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A educação doméstica para Kant

A disciplina impede o homem de desviar-se do seu destino, da humanidade

Publicado em 08/10/2012

por Celso de Moraes Pinheiro*





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Pensar a educação doméstica a partir de Immanuel Kant é colocar a questão da disciplina como princípio fundamental de todo o processo de educação. Kant nos indica que a primeira educação, aquela ministrada pelos pais no seio da família, deve já se ocupar da disciplina. No primeiro momento, a disciplina expõe uma educação puramente negativa. Negativa não no sentido do senso comum atual, onde disciplina é vista como algo ruim, meramente opressora e coercitiva. Embora mereça o título de “parte negativa da educação” (a parte positiva é a instrução), a disciplina é fundamental e necessária no processo de formação da criança. Por meio da disciplina os pais garantem a sobrevivência dos filhos, pois impedem que esses prejudiquem a si mesmos. O caráter negativo da disciplina se deve ao fato de ela limitar o uso de todas as forças com que a natureza dota a criança.


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Kant chama esse estado de selvageria, onde tudo é possível na medida de nossas forças. Sem ter ainda desenvolvido suas capacidades racionais, a criança nos primeiros momentos de sua vida sente que pode fazer uso dessas forças de qualquer modo, sem  restrições. Por estabelecer limites ao uso prejudicial da força, a disciplina é o primeiro princípio da educação. E esse se dá no ambiente doméstico. Não cabe unicamente à escola o papel disciplinador. Em casa, a criança começa a compreender, através dos ensinamentos domésticos, que há momentos em que limitar a liberdade é proporcionar ainda mais liberdade no futuro. Que atitudes restritivas podem resguardar a vida e a integridade dela, não apenas evitando que saia prejudicada ou machucada do ato, mas que podem favorecer situações melhores no futuro.

Apesar dessa importante característica da educação, Kant alerta para um problema que pode se seguir de uma educação doméstica mal direcionada, a saber, o problema da repetição de crenças e valores intolerantes e preconceituosos que podem surgir no seio das famílias. Kant faz notar que nem sempre o núcleo familiar transmite valores humanos e dignos. Em grande parte das vezes, o que é passado de geração em geração são valores egoístas e prejudiciais à ideia de humanidade. Como diz Kant, é normal vermos que a educação se ocupa com o atual estado das coisas, formando para o presente. Mas o mais importante da educação é formar para um estado melhor de coisas, no futuro. E essa ideia de educação abarca tanto a educação institucional quanto a doméstica. Não abrir mão da primeira educação, da disciplina e de sua importância, eis um caminho possível para uma melhor educação no futuro.


*Celso de Moraes Pinheiro é mestre e doutor em filosofia, professor da Universidade Federal do Paraná (Dtpen/UFPR), autor de Kant e a educação: reflexões filosóficas (EDUCS).

Autor

Celso de Moraes Pinheiro*


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