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A hora das escolas de negócios

Mundo globalizado traz novos desafios à gestão e, por consequência, às instituições formadoras

Publicado em 25/04/2016

por Redação Ensino Superior

INTERNACIONALIZAÇÃO | Edição 208

Mundo globalizado traz novos desafios à gestão e, por consequência, às instituições formadoras

por Rubem Barros*

Com 4 mil estudantes, ESC Rennes School of Business, na França, tem 50% dos alunos vindos de outros países

Construída a partir do século 8 na costa francesa que fica diante da Grã-Bretranha, a Abadia de Saint Michel, situada numa pequena ilhota da Normandia, resguarda ainda muitos símbolos do passado. Entre eles, a resistência dos franceses às renitentes tentativas inglesas de invadir a fortificação durante a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), criando sua fama de inexpugnável. Ironia do destino, a cerca de 65 km dali, na cidade de Rennes, na Bretanha, os franceses hoje orgulhosamente ostentam uma das mais internacionais escolas de negócios do mundo, a ESC Rennes School of Business, que traz como um de seus maiores apelos o fato de ministrar a maioria de suas aulas em inglês.

Com 4 mil estudantes, dos quais 50% estrangeiros e com um corpo docente, entre permanentes e adjuntos, de 186 professores, sendo 85% vindos de outros 38 países, além de 250 instituições parceiras mundo afora, a escola francesa conseguiu, a partir de 2012, as três certificações mais representativas do setor, alcançadas em conjunto por apenas 1% das escolas de negócios do mundo. No Brasil, apenas a Fundação Getulio Vargas possui essa tríplice coroa, como é chamado esse conjunto de acreditações. Não por acaso, a FGV começou, em 2013, um programa em parceria com a ESC Rennes, envolvendo intercâmbio de docentes, compartilhamento de áreas de pesquisa e a criação de um doutorado em administração de negócios (DBA), com dupla titulação pelas instituições, hoje cursado por 70 estudantes.

O exemplo mostra um caminho que parece ser quase consensual no desenho das estratégias para dar relevância a escolas de negócios hoje. Ele mescla uma forte aposta na internacionalização, com oferta de aulas em inglês; intercâmbio de docentes e parcerias com outras instituições; investimento em pesquisa e alta seletividade do corpo docente (e, no caso de MBAs e DBAs, também do corpo discente); criação de estruturas que incentivem a inovação, o empreendedorismo e novas dinâmicas didáticas, sempre apostando no protagonismo do aluno e na aplicação prática dos conteúdos teóricos oferecidos.

Esse desenho reflete as necessidades de formação de gestores para um mercado cada vez mais globalizado, com forte circulação de produtos, serviços e pessoas. Assim, quanto mais variado o conhecimento de diferentes culturas de gestão, maior a riqueza do profissional em atividade. “O grande diferencial da internacionalização é a busca constante pelo compartilhamento do conhecimento, que é o único bem que se multiplica quando é dividido”, diz Jorge Barros Neto, coordenador da Divisão de Negócios Internacionais da FGV.

No caso da parceira francesa da FGV, a instituição crê na formação de líderes que possam agir a partir de três pilares: multiculturalidade, inovação e sustentabilidade. “Entendemos que a interculturalidade dos docentes impacta essa orientação para conteúdos internacionais com esses três pressupostos. Como consequência, atraímos muitos estudantes estrangeiros”, diz Olivier Apter, reitor da ESC Rennes.

Cenário nacional

No Brasil, as escolas de negócios começaram a ganhar mais força nos anos 2000, apesar de os MBAs já serem oferecidos desde os anos 1990. Em 2004, foi criada a Associação Nacional de MBAs (Anamba), entidade voltada à instituição de parâmetros de qualidade para os cursos oferecidos no país. Hoje, existem dois diferentes padrões de qualidade para os cursos, o global e o Brasil, e seis entidades certificadas, das quais cinco com o padrão global (Insper, Fecap, FIA, Katz Graduate School of Business e IESE Business School) e uma com padrão local (Imed, Faculdade Meridional). Além dessas instituições, destacam-se também em avaliações internacionais escolas como a Fundação Dom Cabral, Business School São Paulo e a Saint Paul Escola de Negócios.

Segundo Alessandra Maciel, diretora de Comunicação da Anamba, os critérios observados para acreditar um programa de MBA são as qualificações profissional e acadêmica do corpo docente; as publicações dos professores (tendo em conta número e impacto); a carga horária do curso; o currículo e o processo seletivo dos alunos, visando que tenham pelo menos três anos de exercício como gerentes ou diretores. “O aluno tem de vir com experiência para haver networking em sala de aula”, ressalta Alessandra.

Ao lado da Katz Graduate School of Business, da Universidade de Pittsburgh, o IESE Business School é uma das instituições que possibilitam a obtenção de um diploma internacional para o aluno fixado no Brasil. Isso porque a entidade é associada à espanhola IESE Business School, funcionando como um campus avançado da instituição que costuma frequentar a lista de melhores escolas publicada no jornal inglês Financial Times.

© Shutterstock

Cidade de Rennes está cituada na região administrativa da Bretanha, no noroeste francês

O ISE foi fundado em 1996, por um grupo de executivos que haviam cursado o IESE. Em 2000, eles oficializaram a parceria com o IESE e passaram a oferecer seus programas executivos. Segundo Pedro Sellos, diretor do departamento de Comunicação do ISE, além do desenvolvimento de ferramentas estratégicas para a gestão, como nas áreas de inovação, pessoas, gestão financeira, direção de vendas e operações, entre outros, o Instituto foca uma visão ética e humanista, não se fixando apenas em resultados financeiros. “Trabalhamos bem o método de estudo de caso, não só como análise de cases de sucesso, mas focando o trabalho de equipe em questões reais que envolvem dilemas éticos, de modo a proporcionar um trabalho de desenvolvimento pessoal. Às vezes, os executivos têm muita liberdade na obtenção dos resultados, mas uma hora a conta chega”, diz.

Parcerias

A instituição oferta seus cursos em português, com módulos em espanhol e inglês. Como na ESC Rennes, também prevê parte dos módulos no exterior, em Barcelona e Nova York. A estratégia para expansão é fortalecer as parcerias com instituições da América Latina, já existente com universidades do México, Uruguai, Argentina e Colômbia.

Para Olivier Aptel, da ESC Rennes, algumas parcerias internacionais podem abrir portas maiores não só para a instituição, mas para o próprio país. Em fevereiro último, sua escola firmou parceria com a Universidade de Havana, que tem 13 mil alunos no total. “Consideramos muito importante estar presente lá neste momento em que o país está abrindo sua economia. Somos a primeira escola de negócios do mundo a firmar esse tipo de parceria em Cuba. Eles não têm escolas de negócios, mas têm cursos de gestão, de turismo. De início, faremos intercâmbio de alunos e docentes.”

A escola também marca presença estratégica em Rabat, no Marrocos, onde possui um campus. Segundo o reitor, a economia do país tem crescido de forma robusta e a oferta universitária local para a gestão é insuficiente. Por isso, o investimento no país, ex-colônia francesa.

Para Jorge Barros Neto, da FGV, a cultura gerencial brasileira tem boas moedas de troca para ofertar como conhecimento ao mercado internacional, possibilitando abrir fronteiras nos campos acadêmico e de negócios. “Temos áreas relevantes, como o sistema financeiro brasileiro, concebido de forma moderna e segura, e os sistemas de gestão de negócios. Os executivos brasileiros são reconhecidos em todo o mundo”, diz.

Alessandra Maciel, da Amamba, acredita que ainda temos muito que evoluir em termos de gestão. E que, neste momento de crise, o cenário é proibitivo para profissionais e empresas, cujo freio de mão dos investimentos está puxado. “Um MBA, em média, custa R$ 60 mil. Na FGV, chega a custar R$ 145 mil. As empresas pagavam, mas cortaram com a crise. A gestão no Brasil não é melhor por falta de investimento”, avalia.

Num setor que traz o tema da inovação na pauta, é preciso encontrar os caminhos mais aderentes ao cenário atual para continuar a evoluir. Tal qual os religiosos da Abadia de Saint Michel foram superpondo novas camadas construtivas ao longo dos séculos, formando um palimpsesto que explica a história desde as cruzadas até os ventos da multiculturalidade, a gestão precisa de novos ventos. Só que, agora, eles mudam com velocidade muito maior.

O apelo da diversidade cultural
Desde 2013 em Rennes, a professora gaúcha Clara Koetz conheceu a School of Business em 2010, quando fazia doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e conseguiu uma bolsa sanduíche para visitar a universidade francesa. Atualmente, coordena o mestrado em marketing digital na instituição francesa, e ministra a disciplina “Comportamento do consumidor” no programa de pós-graduação.
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Para Clara, que pesquisa a influência das emoções no comportamento digital e tem alunos provenientes de 12 países, a diversidade cultural enriquece a vivência acadêmica. “Só temos a ganhar quando há troca de experiências muito distintas. Mesmo em um segmento específico, é possível comparar os aprendizados de origem e as vivências.”
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Para a escocesa Rhona Johnsen, também professora de marketing e com mais de 20 anos de experiência em universidades de seu país e da Escandinávia, as habilidades dos alunos estrangeiros mudaram para melhor desde que começou a lecionar. “Estão mais fluentes em inglês agora. Era mais difícil preparar esses estudantes para um máster. De lá para cá, houve muito suporte, aumentou muito a habilidade de interação internacional”, avalia.
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De fato, muitos estudantes já planejam suas carreiras desde a graduação. É o caso da potiguar Mariana Montenegro, 25 anos, formada em relações internacionais pela Universidade Potiguar (privada), hoje cursando o Máster Internacional em Recursos Humanos em Rennes. Na graduação, fez programas de intercâmbio na Espanha e nos Estados Unidos e já tratou do tema de sua pesquisa no TCC – expatriação de recursos humanos – quando analisou se as empresas brasileiras faziam algum trabalho diferenciado em suas missões internacionais. “Descobrimos que as empresas tinham dificuldade até de falar sobre isso, pois não têm processo sólido. Muitos vão para fora sem preparo algum, o que contribui para o fracasso de três em quatro missões.” Animada pelo ambiente internacional, Mariana quer continuar fora do Brasil depois de terminar o máster. As estatísticas ajudam: 33% dos estudantes da universidade se empregam no exterior após terminarem seus cursos.

 

Os pré-requisitos para as parcerias internacionais
➣ Obtenção de certificações internacionais (EFMD/AACSB/AMBA)
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➣ Reputação no país de origem
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➣ Predisposição para receber e enviar estudantes do e para o exterior;
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➣ Capacidade para oferecer aulas em inglês

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*O jornalista Rubem Barros viajou a Rennes a convite da ESC Rennes School of Business

Autor

Redação Ensino Superior


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