NOTÍCIA

Edição 229

Startups proliferam no mundo da educação

Setor educacional passa por uma febre de ofertas de novas empresas de serviços

Publicado em 10/05/2016

por Karin Hetschko

 

Divulgação
Área reservada às start-ups no Bett Educar realizado em 2015. Espaço deverá crescer na edição deste ano

Pode ser um reforço para o aluno fazer da melhor forma a redação do Enem, um programa que incentive o aprendizado de línguas, um auxílio na gestão dos horários dos professores ou até uma ferramenta para o educador trabalhar com realidade virtual em sala de aula. O fato é que a onda de novas empresas com baixo custo de manutenção e alta ambição para inovar e ganhar escala, as start-ups, está proliferando na educação. Prova disso é que ganharão uma área especial na edição 2016 da Bett Educar, o Espaço Bett Brasil Startups.

Sugestões pipocam nas mentes de empreendedores que querem trazer soluções diversas para a educação no Brasil. De acordo com um levantamento realizado por Fábio Josgrilberg, pró-reitor de pós-graduação e pesquisa da Universidade Metodista, de São Bernardo (SP), há entre 200 e 255 start-ups com foco em educação no mercado brasileiro, voltadas tanto à Educação Básica quanto ao ensino superior.

Ideias e boa vontade não faltam. Muitas delas, inclusive, têm o viés de democratizar a educação no país usando a tecnologia da informação como meio. Contudo, conforme alertam os especialistas, para investir em star-tups na área educacional alguns cuidados são necessários.

“Todo mundo acha que entende de educação só porque já foi aluno um dia, mas não é bem assim. Você tem de ter um conhecimento profundo para fazer um produto relevante, que gere impacto e demanda no setor”, observa Anna Laura Schimidt, gerente de projetos da Fundação Lemann. Para a executiva, que coordena o Start-Ed Lab, programa de apoio da Fundação às start-ups da área educacional, muitas ideias são boas, mas não têm aplicação prática. “É como sugerir um plano de reforço de ensino EAD para alunos que não têm acesso à internet”, compara.

Solução X coordenação pedagógica

Fabio Josgrilberg, da Metodista, é um apaixonado pelo tema inovação na área de educação. Não por acaso, atua ativamente no 100 Open Startups, um programa da ONG Wenovate, para conectar pessoas e instituições em torno de programas de inovação. Para ele, o principal desafio da área é chegar a uma solução que combine com a cultura pedagógica das escolas.

“Às vezes, existe um descompasso entre a realidade pedagógica da escola e a realidade da start-up. Há problemas para a escola absorver culturalmente a solução dentro do projeto pedagógico”, explica o educador. Segundo ele, as condições culturais e de infraestrutura da escola precisam ser sempre analisadas antes da aquisição efetiva de uma solução pelo gestor.

“Há ainda outro fator limitante, que é a questão de aculturação dos atores da área de educação ao ambiente virtual”, explica. De acordo com o pesquisador, muitos educadores são conservadores. “E isso não é necessariamente ruim”, pois não há como os professores abraçarem todo tipo de inovação sem antes questionarem se é adequada às demais metodologias em sala de aula.

Se uma escola tiver uma solução interativa, como um game que acelera a aprendizagem, precisa ter metodologias complementares. “O game pode ser muito bacana, gerar engajamento nos alunos, mas é preciso que esteja dentro de um projeto pedagógico”, alerta.

Focar a gestão

Áreas a serem exploradas não faltam no segmento educacional, como provam as diversas start-ups existentes hoje no Brasil. Há soluções de verificação de conteúdos, de reforço escolar, de realidade virtual, de EAD, de gestão de escolas, de comunicação com alunos, com pais, e por aí afora.

Contudo, há áreas que ainda padecem de novas soluções. O segmento de gestão escolar, por exemplo, ainda é pouco explorado. “Não temos no mercado muitas ferramentas que realmente entendam com profundidade a realidade do professor e, principalmente, do diretor da escola”, analisa Anna, da Fundação Lemann.

Uma das poucas start-ups que resolveu apostar nessa área foi a Wpensar. A empresa situada em Nitéroi, no Rio de Janeiro, oferece soluções integradas para os gestores de escola (leia mais no quadro da pág. 69). Como diz o fundador, Bruno Damasco, o foco da Wpensar é facilitar o dia a dia do gestor educacional. “Estamos sempre pensando na boa experiência com o usuário e montando um ambiente de soluções integradas que abranja todas as necessidades da escola conforme ela evolui”, diz.

Damasco explica que a penetração dessas soluções nas escolas do Brasil é ainda incipiente, inclusive em áreas consideradas mais maduras como é o caso dos softwares de gestão. “O desafio das start-ups é mostrar valor ao público-alvo e ter uma rede de distribuição eficiente”, destaca.

Para Márcio Boruchowski, fundador de duas start-ups no segmento da educação, a Hackademia e o Educare, é preciso tomar cuidado para que os gestores de escolas não usem essas novas tecnologias como muleta para todos os seus problemas educacionais. “Por vezes, as pessoas ficam querendo encontrar o Santo Graal das novas tecnologias educacionais, aquela solução que num passe de mágica vai resolver todos os seus problemas”, avalia. O empresário explica que a transformação do uso de ferramentas digitais não ocorrerá da noite para o dia nas escolas. “Foi assim que ocorreu com a indústria fonográfica e na educação vai acontecer a mesma coisa”, diz.

 

© Gustavo Morita
Anna Laura Schimidt, gerente de projetos da Fundação Lemann: é preciso conhecimento profundo em educação para oferecer serviços e produtos relevantes

 Oportunidades e desafios

“O Brasil possui cerca de 50 milhões de alunos na Educação Básica. Essa é uma enorme oportunidade de atingir o público-alvo e gerar impacto positivo na educação”, lembra Anna, da Fundação Lemann. Mas boa parte desse contingente está no setor público, e este é um ponto nevrálgico para qualquer investidor, pois se trata de uma venda demorada e cheia de percalços. “Na grande maioria das vezes essa venda depende de licitação, o que dificulta que o processo de inovação chegue aonde tem de chegar: no aluno da escola pública”, afirma Anna.

A executiva aponta também outro desafio às empresas: o acesso à banda larga nas escolas brasileiras. “A conectividade nas escolas, o uso de banda larga, está entre os obstáculos observados por empreendedores de tecnologia em educação. Muitas escolas estão conectadas numa velocidade muito baixa e, às vezes, a conectividade está acessível apenas nas secretarias, e não para os alunos”, completa. O problema não é exclusivo de escolas públicas das regiões mais afastadas do país. Também ocorre em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.

“Um dos desafios da educação é conseguir uma qualidade muito alta que não seja para alguns, mas para todo mundo”, observa Anna. Para ela, a oportunidade de democratizar o ensino no país está conectada a soluções inovadoras que tenham qualidade combinada com escala. É o que pensa também Boruchowski, do Educare e da Hackademia, para quem a tecnologia tem o poder de democratizar e trazer mais equidade. “As novas tecnologias tornam a experiência mais amigável e prazerosa para alunos, professores e equipe da escola. Com a internet as barreiras geográficas passam a não existir, dando velocidade ao acesso.”

Para Damasco, da Wpensar, por anos a fio a educação evoluiu muito pouco para alunos, professores e diretores. E as start-ups podem ser o diferencial e a ferramenta auxiliar no dia a dia da escola para mudar esse cenário. “A tecnologia não substituirá o trabalho de ninguém, ela facilitará e ajudará a educação a ficar em primeiro plano e brilhar aos olhos da sociedade”, diz.

Mais do que meras fornecedoras de soluções, as start-ups podem ser parceiras de negócios das instituições de ensino, lembra Fabio Josgrilberg. Porém, essa avaliação de que modelo adotar deve levar em consideração os riscos da inovação. “A escola pode comprar o sistema de gestão que já está consolidado no mercado ou apostar na solução de uma start-up cuja oferta é mais customizada, mas que está em fase inicial.”

Quando se fala em inovação, a ideia de experimentação está sempre presente. Mas, obviamente, é sempre possível diminuir os riscos se a escola encontrar parceiros afinados com seu olhar sobre a educação.

 Bett Startups
As start-ups educacionais estarão sob os refletores na edição 2016 do Bett Educar, que será realizado entre os dias 18 e 21 de maio, no São Paulo Expo. No evento, haverá um espaço chamado Bett Startups, trazendo várias empresas e suas propostas de inovação para o setor. No local, será montado um palco em que empreendedores poderão explicar suas ideias para o público e para um corpo de jurados, que avaliará as melhores iniciativas do segmento. De acordo com Márcio Boruchowski, da Hackademia e do Educare, que também é consultor do Espaço Bett Brasil Startups, esta será uma oportunidade única de reunir os empreendedores, educadores e gestores.

“Trabalhamos para que o espaço seja um lugar que possibilite aos visitantes que conheçam diversas soluções na área de educação”, afirma. Para ele, será uma troca de experiências relevante, pois, ao conhecerem as soluções que estão sendo estudadas para o setor educacional, gestores e professores poderão dar contribuições valiosas aos empreendedores para que aperfeiçoem suas propostas. E sairão da feira sabendo com quais inovações poderão contar nos próximos meses.

“Para esses empresários, é uma grande oportunidade. A start-up pode ter a solução perfeita com o preço errado, ou pode ter uma solução pedagógica muito boa, mas a demora e o investimento em capacitação de professores para usá-la podem inviabilizá-la. Lá, eles poderão refinar o modelo de negócios levando em conta os aspectos pedagógico, financeiro e comercial”, destaca Boruchowski.

 

 Sete apostas inovadoras
10 Monkeys
Público-alvo: Professores
Os jogos e as atividades da 10monkeys foram desenvolvidos para servir de ferramentas para o ensino da matemática a alunos da Educação Básica, desde a pré-escola. Os jogos da solução podem ser usados em sala de aula como material complementar às aulas.
Site: www.10monkeys.com/ptElefante Letrado
Público-alvo: Alunos do ensino infantil (de 3 a 10 anos)
Biblioteca digital on-line com livros e jogos educativos. Projetada para motivar o interesse e a evolução na leitura, a biblioteca é dividida em níveis progressivos de acordo com as habilidades de leitura, compreensão e interpretação de cada criança.
Site: www.elefanteletrado.com.brTamboro
Público-alvo: Professores
Desenvolve soluções lúdicas para melhorar o desempenho dos alunos em sala de aula. Todos os games são construídos a partir da adaptação do currículo escolar de cada instituto de educação.
Site: www.tamboro.com.br

Veduca
Público-alvo: Alunos
O Veduca reúne mais de 5 mil aulas de universidades internacionais como Harvard, Standford, Yale, Princeton e UCLA, além de brasileiras como USP, Unesp e Unicamp.
Site: www.veduca.com.br

Educare
Público-alvo: Alunos
Oferece aulas particulares (videoaulas) de reforço escolar para potencializar os estudos dos alunos do fundamental II e ensino médio.
Site: www.educare.com.br

Duolingo
Público-alvo: Alunos
É uma ferramenta on-line para aprendizagem gratuita de idiomas presente em todo o mundo. O serviço proporciona diversas combinações de idiomas, oferecidas por parceiros locais. Em português, há oferta de cursos de inglês, espanhol, francês e alemão.
Site: https://pt.duolingo.com/

Wpensar
Público-alvo: Gestores
Soluções integradas de gestão escolar. Entre os softwares de gestão que a empresa fornece estão soluções para matrícula dos alunos (que pode ser on-line), controle de cobranças, controle de boletins, montagem de quadro de horários e até a comunicação escolar via aplicativos e portal.
Site: www.wpensar.com.br

 

Autor

Karin Hetschko


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