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Ensino edição 224

Cursos livres: ameaça ou oportunidade?

Com a ultraespecialização do conhecimento em determinadas áreas, programas de curta duração ganham relevo na sociedade. O que essa movimentação representa para as instituições de ensino

Publicado em 27/11/2017

por Redação Ensino Superior

cursos2 Belas Artes: curso livre de Consultoria de Imagem e Estilo com as professoras Jô Souza e Dorah Costa

Belas Artes: curso livre de Consultoria de Imagem e Estilo com as professoras Jô Souza e Dorah Costa

Por Vagner Couto

Se antes cada profissional sabia onde começava e onde terminava seu escopo de trabalho, hoje essas fronteiras não existem mais ou estão mais tênues. O resultado disso é a intersecção de funções e responsabilidades. Cada vez mais, as pessoas estão sendo demandadas a fazer algo novo em seus ambientes profissionais e a desempenhar funções para as quais elas ainda não têm as habilidades necessárias. É nesse contexto que se insere a procura pelos cursos livres, também conhecidos como microcursos ou cursos de curta duração.

Na forma de complemento ou de introdução a novos conhecimentos, eles vêm sendo considerados como opção de formação por uma parcela crescente de pessoas – e valorizados pelas empresas. Uma prova disso é a disseminação de plataformas como Coursera, Khan Academy, edX e Udacity.

Todas elas oferecem programas bem específicos (e alguns abrangentes também), talhados para atender às necessidades desse mundo em transformação. É verdade que eles também são procurados por uma parcela de pessoas simplesmente interessadas em ampliar suas fronteiras de conhecimento, inclusive como hobby.

Além das plataformas já mencionadas, e que têm por trás nomes como Harvard, Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), Google e Facebook, observa-se o aparecimento e/ou a expansão de pequenas escolas focadas na oferta desses programas. As instituições de ensino já perceberam essa movimentação e muitas delas estão apostando na modalidade, cujas aulas têm a justa duração para aqueles que também não têm tempo ou motivação para encarar formações mais longas.

Com a redução do volume de matrículas – conforme o último Censo da Educação Superior divulgado pelo Inep –, e com o aumento da inadimplência e desistência de cursos, os microcursos ainda podem ser o elemento estratégico para fazer a balança pender a favor da IES. Eles constituem uma fonte extra de receitas, ajudam a atrair e a reter alunos e ainda possibilitam às IES testar novos formatos, novos conteúdos, se atualizar e, eventualmente, transferir esses conhecimentos para a criação de cursos mais longos.

As experiências das IES

Na Impacta, por exemplo, os cursos livres são a alma do seu negócio. Há 29 anos no mercado, a instituição já capacitou mais de 1,5 milhão de pessoas por meio da modalidade, que recebe atualmente uma média de 6 mil alunos por mês e responde por 75% do faturamento do grupo.

Segundo Célio Antunes, presidente e fundador da Faculdade Impacta e da Impacta Treinamentos, 15% do público são alunos de graduação provenientes de diversas IES da área de tecnologia da informação. Eles buscam formação complementar porque suas universidades não conseguem desenvolver material didático adequado e acompanhar a evolução do setor, afirma o executivo. “Nós conseguimos porque temos parceria com os mais de 40 players da área da tecnologia da informação”, declara.

Explicando os rumos de sua estratégia, Antunes afirma que os cursos on-line, que foram aprimorados com a melhoria da rede de internet no Brasil, constituem uma de suas apostas. “Conseguimos criar uma metodologia agradável e motivadora de ensino a distância, oferecendo cursos no formato de pílulas de conhecimento, no qual o profissional consegue realizar um ciclo rápido de conhecimento através de objetos de aprendizagem envolvendo vídeo,  texto e laboratório prático”, detalha.

É uma articulação que vai ao encontro do que o Censo EAD.BR – 2015/2016, realizado pela Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), indica. Partindo de um universo de 368 instituições, o documento informa que 1.880.165 alunos fizeram cursos livres de iniciação profissional, e 137.092 cursos corporativos, também livres.

O censo indica uma quantidade notavelmente maior de formações livres não corporativas que corporativas – 3.659 contra 1.196 programas –, e ainda explicita uma tendência: 57,13% das instituições privadas sem fins lucrativos e 33,35% das instituições com fins lucrativos vão continuar investindo na área. Dentre as instituições privadas, 15,15% das com fins lucrativos apresentaram aumento nos rendimentos em cursos livres.

Diferentes propósitos

A realização de programas de curta duração favorece diversas experiências pedagógicas. Para Ana Luiza Marino Kuller, coordenadora de educação do Senac SP, “o nome [cursos livres] marca a autonomia com que as instituições educacionais podem trabalhar no desenvolvimento e oferta desses cursos”.

Para ela, graças à modalidade, hoje é possível atender demandas pontuais relacionadas aos mais diversos cursos, às necessidades de aprofundamento em algum tema, às atualizações surgidas durante a oferta de alguma turma, ao atendimento de interesses específicos, etc.

Da mesma forma, atendem a demandas formativas identificadas na necessidade, favorecendo o diálogo entre os campos produtivo e educacional. “Os cursos livres também podem funcionar como um espaço de experimentação para novas ofertas, considerando cursos mais longos”, assevera. Ou seja, cursos de graduação e pós-graduação.

Já o Centro Universitário Belas Artes oferece programas de curta duração desde 2009 e de lá para cá eles atraíram mais de 20 mil alunos. As formações têm temas diretamente ligados aos cursos de graduação, como explica o reitor Paulo Cardim: “Além de criar um ambiente coeso de diálogo e troca de experiências, a iniciativa permite que a infraestrutura de laboratórios, oficinas e ateliês seja utilizada também pelos alunos de cursos livres. Outra questão importante é que muitos desses cursos aprofundam-se em assuntos presentes nos programas de graduação e permitem aos alunos com interesses específicos a oportunidade de ampliar conhecimentos já abordados na sala de aula”.

Além disso, a modalidade serve como porta de entrada de um novo aluno na faculdade, funcionando como um meio excelente de captação. “Dentro desse cenário, os cursos livres atendem a demandas do mercado de maneira rápida e eficaz, servindo, muitas vezes, como ponto de partida para uma pós-graduação”, analisa.

Na Cruzeiro do Sul Educacional, mantenedora da Universidade Cruzeiro do Sul e outras instituições, a realização de programas de curta duração atende objetivos acadêmicos, econômicos e estratégicos. Carlos Fernando de Araújo Jr., pró-reitor de Educação a Distância da instituição, afirma que eles são tratados tanto como uma frente de negócios quanto como um meio de promover formação profissional específica de forma mais rápida.

Além da agilidade, os microcursos também têm outras vantagens: tratados como um complemento da formação, eles podem focar o desenvolvimento das chamadas soft skills, que se contrapõem às competências “hard“, aprendidas nas disciplinas regulares tradicionais, de acordo com o pró-reitor. “Os cursos livres também são excepcionais para formações do tipo “como fazer”. É por isso que aqueles que ensinam o funcionamento de softwares, por exemplo, têm ganhado muito espaço na internet”, diz.

Na opinião daqueles que estão apostando na modalidade, portanto, os programas de curta duração devem ser considerados uma oportunidade. A oferta de cursos é alta, especialmente no ambiente virtual, mas entrar nesse mercado é uma questão também de necessidade. Eles constituem uma forte tendência na área educacional.

Autor

Redação Ensino Superior


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