NOTÍCIA

Ensino edição 232

Profissionais de TI têm a carreira mais valorizada do momento

Com a digitalização dos negócios, área de tecnologia se torna fundamental nas tomadas de decisão

Publicado em 22/09/2018

por Marleine Cohen

Simone Viana Simone Viana, do Eniac Começou prestando assistência técnica e hoje é assessora de inovação pedagógica

área de TI

Simone Viana, do Eniac Começou prestando assistência técnica e hoje é assessora de inovação pedagógica

Todas as vezes que os computadores falhavam no Grupo Educacional Eniac, sediado em Guarulhos (SP), quem entrava em cena era a então operadora de mainframe Simone Vianna.  Ela prestava suporte técnico às áreas e, com o tempo, passou a conectá-las, extrapolando as funções para as quais foi contratada. O convite para participar das reuniões de planejamento estratégico foi  um desdobramento natural desse processo, também pontuado pelas investidas da executiva na área acadêmica.

Hoje ocupando o cargo de assessora de inovação pedagógica, um dos mais relevantes da instituição, Simone, que é formada em Ciência da Computação, também contou com um empurrãozinho na carreira: a valorização do gestor de TI nas últimas duas décadas, no Brasil.

Uma pesquisa da Korn Ferry com 3.787 executivos e 232 presidentes de 318 empresas (52% delas com capital nacional), incluindo algumas do setor de ensino superior, aponta que as funções mais valorizadas entre 2008 e 2017 estão na área de tecnologia (75% de  aumento), seguidas dos cargos ofertados nos campos jurídico-regulatório (60%) e operações (59%). Somente entre 2012 e 2017, os postos de TI beneficiaram-se de um reajuste salarial da ordem de 53%.

A missão desses profissionais debruçados sobre inovação pedagógica não é menos promissora do ponto de vista qualitativo: ao “implantar processos internos ágeis, eficientes e padronizados, alinhando-os em decorrência de grandes fusões e aquisições, ele presta  suporte à própria evolução da educação”,  acredita o diretor de Produtos da Korn Ferry, Carlos Silva.

“Faço a ponte entre os executivos da coordenadoria pedagógica, o pessoal administrativo e os profissionais de tecnologia, implantando e fortalecendo a frente estratégica de inovação do Eniac”, explica Simone Vianna.

Em outras palavras, ela pavimenta o caminho para a modernização acadêmica da instituição, uma das pautas mais relevantes no momento para o ensino superior privado.

Berço da inovação

Para Ruy Guerios, diretor do Eniac,  localizado em Guarulhos (SP), o executivo de TI começou a se destacar a partir de 2008 com o advento da nuvem e, principalmente, pela necessidade de  adequação a controles internos e externos cada vez mais complexos.

Este último elemento também aproximou a área da alta direção. “O profissional de TI prestava suporte aos usuários; ele era responsável por manter o sistema em funcionamento. Trabalhava exclusivamente com programação, sua atuação estava descolada da empresa e a área era mais conhecida como ‘QG’ – quebra-galho”, lembra Guerios. “Com a cobrança por mais compliance,  ele passou a participar do core business.”

Tanto é que, dentro do Grupo Educacional Eniac, formou-se uma sociedade anônima constituída de 25 associados, dos quais pelo menos 15 ocupavam postos de TI.  Além da missão educacional, o seleto grupo de profissionais assumiu duas incumbências: de um lado, atuar como organização social, incubadora e centro de inovação tecnológica, de outro, prover tecnologia às IES nos moldes de uma startup, interferindo mais ativamente nos rumos da instituição.

Tecnologia no DNA

Na Kroton, organização de capital aberto que reúne quase 700 polos de EAD em todo o país e mais de um milhão de alunos matriculados em cursos de ensino superior e pós-graduação, a estratégia de expansão adotada nos últimos 15 anos (baseada em aquisições para aumentar a base de alunos de graduação e na ampliação do ensino continuado) resultou em “dores do crescimento que demandam um perfil de gestor de TI especial”, analisa o vice-presidente de Tecnologia e Transformação Digital, Carlos Safini.

“Ele deve ter entendimento de educação, saber como a tecnologia pode ser usada em proveito do aprendizado e que mudanças ela pode gerar”, afirma. Exemplificando, a “aplicação da tecnologia para mensurar a experiência do aluno pode gerar desde métricas para identificar seu grau de satisfação, como resultar em um framework no qual trabalhem 400 pessoas de tecnologia e negócios para desenvolver atributos culturais que deem à empresa a agilidade de uma startup”.

Apostando em um plano de transformação digital tanto no que diz respeito à experiência do aluno – internamente apelidado de go digital – quanto ao constante monitoramento das possibilidades de aplicação de soluções internas inovadoras, sejam elas incrementais ou disruptivas (be digital), a organização tem usado todos os recursos disponíveis para pavimentar esta jornada em direção a um ecossistema de inovação e análise de dados, garante Safini: “Nossos esforços de pesquisa e desenvolvimento se concentram no KLS 2.0 (Kroton Learning System), que incentiva a inovação em toda a cadeia produtiva de educação, utilizando técnicas de aprendizado como a sala de aula invertida e o adaptive learning, e ferramentas como a gamificação e o Big Data”.

Carlos Safini também explicou que ao precisar se aproximar tão intimamente do setor acadêmico para exercer sua atividade, a área de TI deixou de ser uma diretoria para assumir, no organograma, o status de vice-presidência. “Há dois anos, temos sido convidados para sentar à mesa de discussão do processo de decisão da empresa. E isso porque já há consenso de que a tecnologia é a grande alavanca de transformação do ensino”, argumenta.

Área de TI

Paulo Henrique Marsula, da ESPM Interesse em automatizar processos levou as instituições educacionais a valorizar a área de TI

Resistência cultural

Mais tradicional, a ESPM acordou tarde para entender a tecnologia como elemento estratégico, nas palavras de Paulo Henrique Marsula, seu diretor de Tecnologia da Informação.

Na opinião dele, há pelo menos duas décadas, outras indústrias, como o varejo e as próprias instituições financeiras, perceberam que uma plataforma digital poderia ser de grande valia para o negócio. E acertaram. Só no final da primeira década do século 21, porém, é que, segundo ele, a busca por produtividade direcionou a estratégia das IES para a automação de processos.

“Na ESPM, a TI era até então enxergada como um serviço especializado ao aluno, um apoio à sala de aula e uma atividade de retaguarda. No começo dos anos de 2010, conseguimos aproximar a tecnologia da estratégia da escola. Hoje, o gestor participa das decisões mais importantes da instituição, mas se trata de uma posição consultiva. Ainda paira a cultura de que TI é suporte”, avalia o diretor da ESPM.

Segundo ele, porém, os dias de distanciamento entre ela e o core business na ESPM ou de qualquer outra instituição de ensino superior estão contados: “Temos um grande desafio. Lidamos com um público seleto, que já está familiarizado e sabe lidar com a tecnologia. O objetivo é fazer com que o celular seja parte integrante da aula, e não que roube o aluno”, considera. Além disso, explica Marsula, “a visão do órgão regulador, o MEC, está mudando, ao incorporar as novas metodologias de ensino ativas, e isso requer das IES um evidente esforço de capacitação interna”.

Um novo ciclo

Para César Fava, que foi diretor de TI do Senac-SP e diretor de aplicativos para o setor educacional da Oracle e hoje atua como consultor independente do Semesp, o pulo do gato para a área de TI acontecerá quando as IES estiverem totalmente profissionalizadas. “O ensino já reconhece que a tecnologia é parte importante do negócio, mas ainda está consolidando a presença desse executivo nos processos de planejamento estratégico.”

Na opinião dele, a segregação do gestor de TI “não é deficiência do profissional ou da IES, mas parte de um ciclo que está em curso” e pode, inclusive, ser comparado ao que aconteceu com os executivos de marketing, no passado: “Hoje, o responsável por essa área é presença necessária e indiscutível para a tomada de decisões estratégicas”.

César Fava também explica que muitas pequenas instituições de ensino já têm o seu diretor ou vice-presidente de tecnologia, cabendo a este quadro zelar pelo gerenciamento do sistema de ERP no que tange à contabilidade e aos indicadores de performance, por exemplo, e de capital humano (pagadoria, captação de alunos etc.), além de agregar uma visão de inovação à gestão acadêmica.

“Mas, quando se pensa em uma nova grade curricular, nem sempre a instituição convida o gestor de TI para sentar à mesa de planejamento estratégico”, lamenta, defendendo que seria mais apropriado lhe dar a oportunidade de discutir o modelo acadêmico do que meramente ser um suporte.

“Hoje, a maior contribuição desse tipo de profissional é dentro do aprendizado em si. Aproximando-se dos diretores acadêmicos, do corpo docente e dos coordenadores, ele pode participar da entrega qualitativa da educação, avaliando qual a melhor tecnologia a ser associada ao ensino que se pretende oferecer ao aluno”, argumenta o consultor, enumerando vários ambientes e ferramentas de aprendizagem hoje em uso, dentre os quais os Fab Lab, rede de laboratórios e espaços de criatividade, aprendizado e inovação destinada aos alunos que desejam desenvolver projetos, e a solução tecnológica Google for Education.

Além de ser um potencial parceiro estratégico da alta diretoria, o profissional de TI também é hoje uma das principais cabeças pensantes em matéria de ambientes virtuais de aprendizado, garante César Fava. “Ele acompanha todo o ciclo de vida da ferramenta ou do ambiente virtual, cuida da integração desse recurso ao sistema de gestão acadêmica, gerencia a  coleta de informações pertinentes, alinha o sistema de matrículas e pagamentos e entrega aos  docentes e coordenadores os resultados das aulas: a aderência dos alunos, os indicadores de utilização da plataforma, como o tempo gasto para estudar determinado assunto ou o fato de recorrer a vídeos e outras fontes de informação, e o grau de evolução conquistado”, entre outros.

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Autor

Marleine Cohen


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