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A busca do conhecimento

A oferta de pós-graduação em educação mais que dobrou em 10 anos no Brasil. Novas linhas de pesquisa e especializações remodelam o setor, que vive tensões entre visões acadêmica e mercadológica

Publicado em 10/09/2011

por Diego Braga Norte

Nos últimos 10 anos, o número de programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em educação oferecidos no Brasil aumentou de 36 para 86. O crescimento superior a 138% em apenas uma década é um indício claro do desenvolvimento do setor, que vem se modificando, se ramificando e atraindo profissionais não só da educação, mas também oriundos de outras áreas do conhecimento. Os números relativos à expansão dos programas de pós-graduação lato sensu (especialização e extensão) são controversos, mas especialistas são unânimes em afirmar que também apresentaram crescimento vigoroso. Edson do Carmo Inforsato, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Unesp de Araraquara, estima que haja no Brasil ao menos 2 mil cursos de pós-graduação lato sensu relacionados à educação.

Especialistas apontam que a Lei de Diretrizes Básicas (LDB) de 1996, que estipulou que todos os professores de educação infantil e de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental teriam de obter no mínimo a graduação em pedagogia, pode ter estimulado o crescimento da oferta das pós-graduações em educação. “Ainda não vi nenhuma pesquisa comprovando isso, mas certamente pode haver uma correlação. Houve uma profusão na procura por cursos depois da segunda metade dos anos 90. De 1996 até 2005 e 2006, houve um boom de ofertas”, diz Inforsato. Alexandre Fernandez Vaz, professor de Educação, História e Política da Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), concorda: “O crescimento da oferta de pós em educação pode estar associado à LDB, sim. Houve uma formação em massa de professores, potenciais alunos de pós”.

Além da LDB de 1996, Joaquim Gonçalves Barbosa, coordenador do programa de Pós-Graduação da Metodista, aponta outros fatores decisivos. “O trabalho do educador hoje é menos ortodoxo. Antigamente, os educadores trabalhavam apenas em escolas. Hoje eles trabalham em empresas, em ONGs, projetos sociais. Essa formação mais refinada, específica, vem para preencher uma carência”, afirma. Para Barbosa, a interdisciplinaridade também ajuda na popularização das pós em educação. “Hoje, na sociedade, as disciplinas estão mais interligadas. O educador trabalha com o médico, com o psicólogo, com o engenheiro e o inverso também é verdadeiro.”

Porém, dúvidas crescem na medida em que há aumento da oferta. Alunos questionam a qualidade dos cursos; professores questionam o tênue equilíbrio entre produção de conhecimento e formação para o mercado; instituições questionam sobre seguir demandas sociais ou mercadológicas; e por aí afora. Enquanto a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) acompanha e avalia periodicamente as pós-graduações stricto sensu, os cursos lato sensu não são avaliados. O Ministério da Educação informou, via assessoria, que cursos lato sensu oferecidos por instituições credenciadas não dependem de autorização prévia nem reconhecimento, por isso não são avaliados.

Os educadores ouvidos pela reportagem concordam que a avaliação externa é fundamental para garantir um padrão mínimo de qualidade. Segundo Joaquim Gonçalves Barbosa, a avaliação acaba proporcionando um processo interno na instituição, garantindo uma contínua busca por melhorias. “A avaliação da Capes é muito importante. Não estou dizendo que não pode ser melhorada ou repensada, mas que acaba produzindo uma diretriz avaliativa muito positiva. A instituição passa a entender e definir seus próprios critérios de avaliação dos professores, seus próprios critérios de produção acadêmica.”

Há um consenso em favor de uma avaliação externa do sistema lato sensu. “Os programas lato sensu são muito importantes na extensão e na formação continuada de professores, mas podem também ser caça-níqueis. Há um problema sério na baixa qualidade de muitos desses cursos”, diz Alexandre Fernandez Vaz. O professor, no entanto, aponta êxitos no sistema de pós-graduação nacional. “O Brasil tem um sistema de pós-graduação bastante avançado, em algumas áreas se equipara aos países desenvolvidos. E isso é de responsabilidade também dos programas de educação.”

Fernandez Vaz, em sua análise, diferencia dois tipos de profissionais, os pesquisadores e os professores, e destaca o papel das pós lato sensu na formação continuada. “O que chega ao professor e ao aluno na escola não vem do stricto sensu, que é para formar pesquisadores, uma certa elite intelectual, que não é melhor ou pior que os professores. O que chega ao professor da escola é o lato sensu, que trabalha de forma muito mais íntima com o dia a dia da profissão”.


Tendências contemporâneas

Hoje, há diversas linhas de pesquisa para mestrado e doutorado que simplesmente não existiam 10 anos atrás. No lato sensu, há uma profusão de novos cursos, com algumas áreas despontando como tendências, como a gestão educacional e o estudo da comunicação aliada à educação. No Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Educação paga cursos de pós-graduação em gestão educacional para melhorar seu quadro de diretores e coordenadores. “Muitos dos diretores não têm formação para serem gestores ou administrar a escola. A demanda por essa formação específica cresceu muito nos últimos anos”, relata Rosália Duarte, coordenadora da Pós-Graduação em Educação da PUC do Rio de Janeiro.

E não foi só no Rio que cresceu a procura por cursos que esquadrinham o cotidiano administrativo de uma instituição de ensino. Tais especializações tiveram origem no campo pedagógico da administração escolar. Contudo, com o avanço das ferramentas de administração e com a proliferação social da ideia de eficiência na gestão de recursos (sejam eles financeiros, humanos ou naturais), essas modalidades de pós se aperfeiçoaram, ganharam densidade e passaram a figurar sob os holofotes. Rosália afirma que não gosta de generalizar, mas admite que os recursos são muito malgeridos em diversas áreas do Brasil, não só na educação. Aí, talvez, resida parte do interesse que as pós em gestão despertam.

Sobre as muitas pós lato sensu em educação existentes hoje, Rosália Duarte não acha que há uma fragmentação, mas um olhar mais específico para alguns pontos. “É um refinamento do ponto de vista da abordagem e aprofundamento, recortamos o objeto para que seja mais bem analisado em sua complexidade interna e na relação com outras áreas”, explica. “Talvez o motivo disso seja dar respostas mais precisas a perguntas cada vez mais elaboradas. Orientar políticas educacionais, planejamento e pesquisas de uma forma cada vez mais precisa, que não produzam resultados tão genéricos”.

No geral, a oferta dos cursos lato sensu parece reagir aos movimentos vindos do mercado de trabalho e da própria sociedade. Outros exemplos citados foram os cursos de educação ambiental e aqueles que relacionam educação e mídia. Os dois temas estão, há algum tempo, na pauta diária e hoje são imprescindíveis na organização ou estruturação de qualquer política educacional, pública ou privada. Fernandez Vaz, porém, faz um contraponto e adverte sobre possíveis armadilhas nessa relação entre mercado e educação. “O mercado é formador de demandas importantes na sociedade contemporânea, mas ele não é a única dimensão a ser levada em conta. A educação, embora possa ser comercializada como mercadoria, não deve ser tratada como tal. Ela tem outro papel e outra função social.”


A opção do mestrado profissional


As pós-graduações stricto sensu, por não serem tão comprometidas com o mercado ou com um pragmatismo imediato, de certa maneira, equilibram a balança. Atualmente há muitas linhas de pesquisa que abrangem fenômenos sociais recentes, como educação e movimentos sociais, educação e gênero, educação e minorias étnicas (como indígenas e quilombolas), dentre outras. As pesquisas resultantes das dissertações de mestrado e doutorado, de acordo com os educadores, não precisam ter efeito imediato, mas são indispensáveis. “Esse pensamento [pesquisa orientada para alguma prática pré-estabelecida] limita e sabota a produção de conhecimento, e é absolutamente salutar o país manter uma produção constante”, afirma Fernandez Vaz.

No meio do caminho entre as pesquisas e as pós com aplicações mais práticas situa-se o mestrado profissional (MP). Essa modalidade também proporciona titulação de mestre e diploma acadêmico – enquanto as pós lato sensu conferem um certificado – e é formatada para trabalhar com questões mais íntimas da prática profissional e das demandas do mercado. O problema, de acordo com a interpretação dos educadores, é que o mestrado profissional ainda enfrenta resistência não só na área da educação, mas no meio das ciências humanas em geral. Enquanto nas ciências biológicas e exatas a oferta dos mestrados profissionais cresce, não há no sistema de bancos de dados da Capes nenhum MP na área da educação. “O mestrado profissional é uma opção viável, razoável”, afirma Fernandez Vaz. “Nas áreas de humanas há um pouco de preconceito, que deveria ser enfrentado e discutido. É uma alternativa interessante de formação adicional de qualidade, pois nem todos querem seguir carreira de pesquisador”, completa.

Os 10 melhores programas de pós-graduação stricto sensu em educação do país*


UFMG


(Universidade Federal de Minas Gerais, pública, Belo Horizonte, MG)

www.portal.fae.ufmg.br/posgrad2/


UFRGS


(Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pública, Porto Alegre, RS)

www.ufrgs.br/faced/pos/


Unisinos


(Universidade do Vale do Rio dos Sinos, privada, São Leopoldo, RS)

www.unisinos.br/ppg/educacao/


UERJ


(Universidade do Estado do Rio de Janeiro, pública, Rio de Janeiro, RJ)

www.uerj.br/modulos/kernel/index.php?pagina=363&cod_modulo=469


PUC/RJ


(Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, privada, Rio de Janeiro, RJ)

www.puc-rio.br/ensinopesq/ ccpg/progedu.html


PUC/RS


(Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, privada, Porto Alegre, RS)

www3.pucrs.br/portal/page/portal/facedppg/ppge


UFRN


(Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pública, Natal, RN)

www.ppg.ufrn.br/conteudo/posgraduacao/posgrad.php


UFSC


(Universidade Federal de Santa Catarina, pública, Florianópolis, SC)

www.ppgeufsc.com.br/


USP


(Universidade de São Paulo, pública, São Paulo, SP)

www3.fe.usp.br/pgrad/


UCDB


(Universidade Católica Dom Bosco, privada, Campo Grande, MS)

www.ucdb.br/mestrados/educacao

*Segundo avaliação da Capes

Cursos de pós-graduação em gestão educacional


Gestão da Educação e Administração Escolar


PUC-RS
(Pontifícia Universidade Católica, privada, Viamão, RS)

www.pucrs.br/viamao/


Gestão Educacional da Escola Básica


Metodista
(Universidade Metodista de São Paulo, privada, São Bernardo, SP)

www.metodista.br/lato


Gestão Educacional UFCG


(Universidade Federal de Campina Grande, pública, Campina Grande, PB)

www.ufcg.edu.br/


Gestão Educacional CEUCLAR


(Centro Universitário Claretiano, privado, Batatais, SP)

www.claretiano.edu.br/pos/


Coordenação Pedagógica e Supervisão Educacional


Universidade Gama Filho (privada, São Paulo, SP)

www.posugf.com.br/cursos/posgraduacao-educacao


Gestão Escolar: Formação do Professor Empreendedor


EEEMBA
(Escola de Engenharia Eletro-mecânica da Bahia, privada, Salvador, BA)

http://eeemba.br/pos_gestaoescolar.php


e-MBA Gestão em Educação e Novas Modalidades de Ensino


Fecap
(Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, privada, São Paulo, SP)

www.fecap.br/portalnovo/programa-educacao.asp




Gestão e Docência do Ensino Superior


Fits
(Faculdades Integradas Tiradentes, privada, Maceió, AL)

www.fits.edu.br/pos.htm


Gestão e Educação Ambiental


Face
(Faculdade de Ciências Educacionais, privada, Valença, BA)

www.facebahia.com/posgraduacao.asp


Gestão Supervisão e Orientação Escolar


Facsa
(Faculdade Santo Agostinho, privada, Ipiaú, BA)

www.facsa.com.br/


Gestão Educacional


Faculdades Adventistas da Bahia
(privada, Cachoeira, BA)

www.adventista.edu.br


Gestão e Planejamento Escolar


Unilsalle
(Centro Universitário La Salle, privada, Canoas, RS)

www.unilasalle.edu.br/posgraduacao/


Gestão na Escola


Unisinos
(Universidade do Vale do Rio dos Sinos, privada, São Leopoldo, RS)

www.unisinos.br/especializacao/gestao_escola/


Gestão Educacional e suas Tecnologias


Universidade Severino Sombra (privada, Vassouras, RJ)

www.uss.br/web/page/posgraduacao.asp


Gestão de Instituição de Ensino


Facimod
(Faculdade Modelo, privada, Curitiba, PR)

www.facimod.com.br/ pos_graduacao.htm


Gestão Escolar


Fael
(Faculdade Educacional da Lapa, privada, Lapa, PR)

www.fael.edu.br/


Gestão de Espaços Educativos


Universo
(Universidade Salgado de Oliveira, privada, Belo Horizonte, MG)

www.universo.edu.br


Gestão de Processos Educativos


Unipel
(Faculdades Integradas Pedro Leopoldo, privada, Pedro Leopoldo, MG)

www.unipel.edu.br


Educação e Inclusão: desafios atuais para a escola


PUC-RJ
(Pontifícia Universidade Católica, privada, Rio de Janeiro, RJ)

www.puc-rio.br/ensinopesq/ ccpg/especializacao.html


Gestão Escolar e Pedagógica


Uniabeu
(Associação Brasileira de Ensino Universitário, privada, Belford Roxo, RJ)

www2.abeu.com.br/


Gestão Educacional


Universidade Católica de Pernambuco
(privada, Recife, PE)

www.unicap.br/pos/especializacao/cursos/gestaoedu.html

Autor

Diego Braga Norte


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