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O caminho da boa resenha

Usada em atividades acadêmicas e no jornalismo cultural, a crítica a obras exige capacidade de síntese conjugada a uma boa argumentação

Publicado em 10/09/2011

por Geraldo Galvão Ferraz


Cortar excessos do texto é apenas o começo; é preciso capturar o leitor desde o início, buscando equilíbrio e fundamentação em cada comentário

Escrever uma resenha é um excelente exercício de redação. A resenha é a espécie de texto mais usada em atividades acadêmicas e está sempre presente no chamado jornalismo cultural. O que popularmente recebe o nome de "crítica" de livros, filmes, CDs, DVDs, peças teatrais, balés, exposições, shows, nada mais é do que resenhas. Ou seja, sínteses e comentários sobre uma obra artística. Claro, elas podem abranger apreciações sobre livros técnicos, científicos ou filosóficos.

O objetivo da resenha, geralmente, é hoje divulgar o fato cultural e servir ao seu leitor como uma bússola em meio à produção cada vez maior da indústria cultural. Quem entra numa megalivraria abarrotada de milhares de ofertas, tende a sentir-se mais confortável se já leu uma resenha a respeito de tal ou tal livro. Resenhas ajudam na seleção bibliográfica para trabalhos acadêmicos ou científicos, evitando perda de tempo com leitura de livros e mais livros e funcionam para a atualização de estudiosos.

A resenha oscila da síntese para a análise e vice-versa. Será bem-sucedida a resenha que equilibrar essas duas vertentes. Pois, sendo um gênero necessariamente breve, é perigoso o caminho do resenhador parar no buraco negro da superficialidade. Mas, a brevidade do texto, assim como no conto, é o segredo de um estilo que pode ser sedutor, elegante e incisivo.

Há vários nomes para a resenha: resumo, recensão e outros que sempre remetem à idéia de exame abreviado, verificação minimizada de um texto. E resenhar tem tudo a ver com um texto argumentativo, que visa a expressar a opinião do seu autor, supostamente alguém com um referencial de conhecimento capaz de avaliar o que está sob sua visão e possuidor de argumentos que convençam que essa avaliação é correta ou, pelo menos, flua na direção exata. A resenha parece, para o leigo, algo fácil de fazer e, por isso, nos jornais e revistas – onde a pressa é amiga do patrão – há tantas resenhas arrogantes, ruins e levianas.

Como evitar uma, digamos, pisada na bola ao fazer uma resenha? Há várias recomendações dos especialistas, mas talvez a mais importante seja a da humildade. Quem escreve uma resenha é um tipo de filtro entre o fato cultural e o leitor. Estes dois últimos é que importam. Sobretudo para o resenhista-jornalista, é preciso não colocar os seus interesses ou uma visão totalmente subjetiva à frente de tudo. Como dizia o tio do Homem-Aranha, grandes poderes trazem grandes responsabilidades. E, conforme o lugar, resenhistas podem fazer um livro mofar nas prateleiras ou uma peça ser encenada para poltronas vazias.


Usar uma lista de verificação

Para ajudar na síntese do conteú­do da obra, uma lista de checagem da avaliação pode incluir o "assunto", ou seja, do que a obra trata e seu desenvolvimento, os objetivos do autor com seu texto, como evolui o raciocínio do autor, o que geralmente é explicitado capítulo a capítulo.

Se você ainda quiser fazer uma verificação final, após ter escrito a resenha, uma lista de check-in como a dos pilotos que vão fazer um avião decolar, há algumas perguntas que você deve responder:

– Seu texto está adequado ao público para que você está escrevendo?
– Sua resenha mostra que você é uma pessoa que refletiu sobre o texto e tem um repertório suficiente para avaliá-lo?
– Está na resenha o que o autor destacou como importante na sua obra?
– Aqueles elementos essenciais da estrutura da resenha estão todos ali? 
– Suas opiniões estão equilibradas e fundamentadas? Você não cometeu excessos de avaliação?
– Releia para conferir se adjetivos, verbos estão corretos e se não há problemas de correção gramatical no texto


Respeitar o leitor

O resenhista tem de saber exatamente a que público se destina seu trabalho. Uma resenha acadêmica exige um determinado tipo de texto mais culto e permite citações mais complexas. A jornalística requer um texto mais acessível e o cuidado de situar fatos e pessoas com as devidas explicações para um público não tão enfronhado no assunto.

Como a resenha é um texto breve, uma boa dica é capturar o leitor desde o primeiro parágrafo (ou da primeira frase). O melhor é descobrir algo provocativo, intrigante, que agarre o leitor de cara. As resenhas acadêmicas, contudo, seguem um modelo quase padronizado, de ter um cabeçalho informativo sobre os dados bibliográficos da obra resenhada, depois passam para os dados do autor, seu currículo acadêmico, por exemplo.

Para a resenha não-acadêmica, não há tais limites. Identificar algo insólito sobre o texto ou o autor pode ser um modo interessante de começar. Ou falar de um aspecto muito recorrente, como o texto em forma de diário, o filme que conta a história em flashback, o CD que revive standards de uma década afastada…


Equilibrar a síntese

Por ser texto breve, é recomendável usar frases curtas e diretas.Fazer o contrário é dar pijama e travesseiro para o leitor. Não se perca em detalhes demais, porque o espaço é curto. Pense na condição básica: resenha é síntese.

Na estrutura essencial da resenha há certos elementos que não devem faltar. Aonde você irá colocá-los, é questão de gosto e estilo. Sem desprezar o bom senso. Uma menção ao nome da obra e do autor, a descrição do conteúdo da obra, a avaliação, a comparação com outras obras do mesmo autor, tema ou contexto histórico-artístico e uma conclusão que sintetize a opinião de quem escreve. Comparar um livro ou um filme com outros semelhantes – ou diferentes – pode ser esclarecedor na busca de aspectos originais ou vigorosos daquilo que se resenha.

O estilo do autor é outra pista a ser seguida. Da mesma forma que a maneira de construção dos personagens, a avaliação de que eles serão lembrados ou esquecidos em pouco tempo.

Autor

Geraldo Galvão Ferraz


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