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Formação Docente

Quais são as novas formas de preparar futuros professores para ingresso na sala de aula com mais segurança

Em busca de novos modelos, universidades e redes públicas compartilham suas experiências sobre maneiras diferentes de formar educadores

Publicado em 03/08/2015

por Juliana Duarte

© Hedeson Alves
Giselle Henequin Siemsen, uma das 700 bolsistas do Pibid na Universidade Federal do Paraná: formação inicial pautada pela realidade escolar

Trabalho coletivo com a escola, acompanhamento dos professores e o diálogo entre as partes envolvidas são os pilares do projeto de residência pedagógica, criado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em 2009. A partir de um acordo de cooperação com a Secretaria de Educação de Guarulhos (SP), a instituição encaminha os estudantes de pedagogia para a realização de estágios supervisionados nas unidades da rede – as atividades são realizadas em quatro módulos que compreendem a educação infantil, ensino fundamental, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e gestão. “Queremos superar a distância entre a teoria e a prática ao imergir o aluno nessa realidade”, afirma a coordenadora Vera Jardim.

Integrante da grade curricular do curso, a experiência ocorre do 5º ao 7º semestre (totalizando 300 horas) e permite ao estudante a compreensão das teorias estudadas em sala de aula. Outro ganho pode ser colocado na conta da escola pública. “Ao mesmo tempo que estamos discutindo as práticas com os nossos alunos, também acrescentamos ideias, soluções e metodologias ao dia a dia. É uma espécie de formação continuada”, afirma Vera.

Michelle Santos Pereira, de 29 anos, está no 8º semestre de pedagogia e fez as quatro modalidades da residência. Apesar de já ser formada em letras e atuar como professora há dez anos, aprovou a experiência na nova graduação. “O programa propicia uma vivência que ultrapassa o campo da observação e possibilita ao futuro pedagogo encontrar novas possibilidades de interferir na realidade escolar por meio de ações pedagógicas significativas e relevantes”, comenta.

Já a aluna Ruana da Costa Alves, de 20 anos, está em sua primeira graduação e cumpriu três módulos do programa. Matriculada no 5º semestre do curso, ela confessa ter um novo olhar da entidade pública a partir da residência. “A imersão no ambiente educacional nos permite aliar todo o aporte teórico adquirido ao longo do curso às observações feitas pela criança e ao diálogo com a instituição”, ressalta.

Para a futura pedagoga Thiana Carolina Romero Martinez, de 21 anos, o diferencial do projeto em relação ao estágio convencional é a supervisão dos professores da Unifesp. Juntos, eles realizam reuniões semanais para discutir o plano pedagógico da instituição, apontar melhorias e fazer reflexões. “Temos a oportunidade de pensar a partir de um contexto real”, diz. Segundo ela, a agenda fica bastante apertada, uma vez que muitos dos estudantes trabalham, mas o esforço vale a pena.

Em Jundiaí (SP), um projeto semelhante entrou em vigor em 2014. No entanto, a iniciativa partiu da prefeitura local ao firmar parcerias com três universidades particulares da cidade. Trata-se do Programa de Estágio Remunerado, que oferece salários no valor de R$ 950 para 225 estagiários das áreas de pedagogia, letras, psicologia e educação física. Com uma carga horária de cinco horas por dia, os aprendizes auxiliam os educadores da rede com tarefas do dia a dia, como planejamento de conteúdo, e assim vivenciam a rotina das unidades. “Além da participação em sala de aula, também aprendem conceitos relacionados à gestão. É uma forma de compartilhar experiências. Ao mesmo tempo que a vivência dos mais velhos é importante, os universitários podem trazer ideias novas à instituição”, explica o secretário José Renato Polli.

© Gustavo Morita
Michelle Pereira, aluna da Unifesp: estágio na rede pública para colocar em prática as teorias estudadas

Partindo desse mesmo preceito, o Pibid tem atraído cada vez mais adeptos na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Implementado há seis anos, o programa conta atualmente com 700 bolsistas. Os projetos de pesquisa e as atividades didático-pedagógicas são desenvolvidos nas escolas públicas a partir de grupos, previamente formados por alunos, membros da universidade e educadores da rede. É exatamente aí que está o diferencial. “O professor não irá apenas receber o estudante, mas fará parte de todo o processo, colaborando para a sua formação”, pontua Joanez Aparecida Aires, coordenadora do programa na UFPR. Outro destaque é a carga horária. Ao contrário dos programas de estágio ou de residência, o aluno pode participar do Pibid ao longo de todo o curso. “Assim, eles conseguem desenvolver mais habilidades e entender melhor a lógica de funcionamento de uma instituição de ensino”, ressalta a coordenadora.

Aluna de licenciatura em química, Giselle Henequin Siemsen, de 27 anos, decidiu viver tal experiência desde o início do curso – ela conheceu a proposta do projeto na semana dos calouros da universidade. A possibilidade de uma formação inicial pautada pela realidade escolar foi o que mais lhe chamou a atenção. Atualmente, a jovem trabalha a temática de recursos didáticos alternativos e encontrou na poesia uma forma de ensinar química para as crianças. “Também trabalhamos com histórias em quadrinhos, mangá, teatro e jogos, entre outros”, explica. Todas essas atividades são discutidas pelos grupos de pesquisa antes de serem implementadas com as crianças – sob a supervisão dos coordenadores. Antes de aplicá-los, os bolsistas tratam de conhecer a realidade dos alunos. “A partir dessa vivência e de atividades bem definidas, levamos o conteúdo para eles”, afirma Giselle.

No Instituto Superior de Educação Ivoti (ISEI), em Ivoti (RS), a imersão na rotina escolar é levada ao pé da letra. Criado em 2008, o projeto de residência pedagógica da instituição prevê a migração dos jovens matriculados para outras cidades do país. Eles fazem um estágio supervisionado com duração de uma semana em colégios da rede Sinodal de Educação e, durante esse período, ficam hospedados nas casas dos professores de cada unidade. “A experiência é completa. Eles têm contato desde as práticas escolares até a rotina de preparação de aulas ou correção de trabalhos. Temos uma preocupação muito grande em aproximar o aluno da realidade educativa”, comenta Doris Schaun Gerber, coordenadora do projeto. Na volta à sede do instituto, os docentes responsáveis organizam um seminário para que o estudante possa apresentar as vivências obtidas. “É um complemento ao nosso programa de estágio. Oferecemos abertura para que os graduandos saiam do espaço em que vivem”, comenta.

No Estado de São Paulo, cerca de dois mil jovens souberam de última hora que o projeto de residência educacional do qual faziam parte acabaria no final de 2014. Voltada a entidades de maior vulnerabilidade, a iniciativa foi criada em 2013 e consistia na contratação de estudantes de licenciatura para atuar nas unidades de ensino por um período de 12 meses (prorrogáveis) – os participantes ganhavam uma bolsa de R$ 600. O objetivo era aproximar a vida acadêmica da realidade das salas de aula. Consultada pela reportagem, a Secretaria de Educação do Estado afirmou que o programa foi interrompido temporariamente por precisar de adaptações. No entanto, a ideia é retomá-lo no 2º semestre de 2015 (ainda sem data prevista). O mesmo aconteceu com outro projeto paulista – o Bolsa Alfabetização -, que estava em vigor desde 2007 e era destinado a bolsistas dos cursos de pedagogia e letras.

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Autor

Juliana Duarte


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