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Formação Docente

Professores são premiados por iniciativas inovadoras em cursos de formação docente

Foram reconhecidos um projeto pedagógico que estimula a competência crítica dos futuros professores e outro que criou com os alunos uma revista infantil de divulgação científica

Publicado em 31/10/2014

por Deborah Ouchana

Ajudar o aluno a expressar juízo crítico sobre obras literárias e estimular a divulgação científica e o trabalho do cientista são os objetivos dos trabalhos vencedores do Prêmio Professor Rubens Murillo Marques, que escolhe iniciativas inovadoras desenvolvidas em cursos de formação docente.

Promovido pela Fundação Carlos Chagas (FCC), o prêmio chega à sua quarta edição com mais de 70 projetos vindos de várias partes do país. Este ano, os professores Nabil Araujo, de Minas Gerais e Diego Rodrigues, do Ceará, receberam um prêmio de R$ 30 mil, diploma, troféu e publicação do projeto premiado na coleção Textos FCC e no site da fundação

Conheça abaixo os projetos vencedores.

Ciência escrita para crianças
O que é reciclagem? O que faz um cientista? Por que a poluição é um problema? As respostas para todas essas perguntas estão, de forma didática e divertida, na Revista IPECriança, trabalho realizado pelos alunos do curso de Ciências Biológicas, da Universidade Federal do Ceará. A publicação faz parte do projeto Experiências Formativas com Divulgação Científica: novos saberes ao estudar e ensinar ciências, desenvolvido na disciplina Instrumentalização para o estudo da ciência, que rendeu ao professor Diego Rodrigues o reconhecimento pelo Prêmio.

Diego Adaylano, professor da UFC, criou com seus alunos uma revista de ciências para crianças

O professor conta que, quando criança, a ciência já estava presente em sua vida por meio de leituras que retratavam o universo científico. Durante a graduação, Diego se aproximou da docência por meio de uma bolsa do PIBID e passou a desenvolver materiais de divulgação científica. De volta à universidade onde se formou, mas agora como professor substituto, o educador decidiu trazer a uma disciplina relacionada ao estudo da ciência uma abordagem sobre a divulgação científica que, ao mesmo tempo em que proporcionasse aos alunos uma reflexão acerca de suas concepções prévias sobre a ciência, resultasse em um projeto que atingisse seu público-alvo: as crianças.

“O público infantil é negligenciado, não existe muito material voltado para essa faixa etária. Quando tem, a imagem do cientista e do fazer científico ainda é deturpada, passa sempre a ideia do cientista maluco”, explica Diego. Antes de produzir a revista, o professor discutiu com seus alunos esses estereótipos por meio de filmes e documentários, levando-os a refletir sobre a imagem da ciência e sua relação com os meios de comunicação.

A ideia central do projeto é estimular a alfabetização científica, conceito que surgiu nos anos 1950, mas ainda pouco disseminado nas escolas e até mesmo nas universidades. Diego ressalta a ideia de que alfabetização não é apenas reconhecer um signo, mas desenvolver um espírito crítico sobre essa linguagem. Dentro da ciência, a mesma lógica vale: os alunos não devem apenas conhecer conceitos, mas conseguir relacionar a ciência com dimensões econômicas, políticas, ambientais e sociais.

“Em escola isso é pouco trabalhado, porque o ensino está muito centrado na figura do professor. Ele transmite, o aluno vai copiar, fazer a prova e esquecer. Vemos acontecer a mesma coisa na universidade”, defende. “São poucos os cursos, por exemplo, que discutem uma dimensão ética da ciência. Há uma necessidade de repensar o ensino desde as séries iniciais, estimular a criança a gostar de ciência e ler sobre isso.”

No futuro, o professor espera que os alunos possam usar o material produzido em outras disciplinas e, com o estágio, levá-lo para as escolas com o objetivo de divulgar para outros professores. “O que eu acho mais interessante, no entanto, é que as escolas possam produzir seu próprio material, mais do que apenas usar o nosso. O principal é inspirar as escolas e as universidades”, acredita Diego.

Professores e críticos
Há quatro anos, Nabil Araújo, professor do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), participou como avaliador no processo que selecionou as coleções de língua portuguesa para compor o Guia de Livros Didáticos do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Durante as reuniões que antecederam o trabalho de avaliação, algo chamou a atenção do docente: não há em relação ao ensino de literatura o mesmo tipo de consenso pedagógico que se constata no ensino da língua portuguesa. Consultando os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio, Nabil verificou dois posicionamentos contrapostos: o autoritarismo canônico e a permissividade multiculturalista.

Nabil Araújo, docente da UERJ: estímulo à competência crítica dos futuros professores

 Além dessa discordância encontrada também entre especialistas em estudos literários, os PCNs afirmam que o aluno deve desenvolver sua competência crítica, ou seja, emitir juízo crítico sobre objetos culturais. Contudo, ambos os posicionamentos em relação ao trabalho pedagógico com a literatura estão inaptos a desenvolver a competência crítica dos alunos. “Para haver uma mudança efetiva na pedagogia literária no ensino médio, também tem de haver uma modificação na formação do professor da educação básica”, defende Nabil. Para isso, o docente criou o projeto Ensino de Literatura e Desenvolvimento da Competência Crítica: uma “terceira via” didático-pedagógica.

Como não existe um consenso acerca de qual critério de valor deve ser utilizado para julgar uma obra, o professor estimulou seus alunos a ler diversos textos de crítica literária e, progressivamente, a produzir os seus próprios textos críticos. “Eles puderam sentir na própria pele o que é fazer a crítica literária. Muitos se julgavam incapazes de emitir um juízo de valor sobre uma obra, ainda mais de um autor clássico”, conta.

Na opinião do educador, essa insegurança se deve, em parte, à formação que esses alunos tiveram no ensino médio. “A expectativa deles é sempre aquela tradicional, do professor que vai passar as informações necessárias para que eles assimilem, ou pior, decorem. Tirar essa base e mostrar ao aluno que ele pode construir por si mesmo, a partir de seus recursos, é um desafio”.

O professor acrescenta, ainda, que o ensino de literatura atualmente está comprometido. Para ele, a disciplina que foi sempre central está perdendo valor. “O papel da tradição literária é muitas vezes questionado e colocado em segundo plano”, afirma. Um exemplo disso são os vestibulares que eliminam a obrigatoriedade de leitura para cursos das áreas de exatas e biológicas. Nabil acredita que a perda de valor social da literatura também tem relação com um modelo de ensino desgastado e alerta para um vazio acadêmico sobre qual perspectiva deve ser adotada.

Autor

Deborah Ouchana


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