ARTIGO
Como o financiamento e as políticas climáticas excluem aqueles que sofrem os piores efeitos das mudanças do clima e de que forma o investimento em pequenos agricultores pode ajudar na correção desse desvio.
Publicado em 13/12/2022
Por Claire McGuinness e Matthew Forti/Stanford Social Innovation Brasil*: Uma potente combinação de oportunidades inexploradas e injustiça climática está colocando em uma situação difícil os pequenos agricultores do mundo todo. Esses produtores, que tradicionalmente cultivam áreas de até 20 mil metros quadrados e somam 50 milhões de pessoas apenas na África Subsaariana, enfrentam alguns dos efeitos mais agudos das mudanças climáticas. Uma vez que não há irrigação constante do solo, a maior parte das terras é cultivada com uma técnica agrícola que depende das chuvas das monções para prosperar.
Isso expõe os produtores a secas e tempestades capazes de acabar com suas plantações, o que significa comida insuficiente para o sustento de suas famílias ao longo do ano. Ainda assim, nenhum dos financiamentos que a comunidade global tem dedicado ao combate ao aquecimento global é direcionado a pequenos agricultores, que pouco aparecem em conversas políticas de alto nível sobre as prioridades climáticas. Embora quase não tenham ajudado a criar os problemas que ameaçam seus meios de subsistência, os pequenos agricultores são deixados por conta própria para enfrentá-los.
Em segundo lugar, há um enorme e inexplorado potencial para a mitigação climática (esforços para reduzir ou prevenir as emissões de gases de efeito estufa), dado o escopo das terras que os pequenos proprietários administram no mundo. Algumas estimativas indicam que até 40% das terras agrícolas globais são administradas por pequenos proprietários. Estas famílias de agricultores podem desempenhar um papel significativo na mitigação das mudanças climáticas se estiverem equipadas com ferramentas para maximizar os ganhos ambientais que suas terras podem proporcionar.
Finalmente, há um imperativo moral de apoiar as pessoas que têm a menor responsabilidade e a maior vulnerabilidade diante da crise climática. Mesmo que o investimento em pequenos agricultores não tivesse a enorme oportunidade de mitigação que de fato oferece, aqueles de nós do Ocidente, que impulsionam as mudanças climáticas, ainda teríamos o dever ético de ampará-los no alívio dos desafios que criamos para eles, ajudando a obter a justiça climática.
Matemba trabalha com a organização onde atuamos, a One Acre Fund, que ajuda mais de 1,5 milhão de famílias de pequenos agricultores na África a melhorar suas colheitas, rendimentos e resiliência. O sítio de Matemba em Mulanje, no Malawi, foi atingido pelo ciclone Ana no início de 2022. A região ficou inundada por três dias, e metade de suas terras foi soterrada com areia e pedregulhos trazidos pelas fortes chuvas. O dano foi irreparável, o que a deixou sem uma fonte de renda suficiente para ela e sua família.
À medida que as mudanças climáticas continuam avançando, eventos relacionados ao clima que destroem os meios de subsistência como o ciclone Ana se tornarão mais comuns.
Apesar do argumento claro para apoiá-los, os pequenos produtores são virtualmente excluídos do financiamento e das políticas climáticas globais e apenas 1,7% das centenas de bilhões de dólares alocados para o financiamento climático global vai para pequenos proprietários, segundo um estudo recente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA). Esta falta de capital tem efeitos reais e definitivos na vida dos agricultores. Um choque climático pode significar uma perda total da colheita de um agricultor, dando início a meses de poucas refeições para as famílias e uma redução severa de renda que impossibilita até o pagamento de coisas como taxas escolares.
A magnitude do problema torna necessárias filantropia e ajuda em escala
Recompensar de maneira eficiente os agricultores pela adoção de soluções de mitigação climática baseadas na natureza – incluindo agrossilvicultura, agricultura regenerativa e mitigação baseada em sítios e famílias – pode fornecer a eles os meios para atender às suas necessidades básicas enquanto adaptam ainda mais suas terras e práticas às mudanças climáticas.
*Este artigo faz parte da revista Stanford Social Innovation Review Brasil. Acesse a SSIR para ler o artigo na íntegra: clique aqui.