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Vale a pena enfiar algo goela abaixo do educando?
Publicado em 10/09/2011
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Uma amiga tem ideias curiosas sobre as escolas. Vivendo numa cidade do interior, viu-se diante da encruzilhada: "qual a melhor escola para o meu filho?". Pôs-se a campo visitando as escolas tidas como as melhores, para conversar com os diretores. A cena se repetia. O diretor ou diretora se encantava com a perspectiva de uma matrícula a mais. Fazia seus melhores esforços para convencer a mãe. Mostrava as salas, os laboratórios, as quadras de esportes. Terminada a excursão, de volta à sala da diretoria, minha amiga tinha duas perguntas a fazer.
"O senhor sabe, nosso mundo é competitivo, há o vestibular no horizonte, o mercado de trabalho. Gostaria de saber como sua escola lida com esses problemas…" O diretor, seguro de sua filosofia de educação, respondia:
"Essa é nossa grande preocupação. Precisamos preparar as crianças para o futuro. Nossos professores são orientados no sentido de apertar as crianças ao máximo para que sejam vencedoras. Quanto a isso a senhora pode estar tranquila". Aí ela continuava:
"Sua resposta me esclareceu muito. Mas há uma última pergunta que quero fazer. As crianças passam apenas um período na escola. No outro período elas ficam com o tempo livre. O que fazer com esse tempo?"
Respondia o diretor: "a resposta a essa pergunta já está implícita no que eu disse. Não permitimos que as crianças tenham esse tempo ocioso. Damos lições para casa de forma que não sobra tempo ocioso. Elas têm de trabalhar o dia inteiro".
Aí a minha amiga concluía:
"Sabe, senhor diretor, acho que a infância é um tempo tão bonito que é triste apertar as crianças em nome de um futuro hipotético. As crianças não podem viver hoje em função do amanhã. A vida delas é no hoje. Se elas forem "apertadas", vão acabar por odiar a escola e o aprender. Além do que, as crianças devem ter um tempo livre para viver suas próprias fantasias, para brincar. Se elas tiverem todo o seu tempo tomado por deveres de casa, perderão a alegria…"
E com essas palavras despedia-se do diretor perplexo.
Peregrinou de escola em escola, e era sempre a mesma coisa. Até que chegou a uma escola de periferia, condições físicas precárias, um diretor esquisito. Perguntado sobre a sua filosofia de educação, respondeu:
"A coisa mais importante para as crianças nessa fase é que aprendam a se comunicar. Que aprendam a amar os livros. Que gostem de escrever. Uma criança que ama os livros tem o mundo aberto à sua frente…"
Minha amiga matriculou o seu filho nessa escola e ainda fez propaganda.
É preciso reconhecer que essa amiga anda na direção contrária. A maioria dos pais caminha na outra direção. Querem escolas fortes, que apertam, que preparam seus filhos para o vestibular, que enchem o tempo dos alunos com um mundo de lições para fazer em casa. Não estão interessados na educação dos seus filhos. Talvez nem saibam o que isto seja.
Vi, na antiga revista Life, a foto de um ganso sendo engordado para que seu fígado ficasse dilatado, próprio para ser transformado em patê. O cuidador do ganso segurava a sua cabeça apontando para cima, um funil enfiado no seu bico, por onde a comida era enfiada, à força. Terminada a operação, para evitar que ele vomitasse a comida que não queria, seu pescoço era amarrado. Essa imagem dispensa explicações. Quem é o ganso? Quem é aquele que segura a cabeça do ganso? Quem é aquele que lhe enfia comida goela abaixo? E o patê? Quem vai comer o patê? De uma coisa eu sei: não será o ganso.
Rubem Alves
Educador e escritor
rubem_alves@uol.com.br