Em parceria com escolas, projetos educativos de museu no Pará ensinam alunos e professores a aliar conhecimentos científicos à realidade local.
Publicado em 10/09/2011
Alunos em atividades educativas no parque zoobotânico do Museu Goeldi Meio ambiente |
Fundado há 140 anos, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em Belém (PA), cumpre à risca sua missão de produzir e difundir conhecimentos e acervos sobre sistemas naturais e socioculturais relacionados à Amazônia. E, no seu caminho, tem arrastado um número cada vez maior de professores e alunos para o mundo da ciência, com investimento em projetos educativos, em parceria com escolas públicas e privadas.
Atualmente, cinco projetos se destacam na área de educação: Jardim Botânico Vai à Escola, Clube do Pesquisador Mirim, Coleção Didática, Prêmio Jovens Naturalistas e Central Ciência. Eles auxiliam no trabalho e na capacitação de professores, incentivam a interdisciplinaridade e buscam despertar a curiosidade dos alunos pela ciência. Sob a orientação de pesquisadores e técnicos do museu, os integrantes dos projetos são estimulados a realizar suas próprias pesquisas e observações do dia-a-dia, unindo o saber científico aos saberes tradicional e local.
O museu paraense tem também um parque zoobotânico que ocupa uma área de 5,4 hectares, no bairro Nazaré, área nobre do centro de Belém. Lá, existem cerca de 3 mil espécies de árvores e 600 de animais, entre raras e ameaçadas de extinção. Por dia, o MPEG recebe uma média de 600 alunos.
No caso do projeto Jardim Botânico Vai à Escola, criado em 2003, o objetivo é estabelecer um processo de comunicação e educação ambiental com a comunidade escolar, divulgando o papel dos jardins botânicos na conservação da biodiversidade e na promoção da sustentabilidade socioambiental. O projeto inclui visitas às escolas para a percepção ambiental dos seus espaços. Além disso, é feita também a definição de subprojetos e exposição do material didático básico, o Baú da Vida, oferecido pela Rede Brasileira de Jardins Botânicos – cabe às escolas participantes prepararem materiais exclusivos para complementação regional do Baú (jogos, livros, vídeos e painéis educativos).
Incentivo à pesquisa
Professora de história da 5ª série do ensino fundamental à 1ª série do ensino médio, Adrialva Faria Simões é uma das oito profissionais da E.E. Ulisses Guimarães que participam do projeto desde o seu início. No começo, essa participação gerou conflitos no corpo docente da unidade. Segundo a diretora-geral da escola, Sandra Paris, alguns professores questionavam por que esses colegas não cumpriam seus horários em sala de aula e eles eram obrigados a fazê-lo. "Nós apoiávamos, mas com a preocupação do caráter administrativo, um olhar controlador", afirma Sandra.
Hoje, a escola é tida como referência em educação ambiental. Até um projeto paisagístico, o Jardim dos Aromas, foi desenhado para seu pátio. Em parceria com a Secretaria Executiva de Educação, a idéia é transformar a área de 70 m2, de concreto, em uma praça para o lazer dos alunos.
"Nós vamos ‘verdear’ a escola, mas antes ‘verdeamos’ as mentes de alunos, professores e funcionários. A Ulisses Guimarães está mais integrada às ações de educação ambiental", comemora Adrialva.
Por sua vez, o prêmio José Márcio Ayres para Jovens Naturalistas tem como público-alvo os estudantes. Em sua terceira edição, o projeto premiou, em 2006, quatro escolas cujos alunos desenvolveram pesquisas sobre a biodiversidade amazônica. Landerson Silva conquistou o segundo lugar na categoria ensino médio com o trabalho "Diferenças Observadas na Habitação do Barbeiro", no qual pesquisou a contaminação do açaí pelo barbeiro (transmissor do mal de Chagas).
"Gostei do incentivo para me aprofundar em pesquisa. Já estou escolhendo um tema para participar do próximo prêmio", diz o rapaz de 18 anos, que em 2004 conquistou o 3º lugar na categoria ensino fundamental, para trabalhos em grupo. O prêmio, que distribui mais de R$ 11 mil para os primeiros colocados e dá computadores aos professores orientadores, tem despertado vocações. Landerson sonhava em ser analista de sistemas, agora quer prestar vestibular para biologia.
Jovens pesquisadores
Além do prêmio, o Goeldi criou um Clube do Pesquisador Mirim. Idealizador do projeto e chefe do serviço de educação do museu, o biólogo Luiz Videira conta que, desde 1997, o Clube já teve a participação de mais de 2.500 alunos.
Na infância, uma das brincadeiras prediletas de Videira estava ligada à arqueologia: ele enterrava as jóias e outros bens da família na vila onde morava, desenhava um mapa do tesouro, jogava-o fora, e, dias depois, saía cavando o terreno para "realizar" suas descobertas. "No fundo, era uma busca científica, mas sem orientação para minhas experiências", diz.
Cientistas mirins: programação educativa apresenta a fauna e a flora da Amazônia aos pequenos alunos do Museu Goeldi |
É essa orientação que o Clube do Pesquisador Mirim oferece aos seus integrantes. De março a dezembro, três horas por semana, jovens dos ensinos fundamental e médio participam de experiências científicas teóricas e práticas. Na programação, experimentos, observações em campo e em laboratório, material bibliográfico, vídeos, jogos, kits didáticos, oficinas de arte e ciência, seminários, noções de restauração, simulação de escavações, excursões. No final, são responsáveis pela construção de um produto, por grupo, para exposição ao público do museu. Há desde vídeos a cartilhas e jogos educativos.
O ingresso no Clube é disputadíssimo. É como um vestibular, com direito a edital, publicado na grande mídia, e seleção através de questionário e dinâmicas de grupo. Em 2006, foram selecionados 180 jovens, divididos em nove grupos, que escolheram um dos temas oferecidos para pesquisa. São assuntos como relações entre os seres vivos, plantas úteis da Amazônia e animais esquisitos. Veteranos do clube integram o grupo dos instrutores mirins e elegem seu próprio tema. "As crianças não selecionadas no vestibular participam de oficinas de artes e ciências durante o ano", explica Videira.
Os instrutores do Clube são profissionais de diferentes áreas. "A equipe dificilmente pega um tema que domina, porque assim vai dar aula. Isso as crianças já têm na escola. Nós aprendemos junto com as crianças, buscamos a informação. Só para ter uma idéia, uma profissional de turismo orientou um grupo sobre insetos", acrescenta o professor.
O projeto não fica restrito a Belém. Hoje também é desenvolvido em Carajás, Ananindeua e Porto Trombetas/Oriximiná. E os seus resultados vão além da difusão científica do Museu e da contribuição para sanar lacunas existentes na formação básica dos alunos. Em Oriximiná, fronteira com o Amazonas, o projeto permitiu a revitalização do saber local, através de oficinas ministradas por artesãos da própria comunidade.
Caçula dentre os projetos educativos do MPEG, o CentrAlCiência – Centro de Recursos em Educação Científica Tecnológica e Ambiental: Rede Ciência para a Cidadania – oferece formação continuada a professores, atendimento a pessoas com necessidades especiais, jovens em situação de risco, grupos de terceira idade, líderes comunitários e à população como um todo. São 43 municípios paraenses ligados à rede do CentrAlCiência, desenvolvida em parceria com a Universidade Federal do Pará e a Seduc.
Com isso, qualifica-se a população, com base na linha de alfabetização científica. A inserção da ciência no cotidiano do indivíduo acontece por meio da associação com atividades comuns, como o ato de lavar as mãos e sua importância para a prevenção de doenças. "O projeto aposta na sinergia dos saberes populares com os científicos para desmistificar a própria ciência na sociedade", afirma Waldinete Costa, coordenadora do projeto e Ph.D em educação científica e ambiental.
"Não oferecemos respostas. Estamos aqui para que o professor questione e vá atrás de soluções. Ele deve ser um pesquisador de conhecimento e novos saberes", fala Waldinete. O projeto disponibiliza 11 livros e o material didático para download pode ser encontrado no site
www.museu-goeldi.br
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