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Carreira

Ano novo… educação nova?

Professores renovados serão aqueles que recuperem a alegria de lecionar

Publicado em 03/02/2014

por Gabriel Perissé

  Para que haja renovação é preciso buscar o novo-valioso. Só o novo é muito pouco. O novo pelo novo pouco vale. E não leva a (quase) nada. O novo pode ser apenas reimpressão sem revisão, reedição sem atualização, relançamento sem graça. Capa nova e conteúdo morto. Cara nova e miolo ultrapassado. O novo pode ser uma nova moda, uma nova onda, uma dica nova que não fica nem edifica. Pode ser uma novidade sem futuro. O novo como nostalgia do novo. O novo como rótulo. O novo como roupagem. Uma novidade caduca.

No ano que se inicia o que de novo haverá na educação brasileira? Serão nossos professores valorizados realmente, e não só no discurso demagógico? A velha ideia de que a remuneração afetiva é mais importante do que um salário justo será finalmente destronada? Poderemos jogar fora o velho mito de que os alunos precisam tirar (tirar de quem?) boas notas em todas as matérias? E as leituras? As leituras obrigatórias deixarão de ser a única forma obrigatória de tornar a leitura menos acessória?
#R#

Professores renovados
Carecemos de renovação. Professores renovados no ano-novo serão aqueles que recuperem a alegria de lecionar. Estudos afirmam que mais da metade dos professores brasileiros já perderam o fogo, o brilho, o envolvimento, o interesse. Estão cansados do destrato. Certa vez, fui ministrar uma palestra para professores de uma cidade na Bahia. Era final de ano letivo. O clima me parecia pesado e tristonho. Descobri o motivo pouco antes de começar a falar.

A Secretária de Educação veio solicitar-me uma palestra “motivadora”, que animasse os docentes, pois não haviam recebido o (já minguado) salário daquele mês…

Professores mais bem remunerados devem receber de modo ativo e criativo aprimoramento constante. Não me refiro a professores “reciclados”, que continuarão andando em círculos. Reciclável é o lixo! E é por isso que muitos docentes só sabem pedir “lixões de casa” aos seus alunos.

Em cada escola ou faculdade, pública ou particular, os professores deveriam ser ouvidos, sem medo de advertência, demissão ou perseguição. Deveriam ser atentamente ouvidos e devidamente atendidos. A única forma legítima de exigir dos professores seja o que for (competência, paixão, assiduidade, comprometimento) é dar-lhes as condições necessárias para exercer sua profissão com dignidade.

De professores ouvidos e atendidos podemos, sim, exigir novas posturas. Novas leituras, por exemplo. Professor bom é leitor contumaz. Que boa parte do seu aumento salarial seja investida numa bela biblioteca pessoal. Leitura variada e nutritiva, colorida e inspiradora.

Novos alunos
Todo aluno é um gênio. Um gênio em algum aspecto da vida. Limitações ou dificuldades não devem nos assustar. Não é incomum, por exemplo, encontrar casos de distúrbios linguísticos entre artistas, inventores e músicos. Quantos profissionais fantásticos em algum setor foram (e são) um fracasso em algum tema, em vários temas da nossa multitemática e complexa existência!

Todo mundo é inteligente. E todo mundo pode ampliar sua inteligência. Além da maturidade biológica e do entorno social com que nos relacionamos, há um terceiro elemento nesse jogo do aprendizado. Que é justamente a escola com seus professores.

Esta visão não é nova. É mais antiga do que andar para a frente. Mas andaremos para trás se não soubermos apostar, de novo, e de modo novo, na sempre nova oportunidade de ensinar e educar. A escola só tem razão para existir se for uma oportunidade de criação e recriação do humano. A escola é o lugar em que se criam ocasiões novas. Ocasiões valiosas para que todos possam observar, colher informações, elaborar hipóteses, verificar, induzir, deduzir, comparar, resumir, classificar, interpretar, criticar, imaginar, planejar, decidir, avaliar e avaliar-se.

Os professores são os mediadores. São eles que trazem para o jogo do aprendizado as motivações, estratégias e valores que nos fazem a todos descobrir coisas novas. Os estudantes se renovam quando descobrem por conta própria (com uma ajuda na medida certa) os segredos de uma realidade, as leis de um fenômeno, os meandros de um processo. Todos os alunos que descobrem coisas pessoalmente se tornam mais seguros, mais confiantes em sua própria capacidade de aprender mais e melhor.

Os alunos que se alimentam de leitura se tornam mestres de si mesmos. Leitura de livro, de site, de imagens e de coisas, leitura de mundo, de terra, mar, céu e ar, leitura de bichos e plantas, leitura do livro da vida, da rua, do sagrado
e do profano. Alfabetizar para tudo ler. Alfabetizar para valer.

O novo-valioso deveria transformar a nossa escola em lugar de novas novidades. Uma escola nova em folha. Em que todos se sentem valorizados e responsáveis. Não mais uma revoltante volta às jaulas, dentro das quais queremos gritar ou dormir… ou solicitar redução da pena por bom comportamento. Presos nas redes (não virtuais), por trás das grades curriculares, a liberdade vigiada por inspetores, enquadrados pelo regimento e catalogados nos arquivos das delegacias de ensino, assim encarcerados não poderemos voar. Muito menos inovar.

*Gabriel Perissé é doutor em Filosofia da Educação (USP) e pesquisador do Núcleo Pensamento e Criatividade (NPC) – www.perisse.com.br

Autor

Gabriel Perissé


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