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para chegar à inclusão

Educadores buscam conhecer melhor universo dos alunos com deficiência para que possam efetivamente realizar um processo de aprendizagem

Publicado em 10/09/2011

por Rubem Barros

Enquanto cursava a pós-graduação lato sensu em língua portuguesa e literatura, a professora Simone Barroco, hoje com 30 anos, foi tomada de curiosidade pelas aulas que ocorriam na sala ao lado da sua. Tratava-se do espaço da especialização em educação inclusiva da Uninove, instituição onde estudava.

Esse contato inicial motivou a educadora a fazer uma segunda especialização. Em agosto de 2005, começou a cursar a pós em educação inclusiva, cuja finalização depende agora apenas de redigir a monografia.

"Estava recebendo alunos com necessidades especiais e não sabia como lidar com eles. Nesse curso, todas as informações que recebi foram novas", conta Simone, que dá aulas de língua portuguesa para alunos de 5a e 6a séries, entre eles portadores de deficiência visual, disléxicos, hiperativos e com atraso no desenvolvimento.

A nova especialização fez, inclusive, com que a professora se habilitasse a um novo emprego. Desde o início de 2006, ela passou a lecionar no Colégio Clip, em Guarulhos, na Grande São Paulo, escola com foco na inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais. A formação específica foi fundamental para que pudesse saber o que de fato é um processo inclusivo e como crianças com diferentes necessidades podem evoluir.

"Dizia-se que havia a necessidade de incluir as crianças, mas eu não conseguia perceber como fazer um trabalho diferenciado. As avaliações eram iguais, tudo era igual. Agora, percebo que a forma de avaliar um portador de necessidades especiais tem de ser diferente. Um aluno com dislexia, por exemplo, pode fazer uma prova oral no lugar da escrita. Antes, não percebia avanço nos alunos. Eram promovidos, mas não evoluíam. Hoje, tenho um aluno com deficiência visual que produz textos maravilhosos", relata.


Ponto de inflexão


As dúvidas e aflições vividas por Simone no período anterior a sua especialização são comuns a muitos docentes e gestores educacionais. Decorrem do novo cenário criado a partir do final de 1996 com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que em seus artigos 58, 59 e 60 dispõe sobre a educação especial e garante o acesso dos portadores de necessidades especiais às escolas regulares.

Desde então, começou-se a falar sobre educação inclusiva e as escolas a efetivamente receber os portadores das diversas deficiências – física, visual, auditiva e mental entre as principais. Do convívio com essas singularidades, emergiram dúvidas sobre como incluir alunos até então distantes da escola ou confinados em escolas especiais e sobre como conciliar os processos de aprendizagem deles com os de outros estudantes. E a certeza de que à maioria dos educadores e escolas faltavam informações suficientes para fazê-lo.

Segundo o Censo Escolar 2005, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), dos 33 milhões de alunos da rede pública de ensino matriculados regularmente em 2004, 640 mil (1,9%) eram portadores de alguma deficiência, sendo que  262 mil (36%) estavam em escolas regulares e 378 mil (64%) em escolas especiais.
Eram portadores de deficiência mental (incluindo a síndrome de Down), 43% do total. A deficiência até então mais acolhida pela escola regular era a visual: cerca de 80% dos portadores freqüentavam suas salas de aula. A seguir, a  deficiência física, com 60%. Entre as pessoas com deficiência mental, a grande maioria, cerca de 75%, estava em escolas especiais.

Os deficientes auditivos estavam divididos quase em igual proporção entre escolas regulares e especiais (48% e 52%, respectivamente). Essa realidade, no entanto, deve mudar de forma acentuada nos próximos anos, já que o ensino de libras, a língua brasileira de sinais, foi regulamentado em decreto presidencial de 2005 como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores, o que inclui todas as licenciaturas.

Com esse novo cenário, a oferta de cursos de extensão e especialização universitária tem se multiplicado nos últimos anos para atender a demanda por mais conhecimento sobre o assunto. Isso tem ajudado a consolidar uma visão mais concreta dos fatores que concorrem para uma real inclusão dos alunos especiais.

Segundo Luíza Russo, presidente do Instituto Paradigma, organização da sociedade civil de interesse público voltada à inclusão social nos planos educativo e econômico, o grande desafio atual de educadores e da sociedade é alinhar a inclusão a um plano de trabalho pedagógico e deixar para trás um enfoque centrado na reabilitação e nos aspectos clínicos da deficiência.

"Por muito tempo, o professor se desviou de sua função de educador. As reuniões de planejamento pedagógico se transformavam em reuniões de discussão de caso. Havia uma visão de que essas crianças podiam pouco. A deficiência faz parte, mas não é o sujeito todo", diz Luíza.

O Paradigma oferece assessoria a municípios para a formação de professores, trabalhando com três prefeituras paulistanas. Também atua junto a colégios e oferece, em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), um ambiente on-line para cursos a distância. Segundo Luíza, as várias vertentes do trabalho estão calcadas em vivências profissionais: "Há uma busca por uma formação instrumental, pautada pela experiência". 

Foi a mesma percepção que levou o Centro Universitário Feevale, em Porto Alegre, a criar seu curso de pós-graduação em educação inclusiva, especialização de 550 horas elaborada a partir de demandas de escolas e educadores que precisavam de orientação para receber os novos alunos.

"Os alunos estavam sendo integrados sem adaptação curricular, do espaço físico e dos materiais", diz Dalila Backes, coordenadora da especialização na instituição. Para ela, passada a fase de abertura das portas da escola aos alunos especiais, a grande questão do momento é a avaliação de sua aprendizagem e as adaptações curriculares.  "Se o sujeito precisa de adaptação de estruturas, a escola tem de dar conta disso. O mesmo ocorre com os conteúdos. No caso dos portadores de deficiência mental, por exemplo, é preciso saber como fazer isso sem que o currículo seja empobrecido", defende Dalila.

Considerada referência no tema, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) foi a primeira a criar um programa de pós-graduação específico para a educação especial. Desde 1978, seu Centro de Educação e Ciências Humanas formou 350 professores em seu mestrado. No doutorado, mais recente (1999), mais de 30 teses foram produzidas sobre o tema.
"No início, o nome do curso era ‘mestrado em deficiência mental’. As primeiras teses tinham como objeto as classes especiais, então em voga nos EUA. Depois, vieram dissertações que falavam em integração e mais tarde outras sobre inserção. A partir de 2000, o prisma passou a ser o da inclusão", diz a professora Maria Amélia Almeida, coordenadora do curso.

Atualmente, a preocupação central do curso da Ufscar é o despreparo dos professores que lidam com os portadores de deficiência. "Estamos com um projeto de ensino colaborativo na rede pública. Nossos alunos de psicologia e da pós em educação especial vão às escolas trabalhar com professores e alunos. A prática mostrou que essa é a maneira mais eficaz para que aprendam a trabalhar com esse público", relata Maria Amélia.

Na paulistana Uninove, o aluno tem possibilidade tanto de fazer cursos de extensão universitária para formação de professores nas áreas de deficiência visual, auditiva e mental como de obter o título de especialista cursando as três extensões. Segundo Nádia Lauritti, coordenadora da área de educação inclusiva da Uninove, a instituição tem por objetivo instrumentalizar as comunidades externa e interna para lidar com a questão. Como exemplo, cita o fato de os alunos do curso de engenharia terem desenvolvido um modelo de "cubaritmo" (cubos com notação em  braile), usado pelos estudantes deficientes visuais da universidade. "O conhecimento nessa área só poderá crescer quando as pessoas com deficiência estiverem em todos os sistemas de ensino",  reforça Nádia.

Aldeis Almeida, professora de libras do curso, lembra que as pessoas com deficiência estão abrindo um novo mercado de trabalho, pois são consumidoras e prestadoras de serviços. "Muitas dessas pessoas começam a sustentar suas próprias famílias, pois há muita demanda profissional para elas hoje", frisa.


Entidades especializadas


A oferta de cursos também está presente em entidades especializadas como a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) e a Fundação Dorina Nowill para Cegos. A AACD tem uma pós-graduação lato sensu voltada ao "Tratamento de Reabilitação em Deficiência Física", que começa a ser freqüentada por educadores. "Oferecemos uma visão global do tratamento de reabilitação, que é multidisciplinar. O educador vai entender por que certa patologia necessita de adaptações para que a criança escreva melhor, com o uso, por exemplo, de um lápis mais grosso ou de textura diferente", exemplifica Françoise Sauron, coordenadora administrativa da entidade.

A AACD também oferece uma extensão (40 horas) de formação básica em deficiência física para professores, dividida em 20 horas de teoria (patologias, adaptação do ambiente, universo emocional) e outras 20 práticas (adaptações, métodos de alfabetização).

Já a Fundação Dorina Nowill para cegos atende deficientes visuais e produz recursos em braile e áudio, além de manter um curso de 30 horas que tem como tema a inclusão do deficiente visual. Um de seus principais elementos é o uso de recursos ortópticos, que permitem identificar o tipo de dificuldade visual (no caso de pessoas com baixa visão, 70% do total de deficientes visuais), ajustar as lentes e treinar o seu uso.

"É muito importante que o professor compreenda a baixa visão. Muitas vezes, a criança enxerga uma coisa e não enxerga outra. Depende de fatores como claridade, contraste claro e escuro, distância etc.", explica a professora Maria Lúcia Amiralian, diretora do atendimento especializado da fundação.


Alunos acolhem, professores discriminam


Aos 25 anos, Leonardo Laranjeira Torres dá aulas para estudantes da 7a série ao 3o ano do ensino médio. Tem especializações em língua portuguesa e literatura e em educação inclusiva.

Anda com o auxílio de uma bengala, resultado da seqüela da paralisia cerebral de que foi vítima no parto, em razão da falta de oxigenação.

Em sala de aula, diz ter os mesmos problemas que outros professores. Os alunos não o poupam da bagunça, mas nunca se sentiu discriminado por eles. Já de seus pares não pode dizer o mesmo.  "O preconceito está presente. As pessoas olham parte da gente, não a gente como um todo", diz Leonardo. Para ele, a especialização em educação inclusiva contribuiu para que tivesse mais e melhores informações técnicas sobre as diversas deficiências. 

Onde Estudar

Conheça as principais instituições de ensino que oferecem cursos de educação especial e inclusiva:

Rede NacionalAssociação de Pais e Amigos dos Excepcionais

www.apaebrasil.org.br


Alagoas


Universidade Federal de Alagoas

www.ufal.br




Amazonas

Universidade Federal do Amazonas

www.ufam.edu.br




Bahia


Universidade do Estado da Bahia

www.uneb.br


Universidade Federal da Bahia

www.ufba.br




Ceará


Universidade Estadual do Ceará

www.uece.br


Universidade Federal do Ceará

www.ufc.br


Distrito Federal


Universidade Católica de Brasília

www.ucb.br


Universidade de Brasília

www.unb.br


Espírito Santo


Universidade Federal do Espírito Santo

www.ufes.br


Goiás


Universidade Federal de Goiás

www.ufg.br


Maranhão

Universidade Federal do Maranhão

www.ufma.br


Mato Grosso

Universidade do Estado do Mato Grosso

www.unemat.br


Mato Grosso do Sul


Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

www.ufms.br


Minas Gerais


Apae-Pará de Minas

www.apaepm.org.br


Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais

www.pucminas.br


Universidade Federal
de Minas Gerais

www.ufmg.br


Pará


Universidade do Estado do Pará

www.uepa.br


Paraná


Pontifícia Universidade Católica do Paraná

www.pucpr.br


Universidade Estadual do Oeste do Paraná 

www.unioeste.br


Universidade Estadual do Centro-Oeste  

www.unicentro.br


Universidade Federal do Paraná

www.ufpr.br


Universidade Tuiuti do Paraná

www.utp.br


Pernambuco


Universidade Federal de Pernambuco

www.ufpe.br


Rio de Janeiro

Unigranrio

www.unigranrio.br


Universidade Candido Mendes

www.ucam.edu.br


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

www.proped.pro.br


Universidade Federal Fluminense

www.uff.br


Instituto Nacional de Educação de Surdos

www.ines.org.br


Rio Grande do Sul

Centro Universitário Feevale

www.feevale.br


Faculdade da Serra Gaúcha

www.fsg.br


Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

www.pucrs.br


Universidade Federal do Rio Grande do Sul

www.ufgrs.br


Universidade de Santa Cruz do Sul

www.unisc.br


Santa Catarina


Universidade Federal de Santa Catarina

www.ufsc.br


Universidade do Planalto Catarinense

www.uniplac.net


Instituto de Ensino Superior de Joinville

www.iesville.com.br


São Paulo


Associação de Assistência à Criança Deficiente

www.aacd.org.br


Centro de Estudos da Escola da Vila

www.vila.org.br


Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas

www.fmu.br


Centro Universitário Moura Lacerda

www.mouralacerda.com.br


Centro Universitário Nove de Julho

www.uninove.br


Faculdade Taboão da Serra

www.fts.com.br


Fundação Dorina Nowill

www.fundacaodorina.org.br


Instituto Paradigma

www.institutoparadigma.org.br


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

www.cogeae.pucsp.br


Pontifícia Universidade Católica de Campinas

www.puccamp.br


Universidade Barão de Mauá

www.baraodemaua.br


Universidade de São Paulo

www.usp.br


Universidade Estadual de Campinas

www.unicamp.br


Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita

www.marilia.unesp.br


Universidade Federal de São Carlos

www.ufscar.br

Autor

Rubem Barros


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