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No QS World University Ranking 2023, universidades brasileiras se destacaram em indicadores como qualidade do ensino e pesquisa, empregabilidade e internacionalização
Publicado em 02/09/2022
Apesar das diferenças culturais, legislativas e das conjunturas socioeconômicas de cada país, os rankings internacionais têm sido cada vez mais utilizados como instrumentos para aferir a qualidade de uma instituição de ensino superior. Diante da disponibilidade cada vez maior de dados na internet (big data) fornecidos inclusive pelas próprias universidades, essas listagens, utilizando-se dessas informações de forma sistematizada, fomentam uma maior transparência e permitem melhores critérios de comparações entre as IES.
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O QS World University Ranking é um desses instrumentos de comparação entre instituições, que na sua última edição (2023) incluiu 1.422 instituições internacionais e destacou 35 universidades brasileiras entre as melhores do mundo, entre elas a Universidade Presbiteriana Mackenzie, a PUC-Campinas, a PUC-SP e a PUCPR, em áreas como qualidade da pesquisa e do ensino, empregabilidade e preparação para o mercado de trabalho e parcerias internacionais.
A participação em rankings, entretanto, é algo relativamente recente para as instituições de ensino privadas brasileiras, que há menos de uma década vêm integrando essas listas. Seja para melhorar processos internos, usar como publicidade, analisar a concorrência, os ranqueamentos vêm contribuindo de forma crescente com o planejamento das universidades.
“Desde 2014 participamos dos rankings universitários criados e difundidos nos últimos quinze anos. Nesse período, ampliamos o acesso às tecnologias de dados permitindo uma maior sistematização e avaliação da própria universidade, padronizando indicadores que contribuem para a autorreflexão institucional e embasam a gestão universitária em todas as instâncias colegiadas”, explica a Talitha Nicoletti Regis, assistente especializada na Pró-Reitoria de Planejamento e Avaliação Acadêmicos da PUC-SP.
“Temos uma Coordenadoria de Governança Universitária e Desempenho que acompanha os rankings nacionais e internacionais. Coletamos dados e analisamos onde estamos fortes e onde precisamos melhorar e essa coordenaria monitora e aponta os caminhos para investimentos e mudanças de rumo internamente”, afirma Marco Tullio de Castro Vasconcelos, reitor do Mackenzie.
Algumas práticas em comum podem ser observadas pelas universidades ranqueadas nas áreas de ensino e pesquisa. Seleção de periódicos de alto nível para a publicação de artigos; corpo docente composto por doutores; sistemas de reconhecimento e avaliação dos professores; e planos de financiamento e incentivo a pesquisa com bolsas e premiações financeiras são algumas delas.
“A principal razão de nos posicionarmos bem em rankings é o impacto internacional da pesquisa que fazemos. Ela é muito qualificada, apesar de ser menor em termos de volume se comparada às universidades públicas. Por isso, passamos a estimular os nossos programas de pós-graduação a fazerem publicações de altíssimo nível, inclusive com premiação em dinheiro para os professores. Damos bolsas para estudantes que possuem um bom nível de publicação e fazemos avaliações anuais equivalentes à avaliação quadrienal da Capes com avaliadores externos que analisam cada professor e o seu nível de produção”, diz Vidal Martins, vice-reitor da PUCPR.
“Todos os nossos professores são qualificados, com 80% tendo doutorado e 95% pelo menos mestrado. Eles participam todo ano de uma oficina de capacitação para docentes e estamos atualizando nossos planos pedagógicos. Além das bolsas da Capes e CNPq, a universidade investe em bolsas sendo mais de 150 de iniciação científica que nós patrocinamos em inovação tecnológica”, afirma Germano Rigacci Júnior, reitor da PUC-Campinas.
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Ao lado do financiamento oriundo das agências externas à universidade, a PUC-SP também implantou planos de incentivo à pesquisa. Em 2014 criou-se o PIPEq (Plano de Incentivo à Pesquisa) que oferece auxílio aos pesquisadores doutores da universidade. Em 2017, foi realizado edital com uma nova modalidade, PIPAD, de Pesquisa Aplicada à Docência, cujo objetivo foi fomentar estratégias de ensino que potencializassem a aprendizagem dos estudantes, contribuindo para a qualificação do ensino no que diz respeito ao uso de TDIC (Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação) e de metodologias inovadoras. No ano seguinte, teve o PIPEXT (Plano de Incentivo a Projetos de Extensão), cuja meta é fomentar ações de extensão vinculadas à formação dos alunos.
O Mackenzie, além de criar um fundo de pesquisa que todo ano aprova aproximadamente R$ 5 milhões para apoiar o deslocamento de professores e cobrir despesas com viagens para congressos nacionais ou internacionais, investe em benefícios e no salário dos professores como fator de diferenciação. “Pagamos salários melhores que as públicas, estaduais e federais, e damos um bom plano de saúde e ticket alimentação”, afirma o reitor da instituição.
A PUCPR também aposta na remuneração dos seus professores e criou um sistema de reconhecimento docente que avalia os profissionais duas vezes ao ano. Usa os resultados dessas avaliações para promoção e premiação em dinheiro, além de ter reformulado a sua proposta pedagógica.
“Buscamos um corpo docente com bastante qualificação em termos de titulação e remuneramos acima da média para a nossa região. Além disso, mudamos o currículo para uma abordagem por competências que busca desenvolver no estudante a capacidade de aplicar o conhecimento em situações complexas próximas da realidade”, informa Martins.
Para avaliar e sistematizar as instituições de ensino, o QS World University Ranking 2023 utilizou seis indicadores principais:
A preparação para o mercado de trabalho e a capacidade de empregar seus alunos é outro quesito avaliado pelo ranking internacional. Nele, universidades mais tradicionais costumam ter vantagem logo de início devido à sua reputação, que representa um diferencial.
As estratégias nesse campo consistem principalmente na aproximação da academia com o mercado, seja por meio de setores das IES que promovem a “ida” das universidades às empresas por meio dos estágios de seus estudantes e de parcerias, seja pela criação dentro das próprias escolas de um ecossistema empreendedor no qual são desenvolvidos startups e desafios baseados em problemas reais para os alunos.
“Há uma presença muito intensa dos nossos alunos em estágios no setor produtivo local com quase oito mil deles estagiando. Incentivamos que os alunos participem da vida de uma empresa, tanto na fase de estágio obrigatório como na residência tecnológica que temos em alguns cursos”, diz o reitor da PUC-Campinas.
“Temos um ecossistema de inovação chamado “hot milk” (nome dado por uma brincadeira com o sotaque paranaense) que possui mais de 50 startups dentro dele promovendo inovação aberta com grandes empresas, como TIM e Copel, e possuímos também o ‘Pibep’, programa de empreendedorismo que duas vezes por ano realiza concursos envolvendo quase dois mil alunos em que os estudantes se reúnem em equipes e fazem propostas para soluções de problemas reais da sociedade”, afirma o vice-reitor da PUCPR.
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Outro diferencial nesse campo da empregabilidade costuma ser a contratação de professores com experiência prática no mercado. “Temos trabalhado com a contratação de professores que tenham experiências em empresas”, diz o reitor do Mackenzie. Ele informa que foi criado na universidade um programa de mentoria e orientação de carreira (“Mack Mentoring”) e uma plataforma de desenvolvimento de soft skills, “MackSTLR”, que trabalha cinco competências-chaves. “São ações complementares e voluntárias, mas que monitoram a trajetória do aluno dentro da universidade.”
As parcerias internacionais são outra categoria na qual as instituições brasileiras também têm se destacado, criando acordos de cooperação, recebendo pesquisadores estrangeiros e enviando seus próprios professores a eventos internacionais, incentivando-os a participarem de grupos de estudos em outras instituições mundiais.
“Ao longo da última década, houve um esforço muito grande do nosso escritório de internacionalização. Fizemos associações com o grupo Coimbra e universidades americanas, europeias, latino-americanas e asiáticas. Estamos buscando maior êxito. Acordos de cooperações muitas vezes não se concretizam, então estamos selecionando os melhores para pô-los em prática”, explica o gestor do Mackenzie.
Vasconcelos diz que há dois anos foi inaugurado o escritório do “Education USA”, ligado ao Departamento de Estado americano, que ajuda na celebração de convênios e projetos como o “Conversation club”, criado durante a pandemia com mais de mil alunos para que eles trocassem experiências conversando em inglês com estudantes de universidades americanas.
A quantidade de disciplinas em inglês é outro diferencial que ajuda na avaliação da internacionalização. “Nós temos o maior número de disciplinas em inglês do Brasil, o que chamamos de ‘Global class’. Dessa forma conseguimos incluir mais cidadãos globais praticando a interculturalidade, um dos nossos valores maristas”, afirma o vice-reitor da PUCPR.
Embora constituam avanços importantes no campo da educação, os rankings internacionais necessitam de constantes melhorias que lhes permitam avaliar de forma cada vez mais precisa as diversas realidades nacionais. Apesar disso, eles são provavelmente a melhor ferramenta para se comparar instituições de ensino de realidades totalmente diferentes e servem tanto a gestores que desejam melhorar seus processos internos, quanto a estudantes que procuram as melhores escolas para desenvolverem seus estudos e conseguirem bons empregos.
A matéria do jornalista Raul Galhardi faz parte da edição 268 da Revista Ensino Superior. Assine.