NOTÍCIA

Políticas Públicas

Propostas em debate

Planos de Governo dos presidenciáveis se destacam pela generalidade das propostas educacionais; especialistas analisam respostas dos candidatos à revista Educação

Publicado em 08/09/2014

por Ana Elisa Santana

O candidato à Presidência da República eleito em outubro próximo terá em seu mandato muitos desafios no campo da Educação. Com o Plano Nacional de Educação (PNE) recém-aprovado, são 20 as metas que precisam ser tiradas do papel, mesmo que parcialmente, e muitas delas ainda são objeto de impasses, com dúvidas quanto à participação dos estados e da União em sua viabilização.

Os planos de governo apresentados durante a candidatura revelam diversas semelhanças e se destacam pela generalidade das propostas apresentadas, bem como pela falta de detalhamento de como se darão as ações, especialmente no que se refere a pontos focais e polêmicos, como gestão e financiamento.

A revista Educação procurou os candidatos para falarem sobre três assuntos estratégicos para o setor educacional nos próximos quatro anos: a criação de uma base curricular nacional, projeto que vem sendo defendido publicamente tanto pelo governo de Dilma como pelo candidato Aécio Neves; a valorização da carreira docente, necessária para atrair e reter bons profissionais no setor; e o aumento do volume de recursos investidos pelo poder público na educação para possibilitar o cumprimento das metas estabelecidas no PNE. As respostas foram analisadas por especialistas em cada uma das áreas.

+ Veja aqui as propostas de todos os candidatos à presidência

Até o fechamento desta edição, em 15 de agosto, o PSB não havia oficializado quem assumiria a candidatura da coligação após a inesperada morte do candidato Eduardo Campos. Educação decidiu, portanto, analisar apenas as respostas dos candidatos Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). As respostas de Aécio foram fornecidas por uma das coordenadoras da área de Educação do programa de governo do candidato, a professora Maria Helena Guimarães de Castro, que foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) entre 1995 e 2002 e secretária estadual de Educação de São Paulo entre 2007 e 2009. As informações de Dilma foram fornecidas pela assessoria de imprensa da campanha à reeleição da candidata.

Veja, a seguir, as respostas dos presidenciáveis à Educação e suas respectivas análises.

Currículo nacional
Em eventos públicos, ambos têm declarado que pretendem fazer modificações no currículo da Educação Básica.  Qual a sua proposta para essa área?

Aécio neves
Seguindo práti­cas adotadas em to­do o mundo, o Brasil precisa definir uma Base Nacional Comum que garanta a todos os estudantes um conjunto de aprendizagens, conhecimentos e habilidades essenciais. Todos têm direito a conhecimentos adequados de linguagem e raciocínio matemático, que são o fundamento para os demais conhecimentos nas humanidades. Além de assegurar o direito de todos ao aprendizado, a Base Nacional deve ser referência obrigatória para a construção de currículos em cada unidade da federação conforme as orientações e preferências locais; a elaboração de livros didáticos e materiais de apoio; a orientação do processo de formação de professores; a organização da Matriz de Avaliação dos sistemas nacionais de avaliação e o currículo ensinado na escola.

O PNE 2014-2024 prevê a definição de uma Base Nacional Comum para os currículos de educação básica dos sistemas de ensino estaduais e municipais, que deverá ser construída com ampla participação dos estados, municípios, entidades representativas da educação publica e sociedade civil. Deverá também estabelecer com clareza e objetividade o que é essencial para que todos os alunos brasileiros aprendam em cada etapa da escolaridade obrigatória, preservando a autonomia pedagógica e metodológica dos sistemas de ensino público e das escolas particulares.

 

Antonio Cruz/Agência Brasil

Dilma Rousseff
Existe um debate institucional no Conselho Nacional de Educação, conforme foi instituído no Plano Nacional da Educação, votado pelo Congresso Nacional, que vai ser o balizador dessa reforma curricular. A reforma resultará de um processo que se inicia com esse debate institucional e depois será objeto de ampla consulta aos gestores municipais e estaduais, educadores e representantes da sociedade civil. O Programa de Governo de Dilma Rousseff vai reafirmar as determinações do PNE porque considera o Plano um grande avanço para o setor.

Análise

Para a especialista Paula Louzano, tanto a candidatura de Aécio Neves como a de Dilma Rousseff parecem se comprometer com o desenvolvimento de uma base nacional comum. “A candidatura de Aécio é mais explícita [sobre a reforma curricular], já que menciona que iniciativas anteriores ‘priorizaram diretrizes gerais, mas não avançaram na definição dos conhecimentos ou competências que os alunos deveriam aprender’ e de que a Base Nacional deve ser referência obrigatória para a construção de currículos. A candidatura de Dilma não chega neste nível de detalhamento”, ressalta. Apesar disso, ela entende que a visão de Aécio e Dilma são próximas, com possíveis diferenças com respeito a compreensão do que “seria de fato esse documento currículo nacional”.

Paula Louzano é professora da Faculdade de Educação da USP e especialista em currículo

Plano Nacional de Educação
Qual a sua proposta para aumentar o volume de recursos investidos na educação para possibilitar o cumprimento das metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE)?

Aécio neves
A meta do PNE é ampliar o investimento público em educação dos atuais 6,4% do PIB, que não incluem os investimentos privados, para atingir pelo menos 7% do PIB até 2019 e 10% até 2024. O compromisso do nosso governo é cumprir a meta intermediá-
ria do PNE, tendo como prioridade a melhoria da qualidade e da equidade na educação brasileira, com mais inclusão social e redução das desigualdades. São nossas prioridades: apoiar os municípios na criação de 900 mil vagas na pré-escola que deverá ser universalizada até 2016; apoiar os estados na ampliação da oferta de vagas no ensino médio diurno e progressiva eliminação do ensino noturno para os jovens que não trabalham; ampliar a complementação da União ao Fundeb para garantir a melhoria da carreira e remuneração dos professores de educação básica; manter, expandir e aperfeiçoar o Fies e o Prouni; criar incentivos para a ampliação da oferta de cursos superiores nas áreas tecnológicas; e criar estímulos à ampliação de vagas em cursos diurnos de formação de professores com a criação de bolsas de manutenção aos alunos. Em nosso governo, o esforço será direcionado para o aumento da participação da União no financiamento da educação brasileira, especialmente da educação básica.

Dilma Rousseff
Serão destinados gradativamente recursos originários da exploração do petróleo: 75% dos royalties do petróleo e 50% dos excedentes em óleo do pré-sal.

Análise

Nenhum dos candidatos coloca a implementação do PNE como o eixo de sua gestão educacional, avalia o especialista Daniel Cara. O desafio do próximo presidente é colocar as 20 metas do Plano em prática e, de acordo com Cara, este processo deve estar refletido e ancorado no novo ciclo orçamentário. “Essa disposição não se apresenta em nenhuma das respostas (…). O financiamento do PNE não é o objetivo do plano, é um meio para o alcance de todos eles”, critica.

Para Cara, a proposta do partido tucano para a área foi feliz ao assumir que a União deverá ter maior participação no financiamento da educação básica com a ampliação da complementação do Fundeb. No entanto, em sua resposta à revista Educação, a candidatura se esquiva do debate sobre o ciclo orçamentário.

“Essa meta representa um desafio de sairmos de cerca de 5,5% do PIB para 7% do PIB em investimento público em educação pública”, diz, referindo-se à informação errada de 6,4% fornecida pela candidatura. “Este é o montante investido que inclui as parcerias público-privadas”, explica.

A candidatura de Dilma Rousseff, segundo Cara, erra ao tratar a Lei dos Royalties como única resposta para o alcance da meta de financiamento do PNE. “É insuficiente tanto para o alcance da meta intermediária (7% do PIB) e será insuficiente para o cumprimento da meta (10% do PIB). Não trata do ciclo orçamentário e não articula o financiamento com maior participação da União na educação básica”, critica. Uma falha grave dos candidatos é não apresentar boas propostas sobre o Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi) e o Custo Aluno-Qualidade (CAQ), na opinião de Cara: “nenhum soube entender que estes são mecanismos que estruturarão o financiamento da Educação Básica, uma vez que obrigarão o alcance do PNE”, lamenta.

Daniel Cara é mestre em Ciência Política pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) e coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação


Valorização da carreira docente
Como o (a) senhor (a) pretende reverter a baixa atratividade da carreira docente e, consequentemente, melhorar a qualidade do ensino-aprendizagem no país?

Aécio neves
Nosso compromisso será com a valorização e o reconhecimento do professor como principal protagonista do processo educacional. O primeiro desafio será melhorar a formação do magistério da Educação Básica. A União deverá coordenar a política nacional de formação de professores, tanto junto às instituições formadoras públicas e privadas, como junto às secretarias municipais e estaduais de Educação, responsáveis pela contratação de mais de 85% dos professores do país. Nossa prioridade deve ser professores bem formados em cursos superiores de graduação, competentes nas matérias que ensinam e nos métodos pedagógicos apropriados para os diferentes níveis.

Vamos incentivar experiências de formação de professores em tempo integral, implantar bolsas de manutenção para formação inicial, ampliando a oferta de cursos diurnos, e estimular o uso pedagógico de tecnologias nos cursos de formação inicial de professores. O segundo desafio é revolucionar a profissão do magistério, criando incentivos para a escolha da carreira. A União deverá participar de forma mais efetiva do financiamento da remuneração de professores da Educação Básica dos estados e municípios, por meio de maior complementação federal ao Fundeb, e deverá coordenar a definição de diretrizes nacionais para a carreira dos professores, com profissionalização da docência, por meio da ampliação da opção para jornada de 40 horas semanais, da garantia de remuneração inicial atrativa e equilíbrio entre remuneração inicial e final, evolução funcional e salarial baseada em avaliações e valorização da formação continuada.

Nosso compromisso será com o respeito à autonomia dos estados e municípios na definição das carreiras de seus profissionais de educação, de forma que sejam respeitadas as diretrizes nacionais, e com a equiparação do salário médio do professor brasileiro ao dos demais profissionais com formação superior, como prevê a meta 17 do Plano Nacional de Educação (PNE).

Dilma Rousseff
Nos últimos 12 anos um avanço fundamental para a carreira docente foi a aprovação da Lei do Piso Salarial para o Magistério. De 2009 a 2014, o piso, atualizado no mês de janeiro de cada ano, teve a correção de 78,63%. No mesmo período foi criado o Plano Nacional de Formação de Professores. Além do previsto no PNE, nas metas 15,16,17, 18, para a valorização docente, o grupo setorial de educação dentro do Programa de Governo defende a construção de diretrizes nacionais, num diálogo com entidades representativas dos docentes e gestores municipais e estaduais. Isso porque cada unidade federativa tem seu próprio quadro e a sua política de pessoal.

Análise

“As propostas dos dois candidatos representam uma carta de intenções, e não um conjunto de propostas de governo”, define Beatriz Rey, que também chama a atenção para a falta de clareza e detalhamento sobre como as ações serão executadas. Um ponto positivo nas propostas dos dois candidatos é a menção à construção de diretrizes nacionais para a carreira dos professores. “Mas acho problemático atrelar avaliações à evolução funcional e salarial”, afirma ao se referir ao plano de Aécio Neves de incluir, entre as diretrizes, a realização de avaliações para os professores. Ainda que enxergue de forma positiva a intenção da presidente Dilma de ouvir as entidades representativas dos docentes no processo de construção de diretrizes, Beatriz é cética quanto à concretização desse plano. “Basta lembrar que em 2014 o governo federal cancelou a Conferência Nacional de Educação (Conae), onde diversas entidades da sociedade civil se reuniriam para debater questões ligadas à educação pública, como o PNE, que à época tramitava no Congresso Nacional”, ressalta. A visão de educação também poderia ser explicitada pelos candidatos. “Aécio se limita a afirmar que o professor é o ‘principal protagonista do processo educacional’ e o texto curto com as propostas de Dilma também não dá espaço para o tema”, argumenta.

Beatriz Rey é doutoranda em Ciência Política na Maxwell School of Citizenship and Public Affairs da Universidade Syracuse, em Nova York, nos Estados Unidos.

 

Autor

Ana Elisa Santana


Leia Políticas Públicas

Deputados avaliam criar comissão especial para o PNE

Deputados avaliam criar comissão especial para o PNE

+ Mais Informações
Resultados foram apresentados pelo Inep

Inep divulga dados que medem a qualidade do setor

+ Mais Informações
Presidentes Semesp

Polo aglutinador das IES, Semesp comemora 45 anos

+ Mais Informações
Nikolas Ferreira assume Comissão de Educação da Câmara

Base do governo teme “arena de guerra” em comissão de educação

+ Mais Informações

Mapa do Site