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Longe da aposentadoria

Mesmo com o crescimento do Enem, instituições não pensam em abandonar seus próprios processos seletivos, que permitem fortalecer a marca e ajudam no relacionamento com a comunidade do entorno

Publicado em 22/06/2015

por Redação Ensino Superior

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por Antônio Carlos Santomauro

Eduardo Knapp/Folhapress

Jovens durante vestibular: exames ampliam oportunidades de ingresso

Ano a ano, sobe o número de pessoas que se inscrevem para o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. Dos pouco mais de 150 mil alunos selecionados pelo MEC em 1998, quando era apenas um exame amostral voltado a observar a formação no ensino médio, o contingente pulou para 4 milhões em 2008, último ano antes de a prova virar processo seletivo para grande parte das federais e outras instituições de ensino superior. Em 2014, o número de inscritos atingiu a casa dos 8,7 milhões de pessoas.

Mas ainda que o Enem esteja em ascensão, sua utilização como único meio de ingresso não parece ser a melhor solução para as instituições privadas que consideram o vestibular uma ferramenta estratégica de negócios. É o que observa Carlos Guisasolo, pró-reitor do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (Unifeob). “Cerca de 70% de nossos candidatos prestam Enem, mas querem fazer também nossa prova presencial, até porque muitos não conhecem nossas instalações, e vêm até aqui com os familiares ou em caravanas”, ele diz. “Além disso, a nota do Enem geralmente sai após nosso processo seletivo, e esses alunos querem se garantir”, acrescenta.

Com duas unidades localizadas na cidade paulista de São João da Boa Vista, a Unifeob usa a prova seletiva tradicional para estreitar o contato com os públicos de seu entorno, convidando também os familiares dos candidatos a visitar os campi, onde então há atividades como café da manhã e palestras. Essa prova tradicional é responsável pela vinda de algo entre 60% e 70% dos cerca de 2,5 mil alunos que a cada início de ano ingressam na instituição. “O vestibular agendado também é importante para quem não tem tempo de vir até aqui: fazemos provas agendadas inclusive em outros municípios da região”, conta o pró-reitor.

A importância do processo seletivo próprio é destacada também por José Maria Mina, vice-reitor do Centro Universitário do Triângulo (Unitri), sediado em Uberlândia (MG), que tem cerca de 8 mil alunos. Somente 30% dos candidatos inscritos no processo seletivo optam pela utilização da nota do Enem. “Vem crescendo a participação desse método de seleção, e vem crescendo em velocidade interessante. Mas ainda há muitos jovens que não prestam esse exame”, observa Mina.

O fator financeiro

Dispensando-as de desenvolver, aplicar e corrigir exames próprios, o Enem pode, teoricamente, representar ferramenta de seleção interessante para as IES não apenas por ampliar as possibilidades de acesso oferecidas aos estudantes, mas também no que diz respeito aos custos. Embora as instituições recuperem uma parte do investimento com a cobrança da taxa de inscrição, ainda assim o custo é bastante significativo.

Na Unifeob, o custo médio da prova tradicional é de aproximadamente R$ 25 por aluno, sem considerar os recursos destinados a marketing e comunicação. Já na Universidade Braz Cubas, esse valor é de R$ 40 por estudante, estima José Maria Silva, superintendente de relações institucionais da instituição. Como a taxa de inscrição é de R$ 30, cabe à instituição cobrir a diferença, investimento que compensa, pois 60% dos ingressantes ainda chegam à Braz Cubas por meio da prova tradicional. “O ritual associado a essa prova ainda atrai muitos alunos. Já o percentual de calouros admitidos integralmente com a nota do Enem é de apenas 10%. O restante vem via canais como provas agendadas e ProUni”, diz José Maria.

Outro fator que também impede a utilização mais intensiva da nota do Enem é a data de divulgação de seus resultados. Por essa razão, nas Faculdades Oswaldo Cruz aproximadamente 65% dos novos alunos ingressam por meio de processo seletivo próprio, enquanto outros 25% utilizam a nota do Enem (de qualquer uma de suas edições). “Também é preciso considerar o perfil de cada escola: a Oswaldo Cruz é uma instituição centenária, forma profissionais para a indústria, um segmento da economia talvez mais conservador. E aí a tradição da prova mantém seu valor”, argumenta Pedro Silva, diretor de comunicação.

Qualidade reconhecida

No quesito “qualidade da avaliação”, o Enem não é objeto de resistência das instituições. “É uma prova muito bem feita, avalia adequadamente os diferentes campos de conhecimento”, elogia José Maria Silva, da Braz Cubas. “A prova é bem elaborada, e para mim deve ser exatamente o desempenho no ensino médio – que ela avalia – o responsável por dizer se um estudante está ou não apto a ir para o ensino superior”, endossa Gidel Deungaro, superintendente de marketing do Centro Universitário Iesb, instituição com três unidades instaladas no Distrito Federal.

No Iesb, as provas agendadas respondem pelo ingresso de aproximadamente 60% dos novos alunos, sendo os restantes 40% divididos de maneira bastante similar entre a prova tradicional e o uso da nota do Enem. “Mas o Enem, especialmente nos últimos dois anos, vem ganhando mais espaço”, ressalta Gidel.

Teoricamente já seria até possível utilizar apenas esse exame governamental no processo seletivo, mas é preciso considerar que as IES também são demandadas por outros interessados – entre eles, estudantes que terminaram o ensino médio há mais tempo e que não necessariamente prestam o Enem. Mas há muitos pontos favoráveis ao uso mais intensivo dessa modalidade de seleção. “Ela permite ao candidato receber mais rapidamente o resultado de sua avaliação. E, motivados inclusive por fatores como seu uso nos programas de financiamentos, os candidatos preferem aproveitar essa nota, em vez de passar pelo estresse de uma nova prova”, complementa Gidel.

Pedro Silva, da Oswaldo Cruz, também projeta um Enem com relevância crescente nos processos seletivos, mas não vê, ao menos no curto prazo, possibilidade de extinção dos exames próprios das IES. Na Oswaldo Cruz, ele conta, todo o trabalho de desenvolvimento e implementação desses exames próprios é feito internamente. “Já trabalhamos com fornecedores terceirizados, mas optamos por desenvolver internamente nosso processo seletivo para ter mais flexibilidade. Com isso, conseguimos também pequena redução nos custos de aplicação”, explica Silva.

Bem implementado, esse método é mais interessante do que uma prova objetiva. “O modelo de entrevista da Oswaldo Cruz é bem aprofundado, e inclui também itens como análise do histórico escolar e redação”, ele detalha. “Acontece até de candidatos mudarem sua opção de curso a partir da entrevista. E a taxa de evasão dos alunos selecionados por esse método é cerca de 50% inferior à das demais modalidades”, complementa Silva.

O mercado do vestibular
Enquanto ajudam IES a aprofundar relacionamentos, os exames próprios de seleção geram negócios em empresas como a HS Informática, fornecedora de equipamentos e sistemas para todas as fases desse processo, das inscrições dos candidatos até a correção das provas e a formatação das listas de aprovados. “Metade de nossos clientes no ensino superior compra os softwares, e a outra metade adquire nossos serviços”, conta Ronaldo Peixoto Teixeira, fundador e diretor da empresa. Recentemente, a empresa lançou um software para correção de redações via internet. “Nesse sistema, os avaliadores recebem a redação aleatoriamente, sem a identificação do candidato”, explica. “Se detectada uma discrepância muito grande entre a nota de dois avaliadores – quando for utilizado mais de um –, a redação é remetida a um terceiro”, acrescenta. Já a empresa de digitalização e impressão de documentos Simpress imprime provas de processos seletivos. A impressão pode ocorrer dentro das universidades ou na própria empresa, o que nesse caso ocorre com uma série de cuidados com o sigilo do documento: “Temos sala fechada, com processos de vigilância. E nunca ficamos com o arquivo, sempre trazido por um representante da instituição, que o conecta em nosso sistema e acompanha a impressão”, conta Paulo Theophilo, diretor de marketing da empresa. Atualmente, a Simpress atende cerca de 60 clientes no mercado da educação.

 

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Redação Ensino Superior


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