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Vamos construir uma casa?

As crianças são naturalmente curiosas. Então, por que não aprendem?

Publicado em 10/09/2011

por Rubem Alves

Hoje estou especialmente contente. Saiu publicado um livrinho que escrevi para crianças. Livros para crianças já escrevi muitos. Mas esse é diferente. Escrevi para ensinar as crianças a pensar.

A idéia me veio faz muitos anos. Perguntei-me: por que é que as crianças têm dificuldade em aprender as coisas que lhes são ensinadas nas escolas, seguindo um programa?  Brunno Bettelheim, já velho, deu a resposta: "Na escola, os professores tentavam me ensinar as coisas que eles queriam ensinar, do jeito como eles queriam ensinar, mas que eu não queria aprender." Tudo gira em torno dessa expressão final, "querer aprender". Para se aprender há de se querer aprender.

Aristóteles, no início de Metafísica, afirma: "Todos os homens têm naturalmente o desejo de aprender".  Ele estava errado.  Vou corrigi-lo: "Todos os homens, ENQUANTO crianças, têm naturalmente o desejo de aprender…"

As crianças são naturalmente curiosas. Então, por que não aprendem? A Maria Alice, psicopedagoga por vocação, me contou de uma menininha que ela estava atendendo: "O mundo é tão interessante. Há tanta coisa que eu gostaria de aprender. Mas não tenho tempo. Tenho muitas lições de casa para fazer…"

O que é que as crianças querem aprender? Ou, mais precisamente, o que é que o corpo deseja aprender?  Antes dessa pergunta vem uma outra: "Por que é que o corpo deseja aprender?" Ele deseja aprender para se virar no mundo. Ele quer conhecer aquelas coisas que afetam diariamente a sua sobrevivência. Um menininho índio não teria o menor interesse em aprender a fazer iglus, mas tem o maior interesse em aprender o uso do arco e da flecha…

O programa de aprendizagem que desafia o corpo é o mundo que o circunda, que é o mundo em que ele vive, que é o mundo que lhe apresenta os desafios práticos de vida. Para se entender isso basta cortar uma cebola no meio: ela é formada por uma série de anéis concêntricos. Bem no centro está o corpo. O seu primeiro desafio é o primeiro anel. O último anel não lhe provoca o menor interesse porque ele está muito longe da sua pele. Ele só se interessará pelo último anel quando chegar no penúltimo.

Qual é o primeiro entorno da criança?  Preste atenção nessa palavra, "entorno". Ela significa aquilo que está "em torno", o espaço que pode nos dar vida ou matar. O primeiro entorno da criança é a sua casa. Não seria possível fazer um programa, um currículo, que tomasse a casa como seu objeto? Começar a conhecer o mundo a partir da casa!
Foi daí que surgiu a idéia de um livrinho experimental em que essa idéia pudesse ser testada.

Minha idéia foi confirmada por algo que li do Amyr Klink. Perguntado por um repórter sobre a escola ideal para os seus filhos, ele respondeu: "A escola que eu desejaria para os meus filhos é uma que há na Ilha Faroe. Lá, as crianças aprendem tudo o que devem aprender construindo uma casa viking."

Escrevi então o livro Vamos Construir uma Casa?  Nele, as crianças vão lidar com os conhecimentos necessários à construção de uma casa, o uso das ferramentas e sua física, o fogo, a cozinha e sua química, o banheiro e a ecologia, as cores, os perigos que moram na casa, o lixo, o jardim, a nossa Terra!
O livrinho é divertido, cheio de ilustrações. Você vai gostar.



Rubem Alves

Educador e escritor



rubem_alves@uol.com.br

Autor

Rubem Alves


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