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A passagem para um sentido mais abrangente da educação
Publicado em 10/09/2011
O ideal humanista de educação deixou marcas indeléveis na imagem que temos de escolaridade. Tanto é assim que até hoje recorremos à expressão ‘formação humanista’ para designar um processo educativo no qual o ensino não se limita à transmissão de informações e ao desenvolvimento de capacidades, mas funda-se no compromisso com o cultivo de princípios éticos e com a formação de um sujeito. Mas a expressão ‘educação humanista’, a exemplo de tantas outras do campo pedagógico, parece padecer de um desgaste, como se seu sentido histórico se esvaísse numa fórmula que perde densidade semântica à medida que se aproxima de um slogan.
O movimento que deu origem a esse ideal formativo não se separa da renovação artística e cultural do Renascimento Italiano dos séculos 14 e 15 e também representa uma significativa ruptura com a herança escolástica. Não no sentido por vezes difundido de que teria havido uma radical substituição dos conteúdos curriculares ou dos métodos de ensino. A ruptura, mais profunda, ocorre na própria concepção do significado social da educação e em seus fundamentos. O ensino escolástico, de grande importância para o estabelecimento de instituições e práticas escolares, sempre se desenvolveu sob o signo de uma verdade transcendente da qual a Igreja era depositária. Nesse sentido, não era seu objetivo a formação de um sujeito capaz de autodeterminação, seja no plano de sua consciência ou em sua relação com o mundo.
Por outro lado, o ensino escolástico moldou-se com o desígnio de oferecer uma formação específica dentro de um quadro de especialistas e profissionais, como no caso dos estudos em teologia, direito ou medicina. Para o humanismo, ao contrário, a educação não deveria se limitar aos saberes necessários para um exercício profissional específico. Uma de suas grandes contribuições foi justamente a noção, até então desconhecida, de ‘cultura geral’, concebida como um saber cujo sentido formativo não se confundia com qualquer aplicação imediata. Daí a importância da literatura e da filosofia antigas. Estudavam-se os ‘clássicos’ porque deles se podia extrair um ‘alimento espiritual’ que os fazia dignos de uma herança: a liberdade como condição política do homem que se sabe sujeito.
Familiarizar-se com essa herança pode ser um bom antídoto contra um sistema escolar cada vez menos marcado pela ambição de formar sujeitos e cada vez mais comprometido com uma divindade não transcendente, mas imanente: o mercado e suas supostas necessidades técnicas.
José Sérgio Fonseca de Carvalho
Doutor em filosofia da educação pela Feusp
jsfc@editorasegmento.com.br