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Procuram-se personal teachers

Há de ser um portador de cultura geral razoável, formado pelas universidades públicas

Publicado em 10/09/2011

por Julio Groppa Aquino


Julio Groppa Aquino

Escolas dos filhos da elite econômica nacional buscam profissionais para atendimento personalizado de sua clientela com problemas de aproveitamento. Devido ao aumento da demanda nos últimos tempos (suspeita-se que de 20% a 30% dos alunos tenham se tornado candidatos em potencial), tais escolas vêem-se forçadas a terceirizar sua rede de atenção pedagógica, por meio de prestadores de serviço externos a seu quadro, os quais, dentre outros, atendem pela designação de “tutores”.


Frise-se que não se trata de um mero professor particular. O requisito básico para o cargo é a aptidão para acompanhar e promover o desenvolvimento do aluno em todas as disciplinas, fazendo-o angariar boas notas ao final de cada bimestre. Para tanto, há de ser um profissional portador de uma cultura geral razoável, devendo ser formado pelas universidades públicas – naturalmente. 


Entenda-se também que se trata de um cargo sigiloso, que se contrata apenas por sugestão das escolas, cuja prerrogativa é a de indicar profissionais competentes para tal. Empresas de aulas particulares são contra-indicadas, já que a tutoria inclui não apenas o trato do conteúdo das aulas, mas também apoio pedagógico e, por vezes, psicológico. Organiza-se o material das aulas; gerencia-se a rotina de estudo; apregoam-se técnicas de concentração; ensina-se a ter autonomia discente. Um preceptor “customerizado”, enfim. 


O cargo oferece várias vantagens. Caso o profissional logre “fidelizar” o cliente, terá emprego garantido por vários anos. Isso porque cada aluno deverá ter uma sessão de tutoria de no mínimo duas horas semanais, podendo, a depender da gravidade do caso, chegar a quatro ou cinco horas.


Quanto à remuneração, a hora de trabalho varia entre 50 e 80 reais. Já para professores aposentados, pode variar entre 100 e 140 reais. Em média, um tutor tem um salário duas ou três vezes maior que o de um professor regular do ensino privado, embora não conte com nenhum direito trabalhista.


Em que pese a informalidade do mercado, a remuneração finda por justificar os ossos do ofício. Dentre estes, o tutor terá de se resignar ao estilo de vida próprio dos adolescentes abastados. Muitas vezes terá de dividir espaço com outros prestadores de serviço personalizado (fitness, moda, segurança, terapias de várias ordens etc.), além de toda a criadagem que os circunda.


Um cuidado extra refere-se ao recato e à discrição que deverão presidir as atitudes do tutor nas mansões que freqüentará. Com relação ao convívio com seus patrões, ele terá de se comportar segundo uma espécie de autoridade tímida, não devendo jamais burlar a linha tácita de subordinação que delimita a ação dos empregados domésticos. Por último, que adentre os domicílios pelo portão dos fundos ou, no caso de prédios, que se restrinja ao elevador de serviço.


Alguém se habilita? Antes, quem não?




Julio Groppa Aquino




Professor da Faculdade de Educação da USP –
juliogroppa@editorasegmento.com.br


Autor

Julio Groppa Aquino


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