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Ensino edição 231

Publicidade e preço baixo não garantem matrículas universitárias

Pesquisa aponta que instituições precisam rever suas estratégias de captação para atrair jovens de escola pública. Buscar uma proximidade com os colégios pode ser mais eficaz que os tradicionais investimentos

Publicado em 18/08/2018

por Diego Braga Norte

diploma universitário como algo inviável Maioria dos alunos de escola pública querem ingressar em uma faculdade,porém, para muitos essa expectativa ainda é apenas um sonho (foto:Shutterstock)

Diploma universitário e as dificuldades

Maioria dos alunos de escola pública querem ingressar em uma faculdade,porém, para muitos essa expectativa ainda é apenas um sonho (foto: Shutterstock)

Quase 64% dos alunos da rede pública de Natal, capital potiguar, consideram um curso de graduação como algo prioritário em suas vidas após a conclusão do ensino médio. O resultado, ainda que acima da média nacional de 47%, expressa mais um desejo do que uma real possibilidade, avalia o pesquisador Luís Roberto Rossi Del Carratore, autor de uma pesquisa de pós-doutorado sobre os anseios e expectativas dos jovens natalenses. O mesmo levantamento — feito sob a orientação do professor da FGV e coordenador da Universidade Corporativa Semesp, Marcio Sanches — demonstra que os mesmos adolescentes valorizam também os cursos técnicos. Analisando o cenário como um todo, é possível concluir que não se trata de uma indecisão, mas de uma questão de oportunidades.

“A graduação é um sonho a ser conquistado, porém distante da realidade da maioria. Já o curso técnico é algo mais palpável, por isso a sobreposição de respostas em ambas as possibilidades”, avalia o pesquisador da UFRN. Mesmo que muitos dos estudantes que aspiram a ingressar numa faculdade não consigam realizar seu sonho, o desejo já é algo positivo, pois demonstra que eles entendem a necessidade de continuação dos estudos.

O primeiro passo já está dado, falta agora as próprias IES se movimentarem para corresponder a esse anseio de milhares de jovens das classes C e D — estratos sociais que compõem a maioria dos alunos que estudam em escolas públicas. Sanches afirma que “atrair essa nova classe média é algo que deve ser primordial no planejamento de uma IES privada”, pois foram esses alunos que fizeram o ensino superior crescer no Brasil e “ainda podem contribuir muito mais para ampliar o crescimento”.

O desejo de cursar uma faculdade é tão latente que mais de 80% entre os alunos pesquisados disseram já ter inclusive uma área ou uma carreira de preferência, demonstrando que eles têm objetivos profissionais bem definidos. Eles sabem que “o estudo é algo indispensável para a melhoria da sua condição social e certamente essa constatação impacta na definição por uma área ou carreira profissional a ser seguida”, diz Carratore. E apesar de manifestarem vontade e até preferências mais específicas, os alunos pouco sabem a respeito das IES privadas. O levantamento aponta que, de longe, a UFRN é a universidade mais conhecida, melhor avaliada e também a preferida dos estudantes.

“Considerando que a UFRN não gasta em publicidade, dá para concluir que outras formas de visibilidade ajudam a fixar melhor a imagem de uma instituição na cabeça dos alunos”, pensa Sanches. O professor cita por exemplo as formas de aparição espontânea na mídia, como quando professores e especialistas da UFRN são convidados pela imprensa para opinarem sobre assuntos que dominam. “Há que se reconhecer essa lacuna: as IES não estão se relacionando efetivamente com os seus futuros alunos, particularmente os oriundos das escolas públicas. Há uma carência de visitas e, não raro, o contato estabelecido com a IES ocorreu por ocasião totalmente fortuita e alheio às questões acadêmicas como, por exemplo, no caso de shows e eventos religiosos realizados no espaço físico da IES”, relata Carratore em sua pesquisa. “Vê-se uma acirrada disputa midiática que, conforme observado na pesquisa, não está surtindo tanto efeito nesse público”, complementa.

Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, concorda e é ainda mais incisivo, afirmando que muitas IES “gastam milhões em publicidade que não tem efetividade”.  Todos os especialistas concordam que a carência joga luz sobre lacunas que podem ser preenchidas de uma forma mais inteligente e efetiva do ponto de vista da assertividade da comunicação. Citam como exemplos não apenas as tradicionais palestras e feiras de apresentação que as IES particulares fazem, mas o desenvolvimento de parcerias em projetos educacionais com as escolas públicas. “Assim, além de ficaram conhecidas entre os alunos, as IES poderiam ajudar a melhorar a qualidade das escolas públicas”, pensa Capelato.

O redirecionamento dos investimentos mercadológicos poderia trazer resultados muito satisfatórios de duas formas complementares, explica Carratore, “não apenas trazendo os jovens estudantes para dentro de seus espaços e envolvendo-os de fato com a IES, como também promovendo ações e eventos nas próprias escolas públicas que, pela própria carência de recursos, se mostram sempre solícitas e receptivas às intervenções externas que envolvam seus alunos”.

Fatores de rejeição

A pesquisa também identificou as IES particulares com maior rejeição entre os estudantes. Ao contrário do que o senso comum poderia supor, o valor das mensalidades não é um fator preponderante na boa ou má avaliação de uma faculdade. “As respostas, podem ser concentradas nos aspectos de imagem das IES, tais como: má fama da instituição, problemas relatados com pessoas conhecidas, falta de qualidade da infraestrutura e do próprio corpo docente, dentre outros citados”, enfatiza o pesquisador da UFRN.

O diretor executivo do Semesp reconhece que há problemas de qualidade em um percentual que varia de 10% a 20% das IES, dependendo da região analisada. Ainda que seja preciso buscar melhorias sempre, pesquisas apontam que a simples presença de uma faculdade em determinada área, mesmo uma IES pequena, ajuda a impactar positivamente o IDH (índice de desenvolvimento humano) e a renda per capita na região.  (DBN)

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Autor

Diego Braga Norte


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