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A escola que mata

Pode-se aprender o que não se sabe?, questiona educador espanhol

Publicado em 10/09/2011

por Beatriz Rey


Jorge Larrosa, educador e diretor do documentário Enuncia-se a Língua

Professor da Universidade de Barcelona e doutor em Filosofia da Educação, Jorge Larrosa é adepto da educação a partir da experiência e do sentido. Assim, a leitura também pode se dar a partir de uma experiência real, como acontece no documentário que dirigiu há três anos, Enuncia-se a Língua. Autor de Pedagogia Profana, Estudar e Linguagem e Educação depois de Babel (Autêntica), Larrosa esteve em Campinas em julho, por ocasião do 16º Congresso de Leitura do Brasil (Cole), quando concedeu a entrevista abaixo para Educação.



O que o levou a realizar o documentário Enuncia-se a língua?

Para mim, não tive uma experiên­cia com cinema. Fiz um documentário sobre uma viagem de leitura de cidades desconhecidas. Estava interessado na viagem, e não no filme em si. Fui convidado a participar da viagem para documentar o que estava acontecendo. Levei minha câmera e meu caderno e não fiz outra coisa a não ser usar trechos das minhas anotações em imagens que captei. Não fiz o documentário para ser exibido em cinema. O filme ficou interessante porque a expe­riência foi interessante.


A temática do filme gira em torno do quanto podemos aprender sem estereótipos, métodos e automecanismos. Como isso acontece?

A idéia dessa viagem está num grupo de pessoas que chegam a um local que não conhecem, sem informação prévia, e estabelecem trechos arbitrários que devem ser seguidos durante uma semana. Ao final desse tempo, todos apresentam a sua leitura do caminho. O interessante foi essa idéia da cidade como um texto que não está lido, porque ninguém explica previamente para ninguém como é a cidade. Parti do princípio de que as pessoas viajam sempre levando a sua casa. E a sua casa não é somente a escova de dente e as roupas. São os preconceitos, as idéias e as projeções. Usando como contra-exemplo o turista, que viaja para ver o que já conhece, a idéia do filme é: pode-se aprender o que não se sabe? Ler o que não está lido? Dizer o que não está escrito?


Sua experiência com esse filme, mesmo que não tenha sido para cinema…

Só estou interessado no cinema como espectador. Dediquei parte do meu trabalho a explorar a idéia da infância, que nas ciências sociais está construída verbalmente. Passei um tempo estudando como as artes constroem o olhar do menino que sorri, por exemplo. O cinema tem a vantagem de mostrar o rosto da infância como um rosto que não fala. Porque o cinema é, basicamente, mudo. Mesmo com sonoras e diálogos, o cinema tem que ver com o olhar e com o ritmo das pessoas se movimentando. Esse é o meu interesse no cinema: ele trabalha com o visual, e não com o verbal.


As linguagens audiovisuais merecem ser objeto de disciplina escolar?

Na minha cidade, um grupo muito interessante de cineastas jovens trabalha nas escolas não apenas para mostrar filmes, mas também para que os meninos produzam filmes. Quando você entra numa arte como criador, aprende a ser um bom espectador. Mas precisamos ficar atentos: quando os assuntos viram disciplinas, perdem sua graça e se escolarizam. A escola mata um pouco tudo o que toca. Quando a literatura entra na escola, vira comentário de textos. Pode acontecer o mesmo com o cinema.


Isso não pode ser mudado?

Não, a escola é a escola. Mas ela poderia despertar nas pessoas o gostinho por um certo cinema que não seria esse cinema comercial, da indústria do entretenimento. Seria por esse tipo de cinema que faz as pessoas falarem, pensarem e escreverem. Que faz as pessoas produzirem.

Autor

Beatriz Rey


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