NOTÍCIA

Ensino edição 237

Inovações acadêmicas: o que aprender com Portugal

Instituições provam que é possível produzir inovações acadêmicas de grande valor para os alunos, ainda que em escala menor. Foco em ciência e tecnologia também se destaca

Publicado em 27/03/2019

por Redação Ensino Superior

portugal-ensino-superior Foto: Shutterstock

Por: Simone Cristina Vianna e
Ana Valéria Sampaio de Almeida Reis (colaboração)*

Todos os educadores que visitam a Alemanha ficam fascinados com seu sistema de formação dual, pois ele aproxima muito as instituições de ensino do mercado de trabalho, gerando benefícios incontáveis para os envolvidos. Como o modelo existe há muito tempo, as instituições alemãs trabalham com ele em níveis tão avançados que sua aplicabilidade em outros países parece, muitas vezes, impossível.

Tive uma percepção completamente diferente quando estive na Universidade do Minho, a UMinho. Localizada em Guimarães, no Norte de Portugal, a instituição fundada em 1973 tem um modelo muito interessante de formação dual – embora eles não utilizem esse nome –, que funciona exclusivamente por meio de um projeto interdisciplinar do curso de Engenharia e Gestão Industrial.

O curso se destaca nacional e internacionalmente por seu método de ensino, a Aprendizagem Baseada em Projetos Interdisciplinares, que, de tão bem-sucedido, é ensinado a outros educadores.  O programa de graduação concentra 7,5 mil alunos, aproximadamente, e sua ênfase está no desenvolvimento de competências técnicas e transversais, entendidas como aquelas necessárias para formar sujeitos profissionais competentes, conscientes e responsáveis. Sua duração é de cinco anos, ao final dos quais o aluno sai com o título de mestre, imprescindível para o exercício da profissão em Portugal.

Ao longo desse período, são realizados sete projetos interdisciplinares e, como mencionado anteriormente, um deles envolve a participação de empresas e indústrias. Junto com um coordenador do projeto, os representantes do mercado elegem os desafios que serão apresentados aos alunos, que passam um dia da semana dentro da companhia.

Para garantir que as competências dos estudantes sejam alcançadas, uma pessoa dentro da empresa é escolhida para atuar como tutor e manter o diálogo com o professor. Essa condição é imprescindível, como ressaltou o professor Ruy M. Lima, que ao lado de Diana Mesquita, ministrou a oficina sobre Aprendizagem Baseada em Projetos Interdisciplinares a um grupo de educadores brasileiros.

Ainda que os alunos não desenvolvam uma solução final, eles trazem ideias muito inovadoras, e isso já é bastante benéfico para os empresários, acredita Lima.

Ciência e tecnologia

Muitas instituições portuguesas também estão se destacando com a realização de pesquisas orientadas às necessidades sociais. Antes de prosseguir, vale esclarecer o impacto que o Tratado de Bolonha teve sobre o sistema acadêmico não só de Portugal, mas de toda a Europa. Como informou a deputada portuguesa Margarida Mano, o compromisso assinado por diversos ministros de Educação da Europa em 1999 estabeleceu como prioridade os investimentos em ciência e tecnologia. Não importa o tamanho da crise financeira, os recursos destinados a essas áreas não cessam.

Uma visita à  Técnico Lisboa, atualmente a maior escola de arquitetura, engenharia, ciência e tecnologia de Portugal, permite comprovar isso. Ligada à Universidade de Lisboa, a instituição tem um de seus laboratórios quase que integralmente financiado pelo governo. Os recursos são usados em projetos de investigação científica e devem resultar em soluções para a humanidade. Pesquisadores de áreas aparentemente distantes, como saúde e engenharia, trabalham juntos. Aliás, o mote School for the world está impresso no cartão de visita do Instituto.

Outra instituição que também trabalha com esse viés é o Instituto Pedro Nunes (IPN), criado em 1991 em Coimbra. Diana Guardado, responsável pelo Laboratory for Automation and Systems (LAS), conta que o espaço “não tem a intenção de ser um produtor de artigos científicos. Quer, na verdade, ser produtor de soluções, respondendo a desafios da sociedade”.  Em outras palavras, eles transferem suas inovações para aqueles que possam fazer bom uso delas, uma concepção que muito alinhada com as práticas do Centro de Inovação Tecnológica / Innnovation Eniac de Guarulhos  (CITIG), instalado no Centro Universitário Eniac em 2017. Lá, academia e mercado também estão trabalhando em sintonia para desenvolver produtos e serviços que atendam às organizações e a comunidade.

O LAS é um dos seis laboratórios do Instituto Pedro Nunes e todos eles são dirigidos por professores da Universidade de Coimbra, com a qual mantêm estreita relação. A universidade é uma de suas financiadoras, bem como o poder público europeu, apesar de o instituto ser privado. Recentemente, um dos produtos desenvolvidos com a participação de mestrandos e doutorandos foi adotado por um spa da Suíça. Trata-se de carro autônomo que transporta os hóspedes dentro do estabelecimento.

Além de realizar investigação, desenvolvimento e transferência tecnológica (esta mediante remuneração, naturalmente), o IPN também oferece formação especializada e faz a incubação e a aceleração de empresas de base tecnológica – atualmente há 41. Entre 1996 e 2017, 294 empresas foram apoiadas, das quais 75% estão em atividade até hoje. O volume de negócio acumulado é de 165 milhões de euros. No entanto, o número do qual o IPN mais se orgulha é o de 2,2 mil postos de trabalho gerados, um indicador expressivo para uma cidade com aproximadamente 100 mil habitantes como Coimbra.

Visitar essas instituições durante o 7º Seminário Internacional de Inovação Acadêmica no Ensino Superior, organizado pela Expertise Educação, foi importante para conhecer melhor o modelo de ensino português e vislumbrar novos meios de conduzir a inovação acadêmica no Brasil.

*Simone Cristina Vianna, assessora de inovação pedagógica do Colégio e Centro Universitário Eniac Ana Valéria Sampaio de Almeida Reis, consultora da Expertise Educação

Portugal inovações acadêmicas

Foto: Shutterstock

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