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Notícias

Este é o melhor dia que vamos ter hoje

Diálogos com professores Brasil afora

Publicado em 10/09/2011

por José Pacheco

A Berta é a encarnação do pessimismo. E, naquele dia, o seu semblante carregado não dava lugar a quaisquer dúvidas. Estava possuída por uma melancolia a condizer com a manhã chuvosa, ventosa e fria, muito fria.
Acerquei-me com o cuidado que a situação requeria:


Bom dia, Berta!
Bom dia?! O que é que o dia de hoje tem de bom?

– retorquiu.

Mas o seu desprazer cedeu lugar a um sorriso, quando repliquei:


Berta, este é o melhor dia que vais ter hoje.

Deambulo pelo Brasil das escolas habitadas por professores, que recebem salários indignos e lidam com escassos recursos. Escuto as queixas de quem adopta a sentença do Sartre, que nos diz serem os outros o nosso inferno:


Cada dia passado nesta escola é um inferno. São mesmo os outros que nos fazem da vida um inferno. Só porque não cruzamos os braços, só por tentarmos fazer o nosso melhor, a maioria dos nossos colegas critica-nos. Na nossa escola, somos só três a remar contra a maré…


Ficai sabendo que sois a maioria – contestei – Os restantes estão mortos. Ainda que não o saibam.

Cortella fala-nos da resiliência necessária, da capacidade de atravessar as perturbações cotidianas sem resvalar para o desespero. Sabemos ser alto o preço da transformação. Assumir ser diferente acarreta incompreensão, desconforto cognitivo e afectivo. Mas,
se nos faltar o vento, façamo-nos remadores

, como alguém, também, já disse.


Você é o professor Pacheco, não é?…

– Eu ia responder à maneira do Borges: Tem dias.. Mas reparei na face ansiosa da professora e não arrisquei a chalaça. Disse ser o próprio. De imediato, veio a lamúria:

Estou no momento um tanto desanimada. Em minha escola fizemos um projeto muito bonito e apresentamos à secretaria de educação, porém ele não foi aprovado, com as mesmas desculpas de sempre: espaço físico, necessidade de contratar pessoas etc.?Até mesmo dentro da própria escola parece que se criaram dois grupos, um querendo mudanças, querendo fazer diferente, outro expressando sempre estar com medo! E eu me pergunto: medo?de quê?

Como diria o Mia Couto,
os caminhos servem para sermos parentes do futuro

. Quase sempre, os caminhos são pedregosos, cortados por abismos e tocaias. Mas pelo sonho é que vamos, sonho que não é sinónimo de devaneio ou inacção. Como nos disse o professor Gedeão,
sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança.

Se é pelas crianças e com elas que realizamos utopias e logramos transcendermo-nos, saibamos aceitar o reverso, os sucedâneos da humana miséria. Àqueles que são parte do lado saudável da educação do Brasil, eu confidencio que existe uma espécie de fraternidade de que fazem parte, ainda que não saibam (e já são muitos!). Porém…

Professor José, foi você quem disse que onde não existir uma pessoa não será possível colocar um profissional. Me corrija se estiver enganada. Uma pessoa inserida em um contexto profissional, em que o comprometimento em? formar a inteireza do ser não seja considerado, em que a solidão de uma classe seja sua companheira diária, como pode não se desfazer enquanto pessoa? Hoje, por exemplo, pressinto que o meu dia será bem cinzento para a minha pessoa…


Este é o melhor dia que vamos ter hoje

– respondi.
Aprendamos com Foucault a tornar visíveis as forças que impedem a mudança, a desocultar a violência visível (e a não-visível). Lamentar-se, ou vitimizar-se, nada acrescenta ou resolve. Tenhamos numa mão as interrogações e na outra as possibilidades.



José Pacheco



Educador e escritor, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves (Portugal)




josepacheco@editorasegmento.com.br

Autor

José Pacheco


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