NOTÍCIA
As IES brasileiras aprimoram métodos de autoavaliação institucional, mecanismo necessário para garantir relevância no mercado de educação
Publicado em 30/08/2022
Autoavaliação Institucional tem receita de bolo? Sim e não. Sim, porque temos legislação, instrumentos e indicadores para avaliar uma IES, seus cursos, diretrizes, procedimentos e seus resultados. Ao mesmo tempo, não, porque cada IES tem autonomia para conduzir sua gestão administrativa e acadêmica, propondo e seguindo processos conforme suas prioridades e entendimento sobre qual o melhor caminho para cumprir sua missão.
Avaliação remete à possibilidade de se submeter à autocrítica, o que pode acontecer a partir do ouvir a comunidade interna – estudantes, técnicos administrativos, corpo docente e gestores – assim como a comunidade externa.
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O método aparentemente preferido por grande parte das IES é a aplicação de enquetes. Com diversos formatos possíveis, desde uma única aplicação anual a todos os segmentos da comunidade acadêmica, até enquetes distintas por segmento e por tema. Na PUCPR realizamos averiguações anuais para medir a satisfação geral dos estudantes com a universidade, incluindo infraestrutura e serviços. Os processos de matrícula e rematrícula são avaliados logo após a efetivação por parte do estudante, assim como atendimentos realizados pelo SIGA – Suporte Integrado de Gestão Acadêmica – que engloba questões financeiras, bolsas, financiamentos ou relacionadas ao registro acadêmico.
Semestralmente, os estudantes avaliam a interação com o corpo docente e este, suas turmas. Anualmente, estudantes e docentes avaliam a gestão, desde a coordenação de curso até a reitoria. Colaboradores avaliam e são avaliados por seus pares e gestores. Colaboradores e docentes também opinam sobre os treinamentos, cursos e oficinas dos quais participam ao longo do ano.
Podem ocorrer avaliações com periodicidade superior à anual ou esporádicas, para compreensão de um evento específico. Um exemplo relativamente recente foi o período de pandemia vivido em 2020 e 2021. A partir de março de 2020 passamos a aplicar enquetes rápidas com periodicidade curta para compreender os impactos da transição abrupta da presencialidade para o ensino remoto. Neste caso o processo de tabulação e análise teve que ser muito ágil, para se entender os pontos críticos e agir com presteza no atendimento às necessidades que se apresentavam.
Percepções e outros levantamentos, além das pesquisas internas, são fundamentais para que a IES cumpra, não apenas os requisitos legais para a sua atuação, mas também a sua missão.
Um exemplo de ação efetiva e rápida na PUCPR foi o fornecimento, a título de empréstimo, de notebooks e de modems com acesso à internet para centenas de estudantes que não contavam com tais recursos em suas casas. Obviamente houve custos, absorvidos pela universidade, mas a prestação do serviço ocorreu sem sobressaltos e permitiu igualdade de oportunidades a todos os estudantes.
Voltando aos processos de autoavaliação, por vezes a IES pode se deixar levar por um viés de excessiva autoconfiança, com natural tendência de certa generosidade na autoavaliação, distanciando-se da autocrítica. Não questiono aqui a seriedade ou intencionalidade de qualquer IES mas, quando se está fortemente embrenhado em sua própria análise, incorre-se no risco da “autoenganação”, se é que podemos usar esse termo. Arriscaria dizer que a elaboração de análises e documentos por uma só pessoa na IES pode potencializar esse risco.
Quando envolvemos um grupo maior de pessoas, certamente mitigamos tal possibilidade. A própria composição da CPA, com representantes de todos os segmentos da comunidade acadêmica, contribui para essa mitigação – o compartilhamento de diferentes pontos de vista por parte dos segmentos da comunidade acadêmica, assim como por parte dos representantes da sociedade civil organizada, oportuniza a discussão e gera análises ricas para o aperfeiçoamento de processos internos.
Ressalto também que, por vezes, nos atemos a fornecer informações para as entidades governamentais e acabamos deixando em segundo plano a sociedade. MEC, Inep, Capes são legítimos responsáveis pela regulação, e a eles prestamos contas por meio do censo, dos relatórios e formulários. Refletindo sobre este ponto em um grupo de trabalho do Semesp sobre autoavaliação, emergiu a importância de discutir o tema da prestação de contas à sociedade, ao entorno de cada uma das nossas IES, além de atender às exigências regulatórias.
Para ilustrar o assunto, tomo emprestadas as palavras do nosso Reitor Emérito prof. Dr. Irmão Clemente Ivo Juliatto, falecido recentemente: “A PUCPR precisa ouvir o barulho da rua!”. Apesar de citar a PUCPR, a frase vale para todas as IES: devemos buscar melhoria em ensino, extensão, pesquisa, internacionalização. Porém, antes de qualquer coisa, temos que ouvir as demandas do nosso entorno e buscar formas de contribuir com o desenvolvimento de nossa vizinhança, de nossa área de abrangência. Qual o limite dessa abrangência? Podemos conversar sobre isso em um outro momento, pois requer reflexão e vale uma boa troca de ideias.
Com nota 5 na última avaliação do MEC/ Inep, a PUCPR está às vésperas de receber nova visita de Recredenciamento Institucional. Ter a nota máxima implica responsabilidade multiplicada, que é a manutenção desta avaliação. Entre as universidades privadas observa-se destaque para universidades confessionais, como é o caso das PUCs, Mackenzie, Unisinos e outras, tanto em rankings nacionais quanto internacionais.
Recentemente foi divulgado o resultado do THE – Times Higher Education Latin America – que avalia as universidades conforme sua atuação em ensino, pesquisa, compartilhamento de conhecimento e visão internacional. No Ranking de 2022, a PUCPR figura como a melhor IES privada do estado do Paraná e fica em segundo lugar quando consideradas as universidades públicas e privadas.
No Brasil a PUCPR é a terceira melhor universidade privada, seguindo as coirmãs PUC-Rio e PUCRS e sendo seguida pela Unisinos. Considerando as IES da América Latina, a PUCPR ocupa a 39ª colocação entre públicas e privadas em 2022, ante a 45ª posição em 2021. A respeito do Grupo de Trabalho do SEMESP sobre Autoavaliação, adianto que é composto por 11 IES de diferentes portes das 5 regiões do Brasil, que tem se reunido há pouco mais de um ano e apresentará proposta de um novo modelo de Autoavaliação no 24º FNESP.
Estamos em fase de elaboração. Como piloto, a CPA da PUCPR incorporou o desafio e foi a primeira IES a elaborar seu Relatório de Autoavaliação Institucional 2021 no formato proposto pelo Grupo de Trabalho. Tomou-se o cuidado de apresentar, ao longo do texto, o “de/para” com a indicação das correspondências com o modelo do Inep, ressaltando o cumprimento da abordagem aos seus Eixos e às suas Dimensões de avaliação.
O propósito deste novo modelo, portanto, além de atender às exigências legais, procura evidenciar a vocação e a importância de cada IES em sua localidade, por meio do cumprimento de sua Missão, de sua Visão, de seus Valores e Elementos Identitários.
A Autoavaliação, portanto, precisa ser feita. Cada IES sabe que há custos envolvidos nesses processos, então o desafio é buscar os melhores benefícios possíveis a partir das escutas e das auscultas feitas internamente, assim como das observações feitas por outros, de fora para dentro. Não pode ser somente para escrever relatórios ou para preencher formulários, tem que ser real, séria, sincera (por mais dolorida que seja). Não basta que a comunidade interna conheça os resultados – isso é Nota 4, no máximo!
Para buscar o 5 é necessário que cada um dos segmentos, sem exceção, se aproprie dos resultados e seja capaz e utilizá-los para a melhoria dos processos ao seu alcance: estudante pode melhorar o seu desempenho, colaborador pode propor melhorias no atendimento ou nos processos internos, professor pode aperfeiçoar sua prática docente e melhorar os processos de ensino e aprendizagem, gestores podem melhorar a infraestrutura, a formação administrativa e docente, assim como os resultados da IES.
Todos temos a ganhar com a autoavaliação.
Paulo Sergio Macuchen Nogas é professor titular da PUCPR, coordenador do Centro de Avaliação Acadêmica, Pró Reitoria de Desenvolvimento Educacional Professor Titular da PUCPR. Artigo publicado na edição 268 da Revista Ensino Superior. Assine.
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