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Notícias

Para pensar

O educador, de alguma forma, é um mostrador de brinquedos

Publicado em 10/09/2011

por Rubem Alves

Van Gogh tem uma tela que representa esta cena: o pai, jardineiro, interrompeu seu trabalho e está ajoelhado, com os braços estendidos para a criança que chega, conduzida pela mãe. O rosto do pai não pode ser visto. Mas é certo que ele sorri. O rosto-olhar do pai diz para o filho: "Quero que você ande". É o desejo de que a criança ande, desejo que assume forma sensível no rosto da mãe ou do pai, que incita a criança ao aprendizado. Os braços estendidos do pai são mais importantes que os braços estendidos do professor. Aquele pai agachado, braços estendidos, sorriso escondido: não é uma linda imagem para o educador?

Segundo Nietzsche, a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. É através dos olhos que as crianças tomam contacto com a beleza e o fascínio do mundo. Os olhos têm de ser educados para que a nossa alegria aumente. As crianças não vêem "a fim de". Seu olhar não tem objetivo prático. Vêem porque é divertido. Leiam os poemas de Alberto Caeiro e vocês ficarão sabendo mais sobre o sorriso das crianças.
 
Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador diz: "Veja!" – e, ao falar, aponta. O aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. O seu mundo se expande, fica mais rico. E, ficando mais rico, ele pode sentir mais alegria e dar mais alegria – que é a razão pela qual vivemos.

"O meu lábio zombeteiro faz a lança dele refluir": dito pela Adélia Prado. Lança? Falo ereto. Mas o lábio zombeteiro a altera. A lança, humilhada, se encolhe, torna-se incapaz do ato do amor. Há uma relação metafórica entre a lança fálica e a inteligência.

Como a lança fálica, a inteligência ou se alonga e se levanta confiante para o ato de conhecer, ou encolhe, flácida e impotente. O olhar de um professor tem o poder de fazer a inteligência de uma criança ficar ereta ou flácida… O lábio zombeteiro do professor faz a inteligência do aluno refluir.

Nos tempos da minha infância livros de figura não se encontravam prontos para serem comprados nas livrarias. Eu mesmo fiz um álbum. Era um caderno grande no qual fui colando figuras de cachorros. Minha mãe não gostava de cachorros. Nunca pude ter um. Tinha inveja dos meninos que tinham.  Fazendo o álbum, realizei, de alguma forma, o meu desejo.

A criança de olhar vazio e distraído não aprende. Os psicólogos se apressam em diagnosticar alguma perturbação cognitiva. Mas uma outra hipótese tem de ser levantada: a inteligência dessa criança foi paralisada pelo olhar do professor.

"Formatura": "formar" é colocar na forma, fechar. Um ser humano "formado" é um ser fechado, emburrecido. Educar é abrir. Educar é "desformar". Uma festa de "desformatura"…

Educação não é a transmissão de uma soma de conhecimentos. Conhecimentos podem ser mortos e inertes: uma carga que se carrega sem saber sua utilidade e sem que ela dê alegria. Educar é ensinar a pensar, isto é, a brincar com os conhecimentos, da mesma forma como se brinca com uma peteca.

Quando o conhecimento é vivo, torna-se parte do nosso corpo. A educação acontece quando vemos o mundo como um brinquedo, e brincamos com ele como uma criança brinca com a sua bola. O educador é um mostrador de brinquedos…

Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais…


Rubem Alves – Educador e escritor –
rubem_alves@uol.com.br

Autor

Rubem Alves


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