Trabalhos que analisam a experiência do Educom.rádio mostram perfil dos mediadores e das produções
Publicado em 10/09/2011
Fazer com que os alunos trabalhassem em equipe entre si e com os professores e que escutassem e reconhecessem sua própria voz. Esses foram alguns dos fatores que contribuíram para a escolha do rádio quando a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo decidiu implantar um projeto de educomunicação em sua rede.
Durante a gestão da ex-prefeita Marta Suplicy (PT), de 2001 a 2004, as 455 escolas da cidade passaram por capacitação para implantar os processos de articulação entre educação e comunicação, com resultados diferentes. A começar da incorporação dos meios: 250 unidades não receberam o kit com os equipamentos para realizar os programas. Mesmo assim, trabalharam com a proposta de um processo de criação conjunta entre alunos e professores.
Para o projeto, a prefeitura capacitou mediadores, alunos, professores e pessoas da comunidade. Entre os mediadores, a grande prevalência foi de recém-formados ou estudantes de comunicação interessados em abrir um novo campo de atuação profissional, como mostra a dissertação de mestrado de Cláudia Funaro, “A Prática da Mediação em Processos Educomunicacionais: o Caso do Projeto Educom.Rádio”, defendida na ECA/USP em 2006.
Segundo o estudo, que traz o perfil dos mediadores envolvidos no projeto, 55,2% eram da área de comunicação social; 13,8% de ciências sociais, 6,9% de psicologia e 6,9% de educação (aí compreendidas pedagogia e letras). Do total de mediadores pesquisados (176, todos os envolvidos na sexta fase do projeto), 90% eram recém-formados ou estavam cursando a graduação. A faixa etária com mais participantes era a dos 24 aos 28 anos (44,8%), vindo a seguir a dos 19 aos 23 anos (17,2%).
Em sua pesquisa, Cláudia definiu três grupos de mediadores: o dos comunicadores, o dos educadores e o de profissionais de outras áreas.
“Os comunicadores se caracterizavam por ter uma visão mais crítica sobre o processo educacional, achando que não podiam atuar como o professor tradicional; os educadores eram mais condescendentes com o próprio campo, gostavam da educomunicação, mas faziam ressalvas para usá-la como instrumento de sala aula; já os de outras áreas apostavam nela como a grande saída para a educação, mas tinham uma visão acrítica sobre a realidade da escola”, resume a pesquisadora.
Outra dissertação de mestrado, esta de Renato Tavares Júnior, traz a análise de 668 programas realizados nas fases 1, 2 e 7 do projeto. Mais da metade dessa produção foi realizada conjuntamente por alunos e professores (52,8%). Sozinhos, os alunos fizeram 45,3% do total, contra 1,8% dos professores, o que mostra como os jovens estão mais à vontade com os meios.
Tavares Júnior também aferiu os gêneros predominantes e a temática. O gênero jornalístico prevaleceu tanto nas produções conjuntas (42,5%) como nas feitas só pelos alunos (42,6%). O gênero variedades, mesclando música, informação e humor, entre outros, esteve em 30% das produções conjuntas e em 23% no universo dos alunos. A ficção, em 15,7% e 22%, respectivamente.
Quanto à temática, os programas em torno da escola, da educação e da educomunicação foram a maioria (25% do total). Em seguida, vieram ambiente escolar e comunidade (20,2%) e violência (9,4% do total)
(Rubem Barros)