Cientistas, líderes comunitários e membros da sociedade civil se uniram para criar novos protocolos e métodos para fazer ciência comunitária como uma tentativa de torná-la ainda mais inclusiva e acessível ao público. A ciência comunitária é fruto de dois movimentos anteriores que surgiram para aproveitar as forças democratizantes da internet: ciência aberta e dados abertos. O primeiro é o empurrão para tornar a pesquisa científica acessível e estimular o compartilhamento e a colaboração em todo o processo de pesquisa, enquanto o segundo corresponde ao suporte necessário para que os dados possam ser utilizados, reutilizados e compartilhados gratuitamente por qualquer pessoa.
Os defensores da ciência aberta argumentam que já passou da hora de redefinir as condutas científicas. Durante décadas, a área foi dominada por um modelo que alguns especialistas chamam de science-push (algo como “empurrão da ciência”), uma abordagem de cima para baixo, na qual os cientistas decidem quais investigações seguir, quais perguntas levantar, como fazer ciência e quais resultados são importantes. Se houver um total envolvimento da sociedade civil, seus membros serão os agentes da pesquisa, e não consumidores passivos do conhecimento seletivo que lhes é apresentado pelos cientistas.
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A abordagem tradicional da ciência acabou levando a população a desconfiar cada vez mais dos cientistas — de seus motivos, valores e interesses comerciais. Por ser um processo que explora o mundo pela observação e experimentação, procurando evidências que possam revelar padrões mais genéricos, geralmente produzindo novas descobertas, a ciência, em si, não decide quais são os efeitos ou consequências dos resultados obtidos. A devastadora epidemia de opioides nos Estados Unidos — na qual os fabricantes promoveram de modo agressivo drogas com alto poder de causar dependência, minimizando riscos e desinformando os médicos — mostrou que os valores e interesses dos cientistas são extremamente importantes.
Os defensores da ciência aberta acreditam que a ciência deveria ser um empreendimento conjunto entre cientistas e a sociedade para demonstrar o valor da ciência na vida cotidiana da população. Essa colaboração pode mudar a forma como os cientistas, comunidades, agências reguladoras, parlamentares, acadêmicos e financiadores trabalham individual e coletivamente. Cada ator terá mais facilidade de integrar a ciência às tomadas de decisão cívicas, atacar os problemas com maior eficiência e a custos mais baixos. Esse trabalho colaborativo criará novas oportunidades para a ação cívica e dará à sociedade uma maior sensação de propriedade — tornando-a a sua ciência.
Sobre o Autor
Louise Lief é consultora em filantropia, mídias e organizações não governamentais, com foco em engajamento cívico e abordagens colaborativas. Ela atuou como acadêmica em políticas públicas no Science and Technology Innovation Program (Programa de Inovação em Ciência e Tecnologia) e no Environmental Change and Security Program (Programa de Mudança Ambiental e Segurança), do Wilson Center. Ela também foi conferencista no Investigative Reporting Workshop da Faculdade de Comunicação da American University. A íntegra de seu artigo sonre ciência comunitária pode ser lida no site da Stanford Social Innovation Brasil.