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Planejar para criar diferenciais

Investir em infra-estrutura valoriza o ambiente escolar e ajuda a atrair novos alunos

Publicado em 10/09/2011

por Rubem Barros

Sediado desde a sua fundação em um prédio construído nos anos 30 do século passado, o Colégio da Companhia de Maria, no bairro do Grajaú, zona norte do Rio de Janeiro, decidiu investir em infra-estrutura, como forma de estabelecer nova relação com a comunidade.


Há três anos, começou a planejar uma série de reformas para aprová-las junto à instituição mantenedora. Depois de estudar as necessidades estruturais e como queria passar a ser visto pela população, contratou uma empresa para gerenciar a obra e levar a cabo o plano traçado.


Entre as melhorias em curso estão: a reforma de toda a fachada do prédio, a construção de uma cobertura no pátio onde os pais pegam as crianças, novos portões, cabeamento das redes de telefonia e lógica, adoção de paredes com pastilhas (que não precisam ser pintadas) e reforma da área destinada à educação infantil.


Esse conjunto de medidas deve estar concluído até final de 2007.  “Tudo isso faz parte do composto de marketing. A comunidade vê que o colégio está se movimentando, modernizando-se fisicamente. A partir daí, passa a dar atenção também às coisas do lado pedagógico”, diz Alexandre Gomes, gerente administrativo do Companhia de Maria. 


Segundo o administrador, a renovação da estrutura arquitetônica faz parte de um processo de satisfação aos pais. O investimento torna palpável o dinheiro que se aplica na educação dos filhos. “Os pais nos remuneram em troca de serviços. A escola deve fazer com que esse processo de visibilidade do investimento e sua percepção sejam permanentes”, completa Gomes. Como compensação adicional, ainda vê facilitada a captação de novos alunos.


A renovação da estrutura arquitetônica faz parte de um processo de satisfação aos pais, que vêem nisso um retorno do dinheiro aplicado na educação


A opção pelo investimento em infra-estrutura pode significar um dos grandes diferenciais para a escolha de uma escola, acredita o consultor Fernando Barão, da Corus Consultores, empresa que assiste várias entidades educacionais. Ele explica: “Como os discursos pedagógicos são muito parecidos, os pais têm poucos diferenciais palpáveis ao visitar uma escola. A infra-estrutura é um deles, bastante visível”.


Uma pesquisa realizada pela Corus, junto a 25 escolas que atendem a famílias de classe média e média alta da zona sul de São Paulo, corrobora a tese. Nesse universo, entre os dez itens mais importantes para a escolha da escola, quatro estão relacionados à infra-estrutura (existência de um sistema de segurança, laboratórios bem equipados, uso de computadores para atividades pedagógicas e oferta de atividades extracurriculares de esportes e artes, que pressupõe espaços adequados).


Alguns aspectos variam de acordo com o segmento atendido. A existência de espaços verdes, por exemplo, é mais valorizada por pais de alunos da educação infantil. As quadras esportivas, por aqueles que têm filhos no ensino médio ou no segundo ciclo do ensino fundamental (de 5ª a 8ª série). E a segurança é tanto mais valorizada quanto maior for a mensalidade e os problemas da cidade em que o colégio atua. Nos colégios particulares de ponta de São Paulo, é um dos itens em alta.   



Resposta ao novo


Processo semelhante ao da escola carioca viveu outro colégio religioso, o Padre Moye, localizado no Bairro do Limão, zona norte de São Paulo. Construído há 64 anos, o estabelecimento viu-se compelido a reestruturar tanto suas instalações, como aspectos de sua proposta pedagógica. Depois de consultar uma assessoria de gestão, a direção decidiu não poupar recursos para atualizar-se.


“Nossa proposta foi de responder ao novo. Para isso fizemos um projeto de reengenharia física do espaço educativo, dando atenção à luz, ao ar e a espaços com água e terra”, explica a irmã Mercedes Darós, diretora do colégio.


As salas de aula foram reambientadas, com a troca do mobiliário e a instalação de infra-estrutura audiovisual e de novo layout. A partir da 5a série, os alunos não têm sala de aula fixa, fazem rodízio de acordo com as matérias. Quem se mantém em um lugar único é o professor da disciplina. Uma grande área de convivência, antes um espaço de terra, foi construída. Hoje, plantas diversas convivem com um local desenhado para receber os pais ou fazer atividades com os alunos. O espaço é equipado com telão, aparelho de som e recursos tecnológicos diversos.


A escola também investiu na construção de uma piscina semi-olímpica aquecida e na reforma das quadras esportivas coberta e descoberta. “Usamos tudo que tínhamos, acabamos com R$ 3 ou R$ 4 milhões do nosso fundo de reserva e estamos muito satisfeitos com o retorno. Somos uma escola filantrópica e, com os investimentos, conseguimos atender mais crianças”, diz irmã Mercedes.



Planejamento: questão central


Essa disponibilidade de capital, no entanto, está longe de ser regra entre as escolas. Para Walter Rodrigues de Paula, engenheiro e proprietário da Construtora Paula, responsável pela obra do Padre Moye, muitas escolas optam por reformas de manutenção por falta de capital para empreitadas maiores. “Fazer piscina, quadra, obras de mais vulto, tem um custo alto. E, infelizmente, não podemos baixá-lo, pois temos de fazer direito”, justifica o engenheiro.


A saída é planejar. O erro mais comum de muitas escolas é esperar que os problemas surjam para decidir o que fazer. “O bom gestor deve partir de um planejamento estratégico em que se reflita sobre o que está sendo pedido pelos pais e o que trará ganhos efetivos de qualidade. Uma vez que se chegue a um consenso sobre isso, decide-se onde investir e como atrelar isso ao orçamento anual da instituição”, reforça Barão.


Um bom exemplo desse processo é o Colégio Visconde de Porto Seguro. Com base nas diretrizes de seu projeto pedagógico, a instituição elabora um plano diretor trienal de investimentos. Nele, decidem-se e se hierarquizam as prioridades de novas ações e de manutenção.


Fernando Barão, da Corus Consultores: infraestrutura é um diferencial palpável e visível para o pai que está à procura de uma escola

“Uma vez concluído o plano diretor, é elaborado um plano de implementação, feito com base no orçamento, nos prazos de execução e nas interferências no funcionamento da escola, com uma concentração maior de trabalhos nos meses de julho, dezembro e janeiro”, explica Mariana Battaglia, diretora- geral da instituição.


Por meio desses processos, o Porto Seguro tem realizado muitas melhorias na infra-estrutura de suas três unidades, duas na capital paulista e uma na cidade de Valinhos/SP. Além da construção de uma nova unidade para crianças de 1,5 a 4 anos, foram edificados dois andares subterrâneos para o estacionamento da Unidade Morumbi, novos auditórios, academia de ginástica, piscina aquecida, laboratórios de ciências e informática.


Um dos maiores investimentos dos últimos tempos foi o auditório da Unidade Morumbi, inaugurado em 2004. Com capacidade para 592 pessoas e palco de 210 m2, foi projetado e construído pela Cineplast, empresa especializada em infra-estrutura cenotécnica, também responsável pelo Teatro Santa Cruz, do colégio de mesmo nome. Para o próprio Porto Seguro, a companhia havia construído os auditórios de suas duas outras unidades.


O auditório é utilizado para apresentações musicais, teatrais, palestras, formaturas, aulas inaugurais e reuniões com pais. “É um espaço adequado para desenvolver as disciplinas ligadas às artes, como música e teatro. Assim como a aula de educação física é dada em quadra de esportes, essas atividades também requerem espaço próprio. Além disso, a infra-estrutura instalada possibilita a projeção de filmes, slides, o grau de sofisticação que a escola desejar”, conta Dulcinéia Vazquez, diretora administrativa da Cineplast.



Segurança, o “inglês” da infra-estrutura


Se falar inglês já se tornou quase tão obrigatório quanto o português, quando se menciona a infra-estrutura escolar de instituições voltadas à classe média nos grandes centros os equipamentos de segurança fazem parte da expectativa básica de muitos pais.


O fenômeno é crescente, como aponta pesquisa da Humus Consultoria junto às escolas a que presta serviço. “Oito anos atrás, o item segurança não aparecia entre os dez mais valorizados pelos pais. Hoje, vem em terceiro lugar, atrás apenas da didática e da experiência dos professores”, relata Sônia Colombo, diretora da Humus, que assessora mais de 100 escolas em diversos Estados.


Os espaços verdes são valorizados por pais de alunos da educação infantil e as quadras esportivas, por quem tem filho no ensino médio


“Segurança é fundamental. Nunca medi isso, mas tenho certeza de que faz a diferença na hora de os pais decidirem onde matricular seu filho. Não protejo o prédio, protejo os alunos”, diz Maurício Tricate, diretor do Colégio Magno.
 
A escola tem 28 inspetores de alunos que cuidam de seu interior e contrata uma empresa para cuidar do entorno das unidades, não dispensando o monitoramento com câmeras.


“Tive de colocá-las, pois se meu muro aparece pichado, a segurança é quem paga. Para fazer esse acerto em contrato, tive de colocar o serviço de monitoração”, explica.


Os serviços nesse setor são variados e vão desde a oferta de vigilantes até a implantação de sistemas de identificação. A decisão de contratá-los deve ser conseqüência de avaliação em relação ao desejo dos pais e necessidades da escola, sempre respeitando o perfil de cada instituição.



Mercedes Darós, diretora do colégio Padre Moye: investimento de R$ 3 milhões em infra-estrutura e retorno garantido

Algumas empresas, como a Sonsun, oferecem sistemas que instituem grande controle sobre o acesso e a circulação de pessoas a áreas da escola. Segundo o supervisor de marketing Marco Antônio Timóteo, a empresa instala um sistema de identificação de alunos, professores, funcionários e daqueles que buscam as crianças na escola todos os dias, como motoristas. Para ter acesso ao colégio, a pessoa tem de portar o cartão de identificação. “É um sistema muito usado, principalmente na educação infantil”, diz Timóteo.


O sistema pode funcionar também no interior de uma escola caso se queira restringir o acesso a algumas áreas, com uma lógica parecida à de portais corporativos de internet, cujas senhas limitam conteúdos a mais ou menos gente, conforme o sigilo que a informação requer.



Terceirização


Como normalmente esse tipo de serviço é terceirizado, o ideal é colocar prós e contras na balança antes de contratar um prestador de serviço. Fernando Barão aconselha que se faça um estudo detalhado de quais custos seriam descartados (salário, encargos etc.) e quanto isso representaria em termos relativos para a escola, valor que deve ser comparado ao custo da empresa a ser contratada.


“É preciso analisar a qualidade dos serviços que se oferecem hoje. Se a terceirização não representar acréscimo de custo, é aconselhável optar pela especialização do contratado em vez de manter estrutura interna”, avalia.


Sônia Colombo, da Humus: o item segurança é o terceiro mais valorizado pelos pais, atrás apenas da didática e da experiência dos professores

“É preciso fazer a gestão da terceirização, conhecer os critérios para contratação e ter controle sobre a mão-de-obra oferecida e sobre os serviços”, enfatiza Sônia Colombo. Para isso, é preciso levantar o maior número possível de informações de uma empresa antes de contratá-la. Deve-se analisar o currículo, certificar-se de que a companhia tenha experiência com escolas e trocar informações com outros colégios para os quais ela preste ou tenha prestado serviços. Além de uma descrição detalhada desses serviços, o contrato também deve ter cláusula que permita rescindi-lo em caso de insatisfação do contratante e prever reajustes segundo índices e periodicidade legais.


“Além da empresa, também é preciso analisar o perfil do profissional que trabalhará dentro da escola, conhecer seus antecedentes e fazê-lo saber os valores da escola, a maneira como se deve tratar o aluno. Aos olhos dos pais, o terceiro é uma pessoa da escola, não de fora”, alerta Sônia.


Escola e empresas de segurança devem traçar projeto específico que leve em conta a área física da escola


Tatiana Cadiz, proprietária da companhia que leva seu sobrenome e primeira mulher a obter o certificado internacional de profissional de segurança da American Society For Industrial Security (Asis), lembra que a profissão de vigilante é regulamentada e que, para exercê-la, é preciso ser portador da Carteira Nacional de Vigilante (CNV), obtida após curso de segurança em escolas credenciadas e fiscalizadas pela Polícia Federal.


As empresas do setor devem apresentar o Certificado de Regularidade em Segurança (CRS), documento que atesta que a companhia trabalha de acordo com as normas estabelecidas pelo Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica, Serviços de Escolta e Cursos de Formação do Estado de São Paulo (Sesvesp).


“Empresa contratada e escola devem ter um projeto de segurança que leve em conta o tamanho da área física, o número de portões e saídas, o número de alunos e o perfil do público do entorno, principalmente se houver adolescentes e bares próximos ao colégio”, diz Tatiana, referindo-se ao crescente problema de tráfico de drogas. 

 

Autor

Rubem Barros


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