NOTÍCIA
Unipam dobra o número de alunos com a inauguração de um centro de empreendedorismo e a implantação de projetos multidisciplinares
Publicado em 07/03/2018
Nos últimos oito anos, o Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam) dobrou o número de alunos matriculados, quitou as dívidas que chegavam à casa dos R$ 500 mil e avançou de 2,14 para 2,90 a avaliação no Índice Geral de Cursos (IGC). Para conquistar esses resultados, a instituição fez uma única aposta: na inovação.
Encravado no planalto mineiro, a 400 km de Belo Horizonte, o Unipam criou um Centro de Empreendedorismo e Aceleração de Negócios que vem chamando a atenção da comunidade acadêmica: primeiro pela qualidade dos projetos que estão nascendo ali e depois por sua estrutura. Batizado de oCEANo, o local parece um grande aquário. Ele foi construído ao lado da piscina da instituição e conta, inclusive, com o convés de uma embarcação à vela e uma grande âncora pendurada no teto.
Ali acontecem reuniões de trabalho e, especificamente no Programa de Pré-Aceleração, os alunos participam de oficinas de planejamento estratégico, aprendem sobre finanças e apresentam seus modelos de negócio a possíveis investidores.
Os estudantes ainda têm acesso a mentorias de uma equipe de professores, que oferecem desde consultorias jurídicas e contábeis até acompanhamento em pedidos de patente. Na primeira edição, em 2016, seis empresas participaram das atividades, que têm duração de 15 semanas. Em 2017, sete empresas foram contempladas.
A inspiração para criar o ambiente cheio de referências marinhas é explicada pelo pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão, Fagner Oliveira de Deus: “o mar é um ecossistema riquíssimo e que tem tudo a ver com o empreendedorismo. O oCEANo se tornou nosso ecossistema de inovação”, diz. Aproveitando o gancho, o Unipam rebatizou a incubadora, que agora se chama Farol Incubadora.
Apesar de o oCEANo ser a iniciativa que mais chama a atenção, a grande sacada da instituição para estimular seus alunos a empreender foi a criação do Projeto Integrador (PI). A disciplina, presente na grade curricular de todos os cursos e em todos os períodos, propõe trabalhos teórico-práticos em que os estudantes, divididos em grupos, desenvolvem soluções para problemas reais trazidos pela comunidade.
Essas aulas têm um formato flexível e utilizam diversos ambientes, dentre eles a própria aceleradora. Em algumas situações mais específicas, determinadas previamente pelos coordenadores de cursos, a disciplina é realizada de forma multidisciplinar com alunos de duas graduações diferentes. Nesses casos, o trabalho já se inicia dentro do oCEANo. Para compreender o impacto dessa atividade, são desenvolvidos anualmente, em média, 80 projetos, sendo cinco destes de forma multidisciplinar.
Um bom exemplo de Projeto Integrador, que ganhou notoriedade de acordo com o vice-reitor, foi o desenvolvido por alunos do curso de Veterinária. O dono de uma granja buscou o centro universitário para encontrar solução para o alto índice de mortalidade de seus pintos, causado pelo contato com a amônia, um gás tóxico gerado pela urina das aves. Com o acompanhamento dos professores, os estudantes desenvolveram um polímero que absorve o gás. O resultado foi bastante promissor e o projeto acabou, posteriormente, vencendo o Prêmio Unipam de Empreendedorismo – mais uma iniciativa da instituição a favor da inovação.
Resultados como esses foram conquistados com o apoio dos professores, ressalta Fagner de Deus. O centro universitário investiu na capacitação do corpo docente, oferecendo cursos de Design Thinking, Canvas e Pitch, entre outros, além de recorrer ao Sebrae. A atualização começou de forma vertical. Primeiro, contemplou a reitoria e os coordenadores e, em seguida, os professores. O vice-reitor conta que, atualmente, 70% dos docentes já receberam treinamento em algumas dessas metodologias.
Como não poderia ser diferente, o processo enfrentou desafios, a maioria deles relacionada à dificuldade de alguns educadores em se adaptar à nova metodologia. “Há professores que são muito bons para dar aula, mas que não têm o perfil para desenvolver projetos. Para desenvolver essa segunda atividade, professor tem de querer fazer algo diferente; tem de querer trabalhar com os alunos e provocá-los. O professor precisa ser a ponte e ter essa habilidade de gestão de projetos. Do contrário, o resultado pode ser um desastre”, conta.
Quem acabou se adequando bem a essa proposta foi Adriene Sttéfane Silva. Graduada em História e mestre em Tecnologia e Educação, a jovem professora de 28 anos, formada na casa, esteve presente nos dois lados das atividades empreendedoras: primeiro como aluna e em seguida como professora. Essa experiência lhe deu uma visão mais clara sobre como trabalhar a inovação no espaço acadêmico. “O desafio é tirar o aluno da caixinha e mostrar que ele tem capacidade de pensar além do limite. Muitos acham que só vão trabalhar dentro de sala de aula. Não se veem criando algo”, afirma.
Logo após realizar os cursos de capacitação, Adriene passou a fazer parte da equipe de professores do Projeto Integrador – atualmente com 25 integrantes. Em uma de suas primeiras turmas, trabalhou com alunos dos cursos de Publicidade e Propaganda e História no desenvolvimento de um game educacional. Neste ano, o desafio foi comandar uma turma de 120 alunos de Engenharia Elétrica e Pedagogia, divididos em 10 equipes. Ao lado de mais dois professores, sendo um deles o coordenador do curso de Engenharia, Adriene ajudou os times no desenvolvimento de um brinquedo e de um pequeno robô, ambos para serem utilizados em creches. Nesta atividade, os alunos de Pedagogia foram os responsáveis, e avaliados pelo desenvolvimento dos conceitos e os engenheiros pela parte técnica.
Para Adriene, os aprendizados obtidos na disciplina de Projeto Integrador são bastante significativos no desenvolvimento dos estudantes e, inclusive, muitos deles passam por transformações ao longo do semestre. “O que mais percebemos é o crescimento da visão do aluno. Eles se descobrem empreendedores. Temos relatórios em que agradecem a oportunidade de conhecer um mundo que até então desconheciam, de receber este incentivo a pensar diferente. Claro que há muito medo. Mas, normalmente, chegam diferentes no final”, completa.