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O Nobel da Educação

Quem sabe um dia os educadores possam fazer jus ao prêmio?

Publicado em 10/09/2011

por José Pacheco

Existe o Prémio Nobel da Química, o Nobel da Física, o da Paz. Também temos o da Literatura e o da Economia. Por que não existe um Nobel da Educação?

Os galardoados em Química passaram pela escola, os génios da Economia absorveram as bases do seu saber numa escola. Ou não será assim? Einstein e outros “maus alunos” são a resposta. Se lermos as biografias de grandes vultos da humanidade, concluiremos que quase todos foram grandes, apesar da escola e não devido a ela.

Não será bem assim, mas talvez devamos reconhecer que a escola atravessa uma crise de legitimidade. E que, apesar da sua mesmice, liberta talentos que transformam o mundo e alcançam a dignidade de um Nobel. A escola é uma instituição caduca num modelo de sociedade caduco, mas ainda poderá redescobrir o seu sentido.

A crise da escola resultará do facto de no acto de educar não existir um saber específico? Será porque a Educação deixou de ser factor de desenvolvimento? Consciente de que as oportunidades de sobrevivência digna estarão cada vez mais condicionadas pelas possibilidades de criação e multiplicação de redes de conhecimento, Schwartz resume em três palavras o que a escola (enquanto construção social) deveria considerar como esteios de projecto: rede, conhecimento e cidadania. A prática da maior parte das escolas terá alguma coisa a ver com isso? 

Agências internacionais investem na inovação tecnológica, depreciando as capacidades da pesquisa educacional. Os financiamentos patrocinam, prioritariamente, outras áreas de desenvolvimento humano, porque, apesar dos bilhões gastos em estudos, os resultados são decepcionantes e a pesquisa em Educação é como “saco sem fundo”. Nas últimas décadas, foram esbanjados recursos em “estudos” que nada acrescentaram à qualidade das práticas escolares. Quase todas as pesquisas incidem em escolas onde nada se cria e tudo se copia, produzindo conclusões em circuito fechado. Os pesquisadores adoptam um léxico velho de séculos, jogam com conceitos obsoletos, reinventam terminologias e nomenclaturas, reescrevem literatura de ficção científica: o fosso entre a teoria e a prática mantém-se, ou aprofunda-se.

As práticas dissonantes são meros objectos de curiosidade (nem sempre científica) ou alvos a abater, quando deveriam ser lócus de pesquisa e fonte de inspiração para a mudança. O modelo “tradicional” reproduz-se como uma praga: turmas, aulas, horários uniformes, currículos segmentados em anos e ciclos. Mais “data show” menos pau de giz, em pleno século 21, a escola mantém-se tributária de necessidades sociais do século 19. Desperdiçamos a competência de muitas gerações de professores, mas ainda é possível suster a tendência para, ciclicamente, carpir mágoas. Bastará que se rompa com vícios onde se instalaram as raízes do insucesso. Por que não? Talvez lá para 2050, na Idade da Educação (e tal como Saramago), educadores possam fazer jus à distinção de um Nobel. Quem sabe?


José Pacheco


Educador e escritor, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves (Portugal)



josepacheco@editorasegmento.com.br

Autor

José Pacheco


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