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Origem prática

Movimentos populares, visão crítica dos meios e pedagogia de Paulo Freire estão entre os fundamentos do campo

Publicado em 10/09/2011

por Rubem Barros


Para saber mais Para ler o Pato Donald, de Armand Mattelart e Ariel Dorfman (Paz e Terra, 2002); Extensão e Comunicação, de Paulo Freire (Paz e Terra, 2001) Una Pedagogía de La Comunicación, de Mario Kaplún (Ediciones De La Torre, Madri, 1998)

Cunhado nos anos 80, o termo educomunicação foi utilizado pela primeira vez pelo radialista, pesquisador e comunicador argentino Mario Kaplún (1923-1998), que viveu no Uruguai a partir da década de 50.

Nascido em Buenos Aires, Kaplún cursou o magistério, mas não chegou a exercê-lo na escola formal. Antes de fazer 20 anos, descobriu o rádio e foi fazer programas educativos para uma emissora oficial argentina, no início dos anos 40.

Segundo relata a pesquisadora Maria de Fátima Caracristi no texto “As idéias de Mario Kaplún: fenômeno latino da comunicação educativa”, foi a convite do sociólogo brasileiro Darcy Ribeiro, que em 1974 dirigia um programa das Nações Unidas de apoio ao governo peruano, que ele pela primeira vez exerceu a função docente e, posteriormente, sistematizou suas idéias, que fundiam educação e comunicação. Dessas experiências, resultou mais tarde o livro El Comunicador Popular (Editorial Humanitas, Buenos Aires, 1987).

Segundo Ismar de Oliveira, do NCE da ECA/USP, nesse tempo a idéia de educomunicação ainda partia de uma perspectiva mais “denuncista”, derivada da leitura crítica dos meios feita a partir de uma visão de que estes são instrumentos de manipulação utilizados por quem está no centro do poder, numa linha identificada com a Escola de Frankfurt, dos pensadores Adorno e Horkheimer.

Derivada das práticas dos movimentos populares latino-americanos e da militância política desses grupos nos anos 60, 70 e 80, a educomunicação tem duas bases fundantes, expressas em duas obras de grande repercussão no início da década de 70: Para Ler o Pato Donald, de Armand Mattelart e Ariel Dorfman, e Extensão e Comunicação, do educador brasileiro Paulo Freire.

A primeira resume um aspecto essencial do que se vivia naquele momento, especialmente nos países que estavam sob ditaduras: a força da indústria cultural e a eliminação de muitas vozes dos meios de comunicação, com uma unificação das formas de ler os fenômenos sociais.

“A mídia e a escola silenciavam sobre grandes temas, como o meio ambiente”, relembra Ismar de Oliveira. “Ao mesmo tempo, eram editados mensalmente três milhões de exemplares de veículos nanicos, com cem a mil unidades de cada título, às vezes feitos no mimeógrafo.”

Em seu livro, Freire analisava a convivência de técnicos de assistência agrícola e camponeses no Chile, mostrando como as diferentes fontes de referência dos dois grupos impactavam a interação e refletindo sobre o discurso pedagógico e o conceito de “invasão cultural”.

Nessa época, com a crescente constatação do poder dos meios, a leitura crítica ganhava corpo. Instituições religiosas, na América Latina e nos Estados Unidos, faziam campanhas de natureza moral contra programas de rádio e TV. Pipocavam também estudos psicológicos sobre o impacto da mídia.

Na virada para os anos 80, começa-se a acreditar que a recepção é um processo ativo em que os espectadores, ao confrontar os conteúdos de determinados programas, dão-lhes novos sentidos de acordo com suas vivências e seu contexto cultural.

É nessa época que surge a idéia de educomunicação. “Partia-se de uma nova perspectiva, de uma visão construtivista, que vê o aluno como um sujeito que necessita de ajuda para construir seu processo de recepção da mídia e que precisa se construir enquanto cidadão. Para isso, deve conhecer e experimentar as linguagens para criar critérios de análise”, diz Oliveira. “A educomunicação tem como meta a total dialogicidade, mas sabemos que isso é utopia. Sabe-se que há um papel iluminista da educação”, finaliza.

(Rubem Barros)

Autor

Rubem Barros


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