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Mestres no Ciberespaço

Blogs ampliam o espaço educacional de professores e alunos com possibilidade de partilhar informações de forma criativa e prazerosa

Publicado em 10/09/2011

por Beatriz Levischi

O exercício de “blogar” – postar mensagens nessa espécie de diário pessoal cibernético – permite ao professor refletir sobre sua atividade, trocar idéias com os colegas, oferecer referências interessantes aos alunos, ampliar os encontros presenciais e tornar suas iniciativas mais visíveis e prazerosas.

Quem defende a idéia é a educadora Betina Von Staa, doutora em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC-SP e coordenadora da área pedagógica do Portal Educacional (www.educacional.com.br), do Grupo Positivo. “É possível, também, aproximá-los ainda mais dos meninos, por meio da descoberta de paixões em comum”, completa.

No cotidiano escolar, os
blogs

– gratuitos e fáceis de usar – ganham variadas funções, como relatar trabalhos realizados em equipe, organizar conteúdos, reunir anotações de aula, discutir e elaborar projetos. “Por meio dos comentários, abre-se o diálogo entre educadores e educandos, que se revezam no papel de escritores, leitores e pensadores”, conta Sônia Bertocchi, professora de língua portuguesa, com especialização em Literatura Brasileira.

Dona do Lousa Digital,
blog

destinado à formação de docentes, Sônia pesquisa desde 1997 maneiras de incorporar a internet à sua prática pedagógica. Garante que a vantagem é tornar o registro do processo mais completo, pois a ferramenta fornece espaço para publicar experiências, imagens e depoimentos, culminando numa espécie de “relatório detalhado de tudo”. “Passamos, então, a construir saberes e redes sociais, a reinventar nossa atuação”, diz.

As conquistas, segundo Betina, são várias. Os professores que se aventuram pela blogosfera sentem-se mais motivados e têm sua auto-estima elevada, pois se percebem capazes de criar algo novo. “Quando recebem mensagens de seus alunos, de outras escolas ou até mesmo de outros Estados, compreendem a verdadeira dimensão do seu trabalho. E dão aos estudantes a oportunidade de descobrir jeitos variados e produtivos de relacionar-se com o conhecimento, desenvolvendo um raciocínio mais complexo”, relata.

Para detectar a influência das novas tecnologias na aprendizagem é necessário, por um lado, olhar as possibilidades que elas oferecem e, por outro, as habilidades que demandam do usuário para serem operadas. Mirna Feitoza, doutora em comunicação e semiótica e coordenadora do Grupo de Pesquisa Semiótica sobre a Linguagem dos Games, na PUC-SP, exemplifica: “Blogando, os jovens entram em contato, de forma autônoma, com ferramentas de publicação gratuitas; lidam com sistemas de busca para manter sua página atualizada; reinventam a própria linguagem verbal, burlando as regras estabelecidas; esforçam-se para usufruir os softwares de programação visual, incrementando uma ou outra coisa no design; capturam e manipulam imagens”, resume.

O grande desafio está em equipar as escolas e formar os professores, evitando focar na parte estritamente técnica do processo: “As oficinas devem incentivá-los a navegar e a produzir seus próprios materiais. Os educadores que têm o melhor desempenho atuam de maneiras variadas, ao invés de optar apenas por aulas expositivas”, justifica Betina.

Mas é preciso estar aberto para aprender com os próprios alunos e inverter uma relação de saber perpetuada há séculos. Afinal, muitas vezes, os jovens dominam o computador melhor do que os adultos. A “colaboração mútua”, como define Claudemir Viana, doutor em Ciências da Comunicação, pode começar no laboratório de informática. “Depois, o professor passa a construir seu caminho exploratório e a planejar as situações que o auxiliem no processo educativo”, sugere.

Integrar a tecnologia ao currículo de forma eficaz, tornando seu uso natural, por fim, mostra-se fundamental. “E por natural entende-se a possibilidade de ter acesso à máquina para consultas na hora em que surge a curiosidade, deixá-la fazer parte do dia-a-dia e não guardá-la para momentos especiais, do tipo ‘agora vamos usar o computador'”, defende Betina.


Professores blogueiros

No “Escrevendo com Escritor” (
http://escrevendocomescritor.zip.net

), Andréa Toledo, graduada em letras, com especialização em Informática na Educação, convida autores para iniciar uma história e propõe que os alunos da Biblioteca Digital Josué Inácio Peixoto, em Minas Gerais, a continuem.

Durante as postagens, as crianças interagem com o escritor, que fica responsável por finalizar o processo. A oportunidade de ver seus textos
on-line

, garante Andréa, incentiva a participação dos pequenos: “Atualmente, estão trabalhando com poesia, e a produção foi tanta que não consegui publicar”.

Gládis dos Santos, especialista em língua portuguesa, atualiza o “Palavra Aberta” (
http://palavraaberta.blogspot.com

) desde 2005. Busca promover o intercâmbio entre estudantes de escolas geograficamente distantes por meio da divulgação de textos produzidos a partir de um tema comum, debatido em sala de aula. “É interessante notar a preocupação com os erros de acentuação e com a ortografia. Muitos chamam o professor para dar uma olhada antes de apertar o botão”, diz.

Além das funcionalidades comuns a todos os
blogs

, o “Palavra Aberta” oferece recursos como a gravação de comentários em áudio (destinado aos alunos com deficiência visual) e a realização de videoconferências. A iniciativa ficou em 3° lugar no Prêmio Blopes (categoria “Melhor
blog

feito por um professor”), que elegeu trabalhos relevantes de Portugal, Espanha e Brasil.

Marli Fiorentin, formada também em letras, decidiu criar seu primeiro
blog

em 2004, após conhecer a ferramenta num Seminário de Tecnologia na Educação. “Busquei tirar dúvidas e discutir o uso pedagógico da tecnologia junto a outros educadores da internet, em fóruns e listas de discussão”, lembra.

No “Ficção Versus Realidade” (
http://ficrealidade.blogspot.com

), destinado aos alunos da 8ª série, a professora aborda tópicos estudados na escola, por meio de obras literárias. “Os adolescentes comunicam-se com os autores e com jovens de outras instituições, analisam os textos publicados e ganham espaço para divulgar suas próprias produções”, explica.

A mudança em relação às atividades presenciais está na exigência de uma reflexão mais apurada, demandada pelo ato de escrever. “Quem não sabe se expressar pode gerar mal-entendido, já que o leitor não está presente para questionar”, justifica. Aprender a aceitar as diferenças nos assuntos que provocam polêmica é outro desafio oferecido pelo
blog

. Ao longo da jornada, Marli ganhou uma infinidade de colegas virtuais, com os quais trabalha em rede, utilizando estratégias comuns.


Caminhos próprios

No Educacional (
www.educacional.com.br

), do Grupo Positivo, estimula-se que cada internauta descubra uma maneira pedagógica própria de usar o
Blog

do Professor, ferramenta que permite criar um espaço na Rede com título e apresentação (tanto do autor, quanto do
blog

),
posts

, contador de visitas e
links

interessantes.

“A idéia surgiu em 2004, após a experiência bem-sucedida do Construtor de Páginas, em que era possível montar sites com a assinatura automática do Portal, mas o projeto vingou no segundo semestre de 2005”, conta Betina von Staa, coordenadora da área pedagógica. Quem navegar pelos inúmeros
blogs

publicados encontrará simulados, trabalhos a serem comentados e sugestões de
links

para pesquisa, misturados a fotos da turma, poesias, letras de música e notícias da atualidade.

Maria Izabel Schonardie, professora de geografia da Escola São João, no Rio Grande do Sul, dá preferência às novidades e curiosidades da área. “Apesar de terem seus próprios
blogs

, os alunos adoram, porque aqui as informações são direcionadas à disciplina. Quando menciono a história de uma data comemorativa, por exemplo, eles sempre querem saber mais”, diz.

Para Flávio de Azevedo, professor de física e matemática do Colégio Isaac Newton, em Brasília, a ferramenta serve como complemento à aula presencial: “Minha primeira postagem foi o gabarito de uma prova, e o número de acessos surpreendeu”. Os preferidos são os desafios com direito a prêmios. “Quem não tem acesso à internet em casa recebe a proposta numa folha de papel, mas sai reclamando”, confessa.

A maior vantagem, para Maria Izabel, está em renovar continuamente sua formação: “Receber um número expressivo de comentários de outros profissionais da área enobrece meu trabalho e mostra que estou no caminho certo”.

Para Flávio, apesar de toda novidade apresentar certa dificuldade inicial, um pouco de boa vontade e ajuda coletiva tratam logo de resolver o problema. “Agora, eu posso estender minha aula ao computador dos meninos. Quando falo sobre determinado assunto, digo para darem uma olhadinha no
blog

, que deixarei um texto, vídeo ou
link

, e no próximo encontro eles comentam”.



O QUE É BLOG

 

Os blogs são um dos maiores e mais velozes fenômenos comunicacionais da área digital. Em menos de dois anos e meio – de outubro de 2004 a janeiro de 2007 – saltaram de 4 milhões de páginas ativas para 63 milhões. A aceleração da criação dos novos diários também foi grande: de 12 mil novas páginas por dia em outubro de 2004 a 63 milhões em janeiro deste ano.

Blog é a abreviação de weblog, palavra criada em 1999 para designar qualquer registro freqüente de informações na Web, apresentado em ordem cronológica decrescente – assim, no topo da lista aparece a mensagem (post) mais recente e abaixo dela vêm as anteriores.

Na época, a tradução do termo como “diário na internet” bastava para explicar sua natureza. De lá para cá, porém, eles deixaram de restringir-se a relatos de adolescentes sobre suas idas ao cinema, coletâneas de poesias e idéias de como dominar o mundo, para abrigar temas e gêneros discursivos variados.

Há blogs que são resultado da colaboração de um grupo de pessoas. Outros se voltam para o entretenimento. Vários internautas utilizam a ferramenta com objetivos profissionais. Jornais e colunistas famosos apostam neste formato, que tem constantemente dado furos na grande imprensa. Grandes corporações já aderiram à blogosfera, utilizando-a como ferramenta de relacionamento com clientes e funcionários.

A linguagem é coloquial, e os posts são breves. Há intertextualidade (ligações para outras páginas) e espaço para comentários dos leitores. Cabem, ainda, fotografias, vídeos e arquivos de áudio. Um dos principais desafios para atrair e manter visitantes é a atualização freqüente.

Por meio de softwares de edição on-line, é possível publicar conteúdo sem saber como são construídas as páginas na internet, ou seja, sem conhecimento técnico especializado – se ele existir, porém, o blog pode ser incrementado, ganhando design exclusivo.

Autor

Beatriz Levischi


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