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Do tamanho certo

Escola Lúcia Casasanta mantém o legado de dois dos mais destacados educadores de Minas Gerais e, contra a corrente, não quer crescer

Publicado em 10/09/2011

por Ricardo Marques


Foco no trabalho com crianças de 2 a 11 anos está entre as estratégias da Escola Lúcia Casasanta

Em Minas Gerais, o sobrenome Casasanta está vivo na memória de quem acompanhou o desenvolvimento da educação na segunda metade do século 20, graças a um casal de professores que dedicou toda a carreira à melhoria da escola pública. Mário Casasanta, por duas vezes reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a mais importante do Estado, era casado com Lúcia, professora no renomado Instituto de Educação, autora de livros adotados por várias gerações de alunos e homenageada em concursos oficiais e bibliotecas que levam seu nome. Hoje, Lúcia Casasanta também dá nome a uma escola no bairro Sion, em Belo Horizonte, cuja dona é sua filha, Mariana Casasanta Caiafa.

A primeira tentativa de entrevistar Coli – como Mariana é chamada por todos – foi frustrada por uma coincidência: era 29 de maio, e a escola comemorava o centenário de nascimento de Lúcia Casasanta. "Era preciso lembrar a data, porque minha mãe atuou numa época em que as escolas públicas mineiras ofereciam o melhor ensino no Estado, e acredito que ela tenha tido um papel importante na busca desse padrão de excelência", diz Coli, ex-professora de escola pública e pedagoga formada pela Faculdade de Educação da UFMG, com pós-gradua­ção em educação infantil.

O nível de qualidade antes encontrado nas boas escolas públicas é o que Coli procura aplicar na Escola Lúcia Casasanta, ao lado de outros diferenciais, entre os quais se destaca a decisão de, contra a tendência do mercado, não ceder à tentação de crescer a qualquer custo. Inaugurada em 1974 com classes de educação infantil, para crianças de 2 a 6 anos, somente em 1990 a escola abriu o 1º ano do ensino fundamental, e ano a ano chegou até o 5º ano – e parou por aí. "Já naquela época decidimos que iríamos só até essa série, equivalente ao antigo ginasial, e não temos nenhuma intenção de ampliar nem de abrir filiais", afirma Coli.

De fato, apesar dos constantes apelos dos pais para que sejam criadas as séries subseqüentes, ainda hoje a escola mantém esse limite. Cobra mensalidade comparativamente baixa e quer que os cerca de 600 alunos sejam conhecidos pelo nome por professores e funcionários. "É uma escola formadora de pessoas­", define Coli. "Nosso ponto forte é o compromisso que estabelecemos com as famílias de oferecer um ensino completo e de boa qualidade, numa linha construtivista, mas que quer ver resultados objetivos em termos de ensino fundamental. Procuramos individualizar o atendimento. Se a criança apresenta alguma dificuldade, ela é convocada para um trabalho de reforço em outro momento, sem ônus para os pais."

A educadora lembra que, até pouco tempo atrás, a boa escola era a instituição que oferecia o melhor acesso à informação. "Hoje o conhecimento está em todo lugar, no computador pessoal, no cybercafé, ao alcance de todos. Mas como selecionar essa informação, como usá-la, como organizar esse conhecimento? Esse passou a ser um papel importante da escola", diz.


Afetividade e alegria


O foco num público bem definido – de 2 a 11 anos – estimula o atendimento individualizado. As classes no Lúcia Casasanta têm de 12 a 24 alunos, dependendo da necessidade e do perfil de cada turma. Esse cuidado também permite que determinados valores, embora fora do currículo, sejam enaltecidos, como explica Coli: "Queremos que os alunos e os pais vejam nossa escola como um lugar afetivo e alegre, e isso começa na seleção dos educadores e funcionários. Para trabalhar aqui, a pessoa precisa gostar de viver. O professor, além de gostar de dar aula, tem de gostar de criança e de viver. Acreditamos que a alegria deve ser cultivada, e o afeto é o que dá tônus a qualquer atividade humana. Então, quando a criança está feliz e sente que se encontra em um ambiente afetivo e alegre, ela aprende". 

São, provavelmente, lições apreen­didas na convivência com os pais educadores, que valorizavam o papel do professor. A escola conta com um quadro de 28 professores regentes de turma, mais sete especializados em educação física, música, inglês, informática e artes, além dos coordenadores. "Todos têm nível superior, alguns com pós-graduação, e uma boa parte trabalha em regime de dedicação integral", conta Coli.

O programa de aperfeiçoamento dos docentes ocorre por meio de grupos de estudo e discussão que se reúnem semanalmente e, eventualmente, cursos de especialização. "Às vezes buscamos um olhar diferente sobre matemática ou ciência, por exemplo, e contratamos um professor que tenha um conhecimento específico naquela área e que seja capaz de acrescentar algo diferente ao grupo", explica.

Na intenção de "formar pessoas", como diz Coli, a escola recorre a recursos que saem um pouco do padrão. "Por exemplo, com as crianças menores, até 6 anos, temos a comemoração de aniversário obrigatória e individual, na qual os pais não participam: eles apenas mandam o lanche, o bolo e a máquina para filmar ou fotografar. Nesse aniversário pretendemos oferecer ao aluno um olhar especial sobre a turminha dele, os amigos dele, e naquele dia ele é o rei. Outro diferencial, nessa faixa de idade, é a merenda coletiva, sem pretensão nutricional, mas para oferecer às crianças uma visão mais democrática, a fim de que aprendam a dividir, a repartir, a compartilhar, no momento em que estão se percebendo como pessoas e construindo seu espaço no grupo, gostando de viver, fazendo amigos."


Entrelinhas


Para os alunos do ensino fundamental, Coli diz que o projeto pedagógico é "despretensioso". "Queremos que a criança, ao sair daqui no 5º ano, seja capaz de ler não apenas o que está escrito, mas o que o autor quer dizer com aquelas palavras, o que está por trás daquelas palavras. Ler nas entrelinhas é uma habilidade difícil, uma aprendizagem complexa e abstrata, mas vale a pena. Nossa pretensão é que o aluno saia do 5º ano sabendo ler as entrelinhas e lidar com as quatro operações de forma a ser capaz de fazer estimativas e resolver problemas. Utilizamos computadores e outros recursos da tecnologia, além do inglês desde a educação infantil, mas nossa preocupação é com o desenvolvimento da inteligência, de modo a fazer a criança pensar. Acreditamos que a linguagem revela muito", acrescenta.

Autor

Ricardo Marques


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