eles têm aptidão para a modalidade e bom desempenho. “Eles fazem parte de uma geração que cresceu com a televisão e o telefone. Embora a tecnologia não seja necessariamente seu ponto forte, possuem características que se adaptam bem a educação à distância: são focados, sabem trabalhar com metas e objetivos”, elenca Simone Telles, da Univesp.

Por isso, fazem as tarefas e leituras, cumprem prazos e são disciplinados, afirma Alcir Vilela Junior, coordenador de EAD do Senac. “Uma vez superadas as barreiras com a tecnologia, eles têm um bom aproveitamento e desempenho, pois são organizados”, afirma ele.

“Eles são muito aplicados, têm uma voracidade pelo estudo e cobram aprofundamento”, completa o reitor da Uninter.

Essas são os principais diferenciais positivos desse público, na opinião de Tiago Stachon, diretor executivo de Marketing da EAD do Centro Universitário de Maringá (Unicesumar). “Além da experiência de vida, quando resolvem estudar, é uma decisão madura”, reitera Stachon. E, por ser uma decisão madura, as taxas de evasão e de inadimplência são significativamente mais baixas do que nos demais grupos, complementa o diretor de marketing.

O caso de Castro de Silva, o estudante de 71 anos, é um exemplo desse perfil de aluno. Quando jovem, ele interrompeu os estudos após concluir o antigo ginásio (ensino fundamental 2) em 1968 e ingressou no mercado de trabalho. “Apesar de não ter feito faculdade, consegui um bom desenvolvimento profissional na área de informática”, relata Silva, que se aposentou como gerente de TI no hospital da Universidade Federal do Ceará, estado onde mora.

Após a aposentadoria, ele viajou e “viveu a vida” por um tempo. “De repente, senti saudade do conhecimento. Aí decidi voltar a estudar”, diz Silva. Inscreveu-se numa escola que oferece educação de jovens e adultos, cursou o ensino médio e, desde então, não parou mais.

Ele ingressou num curso a distância, mas o abandonou porque achou de baixa qualidade. Hoje é aluno da licenciatura em História na Unicesumar e não pretende parar por aí. “Na verdade, sou apaixonado por biologia, principalmente botânica”, revela.

O desejo de aprender é um dos motivos que levam idosos a fazer um curso superior. A socialização, a vontade de despertar novas (ou antigas) aptidões e de se manter atualizado e contextualizado são outros motivos, detalha Stachon, citando os resultados de um estudo realizado pela instituição, que criou uma campanha para atrair os idosos e o público que está na faixa dos 50 anos.

O resultado da campanha, que ofereceu bolsas de estudo parciais a todas as pessoas elegíveis, é um indicador do interesse dessa faixa etária por educação: ela resultou em cerca de 3 mil matrículas novas.

Outra razão para fazer uma graduação após a aposentadoria é preparar-se para uma eventual volta ao mercado de trabalho. Um estudo feito pelo SPC (Serviço de Proteção ao Crédito ) em conjunto com a CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas) mostrou que 21% dos idosos aposentados exercem uma atividade remunerada para pagar as contas no fim do mês. Nove em cada dez idosos também contribuem financeiramente com o orçamento familiar, revela o estudo

Maria de Fátima Sinieiro, 61 anos, está cursando Pedagogia a distância na Univesp. “Não pude fazer faculdade quando jovem porque era muito caro. Aí comecei a trabalhar, me mudei para São Paulo e me acomodei”, conta Maria de Fátima.

Ela se aposentou como servidora da Prefeitura de São Paulo e voltou para Garça, no interior paulista, onde mora. “Estou fazendo Pedagogia porque sempre quis cursar uma faculdade, mas se aparecer uma oportunidade de trabalho, será bem-vinda”, diz.

Adaptação às plataformas

Embora não seja um empecilho, a adaptação ao meio digital é um desafio que se coloca para os estudantes dessa faixa etária. Por isso, as instituições de ensino adotam vários tipos de estratégias para facilitar o acesso e a permanência desses estudantes.

“Esses alunos desafiam as instituições em vários sentidos, pois não têm, necessariamente, familiaridade com a tecnologia”, diz Vilela Junior do Senac. Para superar a barreira, o centro universitário oferece um programa de ambientação a todos os estudantes da EAD após a matrícula. “É um trabalho que fazemos com todos os alunos, mas é especialmente importante com essa faixa etária.”

A Univesp, por sua vez, aposta no aprimoramento constante do design da plataforma digital, tendo em vista atender todo tipo de aluno e tornando-a o mais acessível possível, especialmente para os idosos e pessoas com deficiência.

Como explica Edson Trombeta, coordenador da Equipe Técnica de Desenvolvimento e Produção de Material Didático da universidade. “Nosso objetivo é garantir acessibilidade ampla e motivar o aluno a entender o ambiente onde ele está para que ele participe.”

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Marta Avancini


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