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O acervo da educação

Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Educação da USP, que ganhará novo espaço em 2010, é um dos mais completos do Brasil

Publicado em 10/09/2011

por Rubem Barros


Volume de 1615, do acervo Paulo Bourroul: médico buscava edições raras na Europa

Um dos maiores acervos sobre educação do Brasil, senão o maior, ganha, a partir de meados de 2010, um novo espaço. Trata-se do Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, que, segundo dados de 2008, congrega mais de 206 mil livros, além da assinatura de 135 periódicos.

Boa parte do acervo migrará para um novo prédio, construído à frente da Faculdade de Educação exclusivamente para abrigar a biblioteca. O atual, que funciona num espaço ainda remanescente do antigo prédio do Centro Regional de Pesquisas Educacionais Prof. Queiroz Filho (CRPE-SP), extinto em 1974, não comporta mais a estrutura, além de o espaço carecer de configuração mais adequada para receber os pesquisadores que a ele se dirigem, segundo a diretora Miguelina Alves Flexa.

"Antes, ter um bom acervo bastava. Hoje, o conceito mudou. Os acervos virtuais trouxeram uma nova realidade. Para que o pesquisador venha até a biblioteca, é preciso dispor de um ambiente confortável, com boas poltronas, que o seduza. Caso contrário, ele preferirá ficar em casa, fazendo tudo pela internet", resume Miguelina.

Se o conforto é sedutor, a peça de resistência, no entanto, continuará a ser o acervo. Sua própria constituição já é reveladora de alguns aspectos da educação brasileira. As duas fontes iniciais do Serviço de Biblioteca foram a biblioteca do antigo Departamento de Educação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP – departamento este que se transformaria em unidade autônoma a partir de 1970 – e a biblioteca do CRPE-SP, órgão do governo federal criado em 1956 para incrementar as pesquisas educacionais na região Sudeste do país. Pelo CRPE, passaram, entre outros, os educadores Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira, dois dos artífices do movimento Escola Nova. 

A essas coleções foram adicionadas outras, hoje batizadas de acervos especiais. Os principais são a Coleção Paulo Bourroul, originária da primeira Escola Normal de São Paulo, que até 1976 estava em posse do Instituto de Educação Caetano de Campos, e a Coleção Macedo Soares, doada pelo ex-embaixador brasileiro na Bélgica e Itália e ministro das Relações Exteriores no governo Vargas (1936-1937).

Há, ainda, um terceiro que tende a ganhar em relevância, pois tem sido a fonte de muitas pesquisas acadêmicas sobre um tema que cresceu em importância nos últimos anos: o acervo do livro didático. Resultado do trabalho de um grupo de pesquisa constituído em 1993 (Educação e memória: organização de acervo de livros didáticos) e liderado pela professora Circe Bittencourt, a Biblioteca do Livro Didático da Faculdade de Educação reúne 12 mil títulos didáticos brasileiros, de 1810 até hoje. Conta com um banco de dados, o Projeto Livres (livros escolares), que cataloga as informações sobre o acervo, além de imagens de capas e ilustrações. O Livres pode ser acessado de forma remota. O Serviço de Biblioteca conta, ainda, com uma midiateca com mais de 4 mil títulos, contendo aulas de professores, palestras e pesquisa de campo registradas em som e imagens. Mais de 80% desse acervo já está em DVD. Os 20% restantes devem estar prontos até o ano que vem, quando a midiateca será reaberta ao público.


Um acervo especial


O médico Paulo Bourroul, que dá nome ao acervo que começou a constituir-se no Colégio Normal de São Paulo no século 19, teve participação efetiva entre os cidadãos paulistanos que atuaram para ajudar a universalizar a formação primária no estado. Como registra Analete Shelbauer no artigo "Manifestações da ação de particulares e de professores de primeiras letras em prol da escolarização em São Paulo no final do século 19", Bourroul foi um dos presentes em reunião na casa de Leôncio Carvalho que tinha como finalidade "organizar os cursos primário e geral do Liceu de Artes e Ofícios da capital". Carvalho foi um dos principais articuladores da expansão do ensino no final do Império. Seu grupo defendia a importância da educação como fator de desenvolvimento para o país.

Segundo Vera Lúcia Cardoso, especialista em conservação de acervos que trabalha no Serviço de Documentação da Feusp desde 1987, "o próprio Bourroul ia à Europa caçar obras para a cultura escolar e geral". "São obras lindíssimas, de várias áreas, algumas eram raridades já naquela época", diz. Em 1972, parte do acervo, que estava no Colégio Caetano de Campos, foi doada à Faculdade de Educação. Na sua maioria, são obras dos séculos 18, 19 e 20, de origem francesa, inglesa, italiana e espanhola.

Entre as mais antigas, destacam-se os dois tomos de Asia Portuguesa, escritos em português arcaico por Manuel de Faria y Sousa e editados em 1655 e 1671. Também do acervo é a Chronica do Felicíssimo Rey Dom Emanoel da Gloriosa Memória, de Damião Góes, com datação provável de 1615. No quesito antiguidade, no entanto, o pioneiro é Dialogo Primeyro de Varia Historia, de 1597, que narra a "antiga fundação da cidade de Coimbra, a derivação de seu nome e a exposição de suas causas".

Serviço de Biblioteca e Documentação

Avenida da Universidade, 308, Cidade Universitária, São Paulo Telefone: (11) 3091-3433


Endereço eletrônico:


www.fe.usp.br/biblioteca



E-mail:

bibfe@edu.usp.br

Horário de funcionamento:

de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 21h30; sábados, das 9 às 13h (apenas durante o período letivo)

Autor

Rubem Barros


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