NOTÍCIA

Ensino edição 222

Mestrados profissionais crescem no Brasil

Em seis anos, número de cursos triplicou

Publicado em 03/10/2017

por Marleine Cohen

pratica

O Brasil ainda é um país que forma poucos mestres e doutores proporcionalmente à sua população. Em 2016, segundo dados da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), existiam 59,6 mil mestres e 20,6 mil doutores titulados no Brasil, o que sequer corresponde a 0,1% da população brasileira.

Esse baixo índice se deve a uma série de fatores, entre eles a baixa oferta e a forma como esses cursos se configuraram no Brasil. Em geral, eles exigem dedicação exclusiva dos alunos, o que em outras palavras significa afastamento do mercado de trabalho. Como não há uma abundância de bolsas de estudo e como o valor delas está longe do ideal, fica fácil entender por que há tão poucas pessoas matriculados em programas de pós-graduação stricto sensu.

No entanto, esse cenário pode estar em transformação. A busca por conhecimento aplicado por meio de formação compatível com o exercício profissional está impulsionando a multiplicação dos cursos de mestrado profissional em todo o país. Segundo a Capes, o número desses programas praticamente triplicou em seis anos, saltando de 247 para 703. Em 2010, calculavam-se 247 mestrados profissionais e 1.091 mestrados acadêmicos. Em 2016, a proporção já era de 703 para 1.292, respectivamente.

Particularmente apreciados na região Sudeste do país, eles chegam a ser em maior número no Rio de Janeiro – 104 mestrados profissionais contra 75 acadêmicos – e competem quase em pé de igualdade em São Paulo (124 para 140, respectivamente), no Rio Grande do Sul (65 para 90) e no Distrito Federal (16 para 19). Em termos de distribuição por área de conhecimento, a oferta se equipara à de mestrados acadêmicos no campo das ciências da saúde (114 cursos) e está um pouco aquém na área dos programas multidisciplinares: 180 contra 215, respectivamente. Nas ciências exatas e da terra (18 contra 95) e nas ciências agrárias (30 contra 117), porém, a penetração ainda é incipiente.

Programas valorizados
Atender demandas do mercado e, mais especificamente, de empresas é o que moveu a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) a implantar em 2016 o mestrado profissional em Controladoria e Finanças.

O curso recebeu uma “procura excepcional, especialmente se considerarmos que as matrículas foram abertas no meio do ano”, como aponta a coordenadora Maria Thereza Pompa Antunes. Ao todo, são 20 alunos, todos profissionais do mercado na faixa de 35 a 48 anos, que já acumulam certa bagagem e querem ampliar seus conhecimentos e “ter uma intelectualidade certificada”, conta. Dado o sucesso, a Fipecafi planeja ciar um doutorado na mesma modalidade nos próximos anos (leia mais acima).

Outra instituição que deu atenção a essa movimentação de mercado foi o Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, que acaba de lançar o mestrado profissional em Arquitetura, Urbanismo e Design. A proposta, segundo o programa, é preparar os estudantes para a prática profissional por meio de métodos com rigor científico. Espera-se, com isso, atualizá-los quanto aos avanços científicos e tecnológicos e ampliar seus repertórios de competências de modo que possam atuar tanto no mercado de trabalho como no universo acadêmico. Justamente por isso, o pró-reitor institucional, Turguenev Oliveira de Oliveira, acredita que a multiplicação de cursos dentro dessa modalidade deve ser encorajada no Brasil.

No radar do Belas Artes está a formulação de outro mestrado profissional. O curso, ainda em processo de maturação, versará sobre a área de comunicação e artes e contemplará campos de conhecimento como jornalismo, publicidade, relações públicas e rádio e televisão.

Soluções para problemas reais
Descobrir o que ocasionava tão significativa perda de insumo na operação de transporte de salmão do Chile para o Brasil é o que levou o aluno de uma grande importadora de pescado a ingressar no curso de mestrado profissional em Processos Industriais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), anos atrás. Na sala de aula, uma ou outra vocação para a carreira acadêmica, mas, acima de tudo, profissionais reunidos em torno do firme propósito de resolver problemas do dia a dia.

“Colocamos termostatos que monitoraram a variação de temperatura dos contêineres de peixe ao longo da viagem e descobrimos que não havia ventilação suficiente entre eles. Por isso, ele apodrecia. As cargas se moviam durante o trajeto, de maneira que acabavam apoiadas umas nas outras, elevando a temperatura local. Além disso, no trecho dos Andes, muito acidentado, os caminhoneiros costumavam desligar o ar-condicionado para dar mais potência ao motor”, explica Eduardo Luiz Machado, responsável pela coordenadoria de ensino tecnológico.

No IPT, a procura pela modalidade se sustenta desde a criação do primeiro curso, em 1997. “Temos muitos clientes para quem os mestrados profissionais funcionam como uma espécie de consultoria de alto nível”, justifica, antecipando que a escola já está se preparando para oferecer o seu primeiro doutorado profissional, na área de habitação, em 2019.

Perfeitamente compatíveis com o dia a dia profissional de qualquer aluno, as aulas acontecem à noite, quatro vezes por semana, e o diploma é outorgado ao cabo de dois anos e meio, mediante apresentação de um artigo científico a ser avaliado por uma banca e redigido no prazo máximo de um ano e meio.

Nas Faculdades Educatie, de Mogi das Cruzes, a proposta é um pouco diferente: imersão total no campo da psicogerontologia nas noites de sexta e aos sábados, num total de 12 horas de aula semanais seguidas, ao longo de 24 meses. “Em geral, os alunos que vêm de fora costumam pernoitar em hotel da cidade para poder fazer o curso”, conta Vera Socci, coordenadora do programa de mestrado.

Apesar de exigir certa logística de hospedagem, o curso, instituído em 2014 e de âmbito multiprofissional, já está em sua 7ª turma e tem boa receptividade: “O Brasil está envelhecendo e, na visão do mercado, o profissional da área de saúde precisa estar capacitado em técnicas inovadoras para poder atender esse público”, avalia. Entre os alunos, há desde psicólogos e psiquiatras até fisioterapeutas, nutricionistas, enfermeiros, pedagogos e biomédicos interessados nas três linhas de pesquisa formuladas. Ao todo, são 20 vagas na escola, que, ainda segundo Vera, “tem tido ótimo feedback, com convites para congressos e publicações”.

Autor

Marleine Cohen


Leia Ensino edição 222

pratica

Mestrados profissionais crescem no Brasil

+ Mais Informações
negocio

Fábrica de novos negócios

+ Mais Informações
transformação

Instituição conta como foi o processo de adoção das metodologias...

+ Mais Informações
comunidade

Universidade Feevale cria programa de inovação aberta

+ Mais Informações

Mapa do Site