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Fábrica de perguntas

Com alta dose de tecnologia e interatividade, a exposição Einstein, instalada no Ibirapuera (SP) até dezembro, traz a biografia do cientista alemão e os conceitos científicos elaborados por ele, ainda distantes da escola

Publicado em 10/09/2011

por Fábio de Castro

Embora tenha sido gestada no início do século 20, a física moderna ainda é ignorada pelo currículo do ensino médio brasileiro e os alunos não têm contato com seus principais conceitos. Ao apresentá-los ao público, apostando na tecnologia e na interatividade, a exposição Einstein, instalada em setembro no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, não preencherá essa lacuna, mas poderá fazer algo mais relevante: deixar os estudantes cheios de perguntas.

Criada em 2002 pelo Museu de História Natural de Nova York, a exposição rodou o Hemisfério Norte e foi vista por 2 milhões de pessoas. Os organizadores, do Instituto Sangari, esperam receber de 300 mil a 400 mil visitantes até o encerramento paulistano da mostra, em 14 de dezembro.

O percurso da exposição, orçada em R$ 5 milhões, é dividido em dez blocos temáticos, nos quais se entrelaçam aspectos biográficos e científicos relacionados a Albert Einstein (1879-1955): Vida e tempo, Luz, Tempo, Átomos, Energia, Gravidade, Guerra e paz, Cidadão global, Legado e Einstein no Brasil. Além das diversas instalações que explicam interativamente os conceitos científicos relacionados às inúmeras contribuições de Einstein, a mostra visa tornar familiar a figura do cientista, mostrando objetos pessoais, fotos, cartas e manuscritos.
 
De acordo com o professor do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Marcelo Knobel, responsável pela coordenação científica da mostra, a versão brasileira foi adaptada e ampliada. "Todos os painéis interativos foram elaborados pela equipe brasileira. Além disso, foram recriados praticamente todos os textos e acrescentadas duas instalações que não existiam – Átomos e Einstein no Brasil. Acrescentamos na mostra diversos aspectos relacionados ao Brasil e melhoramos bastante também a parte relacionada ao legado de Einstein", afirmou.

O texto foi sintetizado, pois a versão original era bem mais longa. "Havia aspectos de interesse mais do público norte-americano que foram atenuados, como a perseguição a Einstein pelo macarthismo", exemplifica Knobel.

O espaço da exposição, que totaliza 2 mil metros quadrados, inclui um laboratório para atividades com educadores e, nos fins de semana, um ciclo de palestras relacionadas ao tema. Há um programa educativo especialmente voltado a dar suporte às visitas de grupos de estudantes, incluindo materiais educativos, visitas monitoradas e formação para educadores.

Knobel, também diretor científico do Instituto Sangari, explica que os painéis de textos, ilustrações didáticas e obras interativas têm o objetivo principal de estimular os estudantes a conhecer as teorias de Einstein – o que representará um salto de 200 anos em relação ao que se aprende hoje em física nas escolas. O conteúdo pedagógico se limita à física de Isaac Newton, concebida no século 18.

"Não se aprende nada de física quântica ou de relatividade no ensino médio. No entanto, ainda que pareça incrível, a matemática utilizada para entender a relatividade não é tão complexa – pode ser toda demonstrada apenas com o teorema de Pitágoras. O que provoca um nó na cabeça são as conseqüências extraídas dessa teoria. Isso fica claro na exposição. Não esperamos que o estudante saia da exposição sabendo tudo sobre a física de Einstein, mas temos a preocupação de fazê-lo sair dela cheio de curiosidade e novas perguntas", diz.


Biografia didática


Knobel ressalta que o aspecto didático da exposição não se restringe à compreensão das teorias do físico nascido na Alemanha. A forte componente biográfica presente é importante para desmistificar a pessoa de Einstein. "Tentamos mostrar que Einstein foi uma pessoa como todos nós e enfrentou problemas familiares, divórcio e dificuldades", explica.

Retratada em todas as suas dimensões, a atribulada vida do físico ajuda também a compreender diversos aspectos culturais do século 20, pois o material exposto não se destina apenas a quem gosta de física, mas também a quem se interessa por saber mais sobre o mundo em que vivemos. "A idéia não é que o visitante saia dominando conceitos da física, mas que saia com número ainda maior de perguntas, estimulado a saber mais", filosofa o coordenador.

A mostra inclui objetos do acervo pessoal do físico, como fotos em momentos de lazer, ou recebendo o Prêmio Nobel, além de reproduções das cartas trocadas com o psicanalista Sigmund Freud (nas quais o exortava a juntar esforços e usar a influência política de ambos para lutar contra a guerra) e com o físico Niels Bohr, que em uma delas troca farpas com Einstein, referindo-se à celebre frase do físico alemão: "Deus não joga dados".

O acervo pessoal traz peças impagáveis, como uma carta de 1901 do cientista à namorada, Mileva Maric, que conhecera no Instituto Federal Suí­ço de Tecnologia e seria sua primeira mulher: "Minha querida gatinha. Acabo de ler um maravilhoso artigo sobre a geração de raios catódicos para a luz ultravioleta".

Os trechos dos diários de Einstein apresentados também reservam momentos curiosos, como as anotações sobre sua visita ao Rio de Janeiro em 1925: "Deliciosa mistura étnica nas ruas. Portugueses, índios e negros em todos os cruzamentos. Espontâneos como plantas, subjugados pelo calor. Experiência fantástica. Uma indescritível abundância de impressões em poucas horas".
A exposição ainda retrata a relação de Einstein com familiares, as viagens, a atuação pacifista durante a Segunda Guerra Mundial e a luta contra o racismo. São mostrados também diversos momentos históricos, como a manchete do jornal Times, de Londres, em 7 de novembro de 1919, que transformava Einstein repentinamente em uma celebridade mundial: "Revolução na ciência. Nova teoria do Universo. Idéias de Newton derrubadas".


Destaques interativos


Escolas e grupos de estudantes podem agendar visitas monitoradas por educadores especializados. A exposição oferece um curso gratuito para os educadores, no qual são fornecidos subsídios teóricos para a preparação das visitas com os alunos e para o trabalho em sala de aula. Esses cursos, denominados "Encontro de educadores", têm três horas de duração e acontecem às quartas-feiras e sábados. No percurso da mostra foram montados dois laboratórios de aprendizado, onde os estudantes participam de atividades que abordam conceitos vistos na exposição.

Um dos laboratórios permite que os visitantes vejam, com o auxílio de microscópios, o movimento browniano, descrito por Einstein em 1905. No outro laboratório, os estudantes podem explorar as propriedades da luz, realizando experimentos de espectroscopia óptica.

A exposição dedica um bom espaço ao episódio que tornou Einstein uma celebridade mundial – e que teve relação com o Brasil. Em 29 de maio de 1919, uma observação de um eclipse feita em Sobral, no Ceará, e na ilha de Príncipe, na África, mostrou que a gravidade do Sol agia como uma lente, desviando a luz das estrelas distantes que apareciam no céu em posições diferentes das originais. Era a confirmação de uma previsão feita por Einstein em 1916, corroborando a Lei da Relatividade Geral.

Estão presentes painéis explicativos e interativos sobre os conceitos relacionados a buracos negros, o efeito fotoelétrico, as reflexões sobre a luz e o tempo, a gravidade, a curvatura do espaço-tempo, e a Teoria da Relatividade Geral.

A instalação "Teia de luz" propõe ao visitante o desafio de atravessar uma sala cortada por feixes de luz sem tocá-los. Uma obra do artista Guto Lacaz demonstra que o ritmo com que flui o tempo depende do referencial e da velocidade do observador. A instalação interativa "Máquina do tempo" exibe a variação da passagem do tempo proporcional à velocidade relativa do visitante que, ao fornecer a data de nascimento, pode observar em vários relógios que idade teria se estivesse viajando em diferentes frações da velocidade da luz.

Outro destaque, na seção "Legado", é a instalação "OP_ERA: Sonic Dimension", das artistas Rejane Cantoni e Daniela Kutschat, uma "harpa de luz" que remete às inspirações artísticas provenientes das teorias de Einstein. A mostra apresenta também um painel com cartas escritas ao cientista por crianças de sua época.


EINSTEIN


Pavilhão Engenheiro Armando de Arruda Pereira – Parque Ibirapuera, Portão 10, até 14 de dezembro.
De terça a sexta, de 9h às 21h; sábados, domingos e feriados das 10h às 21h.
Ingressos a R$ 15 (meia-entrada de R$ 7 para estudantes e professores); grátis para menores de 7 anos, maiores de 60 anos e excursões agendadas de grupos de escolas públicas.
Telefone para agendamento: 0300 789 0002 ou (11) 3468-7400

http://www.einsteinbrasil.com.br/einstein/

Autor

Fábio de Castro


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