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Notícias

Memórias da escola

Um professor que ditava porque sabia mais que os livros. E outro que contava os inauditos meandros da história

Publicado em 10/09/2011

por Rubem Alves

Lembro-me com prazer de um efêmero professor de história. Era o desleixo na roupa, na barba e na fala. Sua aparência física era o normal pelo avesso. Ensinava história ao contrário. Ditava as aulas como os outros. Por razões totalmente diferentes. Os outros ditavam porque não sabiam o que era ensinar e nem o que era aprender.

Ele ditava porque o que tinha a ensinar não se encontrava nos livros. Ele ensinava uma história proibida. Paul Veyne publicou o livro Comment on écrit l’histoire em 1971 (Éditions du Seuil )." Está lá: "História não existe. Há somente ‘histórias de’… Os fatos não existem. A única coisa que há são intrigas…". 

Intrigas daqueles que escrevem para os que têm poder. Quase um século antes Nietzsche já havia afirmado: " Contra o positivismo que diz ‘só há fatos’, eu diria: não, são precisamente os fatos que não existem, apenas interpretações…". Foi isso que aquele professor ao avesso me ensinou mais de 20 anos antes do livro de Veyne. 

"Vocês acham mesmo que o imperador Pedro I estava montado a cavalo no alto de um morro e que ele puxou da espada e gritou ‘Independência ou Morte?’ A história não acontece segundo a pintam os pintores por encomenda. O imperador estava com uma diarréia terrível e o que ele falou foi uma série de palavrões e maldições contra o seu pai, em meio a explosões de fezes e ventilações mal-cheirosas. Os livros de história dizem que cada herói falou uma frase célebre. "Como é para o bem de todos e a felicidade geral da nação diga ao povo que fico…" "O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever!" Será que havia sempre um escriba acompanhando os heróis para registrar seus súbitos arroubos literários?".  No semestre seguinte ele não voltou. Acho que o colégio não aprovava professores que ensinavam história pelo avesso.

Lembro-me também do Leônidas Sobrinho Porto, de sorriso de criança e rosto rechonchudo. Começou sua primeira aula assim: "Há dois assuntos preliminares que precisamos resolver de início para que possamos nos dedicar ao que importa. O primeiro deles é a presença. Todos vocês já têm 100% de presença. E o segundo são as provas e as notas. Todos vocês já passaram. Resolvidas essas questões irrelevantes que perturbam o prazer de aprender podemos agora nos dedicar ao que interessa: literatura…".  E aí começou. Ele não ensinava literatura. Não discorria sobre escolas literárias. Não prescrevia leituras a serem feitas e fichamentos.

O professor Leônidas se transformava em literatura. Ator. Ria e sofria os seus personagens. E nós ficávamos em silêncio absoluto, enfeitiçados, como se estivéssemos num teatro. Lembro-me dele vivendo o amor de Cirano de Bergerac por Roxana. "Beijo é o ponto róseo no ‘i’ da palavra ‘paixão’…"  E ele explicava que no francês não era "paixão"; era "amor", "aimer".

Melhor seria "o beijo é o ponto róseo no ‘i’ da palavra amor". Mas em português "amor" não tem ‘i’…  Não nos ensinou literatura. Ensinou-nos a amar a literatura. Por isso nunca esqueci.  Também foi só um semestre. Nunca mais o vi. É possível que tenha sido mandado embora pela direção do colégio por justa causa: suas cadernetas de presença eram falsas e suas  notas também eram falsas. Permite-se que o ensino de literatura seja falso. O que não se permite é que as cadernetas de presença e as notas o sejam. O evangelho dos burocratas começa assim: "No princípio era o relatório…"

Autor

Rubem Alves


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