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Paleontologia

Há pouca novidade nas novas práticas pedagógicas

Publicado em 10/09/2011

por José Pacheco

Diz a Maria: "você está desajustado pedagogicamente. Os tempos são outros, a ideia de que a escola deve ser apenas brincadeira já provocou ignorantes a mais". Pois é, Maria…os tempos são outros, mas as práticas são as mesmas e de recuados tempos. Eu sei, porque também fui professor "transmissor". Foi isso que me ensinaram desde a carteira da escola primária até à universidade. Durante algum tempo, dei aula e acreditei (santa ingenuidade!) ser possível transmitir conhecimentos. Até que descobri algo que qualquer professor sem síndrome de pensamento único pode descobrir: que há outros modos de ser professor e que o professor não transmite o que diz, mas aquilo que é.

O que a maioria dos professores tentou (e tenta) fazer não é transmitir conhecimento, é transmitir informação. Mas nem isso consegue transmitir. Há múltiplos "ruídos" que interferem na comunicação. E essa prática hegemônica da "transmissão" já provocou ignorantes a mais. Eu prefiro um professor "tradicional", que tente transmitir conhecimentos, a um professor que considere que "a escola deve ser apenas brincadeira" – mas ambos estão errados. O primeiro porque insiste num modelo fóssil; o segundo porque pratica uma pedagogia fóssil. Explicarei.

Quem padece da síndrome do pensamento único abomina aquilo que designa por "novas pedagogias". Presumo que usem tal adjetivo por ignorância da história da Educação. As "novas pedagogias" que criticam são velhas: Piaget publicou teoria em meados do século XX e as matrizes construtivistas foram elaboradas há quase um século!
Quem aceitaria ser submetido a uma cirurgia comandada por um médico que se orientasse por ciência produzida há meio século? Alguém arriscaria confiar o projeto da sua casa a um engenheiro que se atualizasse na leitura de livros técnicos publicados há cem anos? Mas quem hesita em entregar os seus filhos ao cuidado de quem ainda nem sequer um Piaget, ou um Dewey, assimilou, para elaborar teoria pessoal e a utilizar nas suas práticas?

O debate sobre Educação é paupérrimo, expôs-se ao alvitre de qualquer um e à opinião de todos, transformou-se numa terra de ninguém. Muitos dos responsáveis pela definição de políticas públicas conduziram a política educativa ao desastre, embasando leis em teorias maldigeridas e jamais praticadas. No exercício da profissão, eu senti os efeitos de "reformas" assentes em "construtivismos mal assimilados"…

Diz a Maria que "os tempos são outros". Sê-lo-ão? Ou terá mudado apenas a nomenclatura, mantendo-se a paleontologia teoricista e a mesmice das práticas?
Na sala dos professores de uma escola, cujo projeto político-pedagógico cita vinte vezes Piaget, não consegui disfarçar a minha perplexidade quando escutei este diálogo:
"- Não me sinto preparada. Tenho medo…
 – Medo de quê? Só tens que passar o
conteúdo. Vai ver que é fácil! É só escrever na lousa e eles copiam…".


José Pacheco


Educador e escritor, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves (Portugal)


josepacheco@editorasegmento.com.br

Autor

José Pacheco


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