NOTÍCIA
Chef’s table, série produzida pela Netflix, aborda a história de grandes cozinheiros pelo mundo
Publicado em 01/05/2017
A televisão tem uma grande tradição de programas culinários. No Brasil, essa linhagem vai de Ofélia a Ana Maria Braga, passando por Palmirinha, em uma série de atrações dedicadas a ensinar truques de cozinha e receitas para fazer sucesso em casa. Mais recentemente, o telespectador tem à disposição um cardápio de programas que envolvem desde competição de churrasqueiros a desafios de culinária entre crianças. Toda essa produção, porém, acaba se diluindo num caldo insosso de reality shows e saturação de temas no grosso da TV paga.
Não é esse o caso de Chef’s table, série produzida pelo Netflix que aborda a história de grandes cozinheiros pelo mundo, e cuja terceira temporada estreou recentemente na plataforma. Criada por David Gelb, a série procura dar um tratamento cinematográfico apurado às histórias – pessoais e profissionais – de chefs de cozinha.
No primeiro episódio da atual temporada, a história acompanha a monja Jeong Kwan, responsável pela alimentação em um templo budista da Coreia do Sul. Seguidora de uma dieta estritamente vegetariana, Kwan colhe o alimento, prepara conservas e fermenta a acelga do seu kimchi em um processo artesanal. Sua técnica e a delicadeza com que prepara as refeições a tornaram conhecida para além de seu templo, colocando-a em pé de igualdade aos mais festejados chefs do mundo.
Em outro extremo, um capítulo da atual temporada apresenta a trajetória de Ivan Orkin, judeu de Nova York que se tornou um dos grandes mestres do lámen no Japão. Boca-suja e errático, Orkin protagoniza um episódio muito sensível que retrata sua busca pela perfeição do prato e a reinvenção dos significados promovidas por um ocidental lidando com algo tão intrínseco ao dia a dia japonês.
O mérito de Chef’s table é ir além da cozinha, mas sem deixar de apresentar a comida como protagonista. Muito embora a confecção dos pratos seja o fio condutor da série, a história pessoal dos chefs – seus motivos, seus caminhos, seus percalços – é tão importante quanto o resultado final posto à mesa. A diversidade de lugares e técnicas enriquece a produção: há espaço para a cozinha clássica europeia, para a tradição do Oriente e para a busca de chefs sul-americanos com ingredientes e alimentos originais do continente. (O brasileiro Alex Atala, do restaurante D.O.M., já foi o protagonista de um capítulo). É uma série reconfortante para quem gosta de comida, boas histórias e belas locações.
Programas culinários
Julia Child (1912-2004) foi, talvez, o maior ícone dos programas culinários da televisão americana. Autora de livros de gastronomia, começou a cozinhar após os 30 anos, quando se mudou com o marido para a França. Sua história e a influência do seu jeito de cozinhar deram origem ao filme Julie & Julia (2009), em que coube à atriz Meryl Streep o papel principal.
David Gelb
Antes de criar a série Chef’s table, um dos trabalhos mais reconhecidos do diretor americano David Gelb foi o documentário O sushi dos sonhos de Jiro (2011), sobre o lendário sushiman Jiro Ono, então com 85 anos. No restaurante de sushi de Jiro, há apenas poucos lugares e as reservas precisam ser feitas com meses de antecedência. O filme acompanha sua busca pelo sushi perfeito e a iminência de sua aposentadoria.
Dia a dia japonês
Um pequeno bar/restaurante em Tóquio, que atende da meia-noite ao amanhecer, é o principal cenário de Midnight diner: Tokyo stories, série produzida no Japão e que tem sua primeira temporada disponível no Brasil. Cada episódio apresenta uma história envolvendo os diversos tipos que frequentam o local, comandado por um cozinheiro conhecido como Mestre – ele só serve caldo de porco, cerveja, saquê e shochu, a não ser que tenha outros ingredientes em mãos.
Da preparação de um banquete para o rei no castelo de Chantilly no século 17 ao sistema de entregas de marmita em Mumbai, na Índia, o alimento é peça central em diversos filmes.
Tampopo – Os brutos também comem spaghetti (Japão, 1985)
Difícil encontrar uma classificação para essa homenagem ao lámen, um dos pratos mais populares do Japão. A dona de um pequeno restaurante recebe a ajuda de um caminhoneiro para encontrar a receita ideal e salvar o seu negócio, enquanto esquetes sobre comida, humor e sexo se intercalam à história principal. Um filme bastante original sobre o ato de cozinhar – e comer.
Vatel – Um banquete para o rei (França, Reino Unido, Bélgica, 2000)
François Vatel (Gérard Depardieu) é encarregado por um príncipe com problemas financeiros para preparar um banquete de três dias em homenagem ao rei Luís 16 no Castelo de Chantilly. Ambientado no final do século 17, impressiona pela produção esmerada e traz um interessante pano de fundo sobre os meandros políticos da corte.
Ratatouille (Estados Unidos, 2007)
Nessa animação da Pixar, um ratinho chamado Remy sonha se tornar chef de cozinha. Por obra do destino, acaba na cozinha de um famoso restaurante de Paris, onde começa a “trabalhar” escondido sob o chapéu de um cozinheiro iniciante. Em tom bem-humorado (e absurdo), traz uma reflexão sobre o papel da autoria e da crítica.
O mineiro e o queijo (Brasil, 2011)
Documentário com tom político sobre a produção artesanal de queijos em Minas Gerais, onde 30 mil famílias vivem da produção do alimento, cuja venda para fora do estado é difícil. Dirigido por Helvécio Ratton, faz um panorama dessa produção, também voltando-se a uma abordagem cultural e histórica.
The lunchbox (Índia, 2013)
Na megalópole Mumbai funciona um eficiente sistema de entrega de marmitas: centenas de milhares são retiradas antes do almoço e entregues a seus destinatários, com grande taxa de sucesso. Um erro, porém, une um contador prestes a se aposentar a uma jovem e bela dona de casa, ignorada pelo marido.