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Edição 222

Nas teias da corrupção

  Cenas de Leviatã: quando a lei do mais forte se impõe à letra da lei   Os grandes eventos esportivos tendem a cercar os países que os sediam de uma atenção da mídia muito superior ao espaço habitual­mente ocupado por eles. Esse fenômeno deve […]

Publicado em 06/10/2015

por Sérgio Rizzo

 

Divulgação
Cenas de Leviatã: quando a lei do mais forte se impõe à letra da lei

 

Os grandes eventos esportivos tendem a cercar os países que os sediam de uma atenção da mídia muito superior ao espaço habitual­mente ocupado por eles. Esse fenômeno deve se repetir em breve com a Rússia, que organizará a Copa do Mundo de futebol – e sobre a qual pouco somos informados, com exceção de catástrofes e grandes eventos políticos. Pois é preciso dizer que temos muitas coisas em comum com a sociedade russa, e uma delas, para infelicidade deles e nossa, reside no grau de corrupção enraizada na gestão pública e na iniciativa privada.

Leviatã (Rússia, 2014, 140 min) nos apresenta a esse monstro, visto com lente de aumento a partir de pequenos eventos em uma cidade costeira, relacionados à desapropriação da antiga casa onde vivem Kolya (Aleksey Serebryakov), sua segunda mulher, Lilya (Elena Lyadova), e seu filho adolescente do primeiro casamento, Romka (Sergey Pokhodaev). O terreno onde fica o imóvel interessa a um negócio no qual está envolvido o prefeito (Roman Madyanov), que aterroriza os moradores com procedimentos mafiosos de quem controla a cidade como se fosse propriedade particular.

A chegada de um advogado de Moscou, amigo de Kolya, parece destinada a colocar as coisas no seu devido lugar. O que ela provoca, no entanto, é um acirramento de tensões, ao iluminar como a lei do mais forte (e daquele que tem boas relações com os mais fortes do que ele) se impõe à letra da lei. Não surpreende que autoridades russas tenham se queixado da boa recepção internacional a Leviatã: a representação operada pelo diretor Andrey Zvyagintsev, em parceria com o corroteirista Oleg Negin, tem mais força do que reportagens amistosas sobre a Rússia como as que veremos às dúzias, sobretudo na televisão e na internet, à medida que a Copa de 2018 se aproximar.

Calendário esportivo
A mídia de dezenas de países dedica esforços de cobertura a grandes eventos esportivos, como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo de futebol, porque atraem a atenção de boa parcela do público e, também, porque concentram grandes verbas publicitárias e de patrocínio.

Drama Familiar
Além do interesse sociopolítico, a representação de Leviatã possibilita também, por meio de seu drama familiar, que outros aspectos da sociedade russa sejam examinados, como o papel reservado à mulher nas esferas pública e privada, e a elevada incidência de alcoolismo na população.

Filmografia
Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes e indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, Leviatã confirma o talento do diretor e roteirista Andrey Zvyagintsev, 51 anos, como um cronista sociopolítico da Rússia contemporânea, depois de O retorno (2003) e Elena (2011).


FILMOTECA

Público x privado

Confira alguns filmes que também examinam o tema-chave de Leviatã, a corrupção enraizada na sociedade:

Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita (1970)
Clássico do cinema político realizado na Itália durante os anos 1960 e 1970, dirigido por um mestre do gênero, Elio Petri (A classe operária vai ao paraíso). Um veterano e respeitado policial (Gian Maria Volonté) comete um crime e deixa pistas propositais que levam a ele, desafiando os mecanismos de investigação que protegem alguns e expõem outros.

Chinatown (1974)
Vencedor do Oscar de roteiro original (escrito por Robert Towne) e indicado em outras 10 categorias, incluindo melhor filme, diretor (Roman Polanski), ator (Jack Nicholson) e atriz (Faye Dunaway). No final dos anos 1930, em Los Angeles, um detetive investiga um caso de adultério e termina envolvido em uma rede de corrupção em torno do fornecimento de água.

A árvore, o prefeito e a midiateca (1993)
O diretor e roteirista Eric Rohmer, um dos principais cineastas da nouvelle vague francesa, faz uma crônica divertida sobre a dificuldade em estabelecer prioridades na gestão pública e os efeitos de pressões da iniciativa privada. Um professor (Fabrice Luchini) enfrenta o prefeito socialista que anuncia a construção de uma moderna biblioteca.

Terra prometida (2012)
O diretor Gus Van Sant (Elefante) e o ator Matt Damon (da franquia Bourne) se reúnem novamente, depois de trabalharem juntos em Gênio indomável (1997), para narrar a história – roteirizada por Damon e pelo também ator John Krasinski – de um vendedor de gás natural cuja empresa quer atuar em uma pequena cidade dos EUA.

Relatos selvagens (2014)
Um dos criadores do seriado argentino Los simuladores, o diretor e roteirista Damián Szifron faz um longa em seis episódios que, em ao menos três casos, lida com situações de corrupção: o de uma garçonete que reencontra um personagem do seu passado, o de um cidadão às voltas com problemas de estacionamento e o de um assassinato a ser encoberto.

Autor

Sérgio Rizzo


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