ARTIGO

Stanford Social Innovation Review Brasil (SSIR)

Quando a Ciência é… Comunitária

Alimentado por milhares de estudantes e cientistas em início de carreira, surgiu recentemente um movimento que pretende transformar o modo de fazer ciência.

Publicado em 19/12/2022

por Ensino Superior

pexels-pixabay-209728-1024x687 Cientistas, líderes comunitários e membros da sociedade civil se uniram para criar novos protocolos e métodos para fazer ciência comunitária

Alimentado por milhares de estudantes e cientistas em início de carreira, surgiu recentemente um movimento que pretende transformar o modo de fazer ciência. O objetivo é “expandir as fronteiras do que consideramos ciência”, observa Rajul Pandya, diretor sênior do projeto Thriving Earth Exchange (Ações para a Prosperidade da Terra), da American Geophysical Union (AGU — União Geofísica dos Estados Unidos), “para modificar a ciência e a forma como a utilizamos”.

Cientistas, líderes comunitários e membros da sociedade civil se uniram para criar novos protocolos e métodos para fazer ciência comunitária como uma tentativa de torná-la ainda mais inclusiva e acessível ao público. A ciência comunitária é fruto de dois movimentos anteriores que surgiram para aproveitar as forças democratizantes da internet: ciência aberta e dados abertos. O primeiro é o empurrão para tornar a pesquisa científica acessível e estimular o compartilhamento e a colaboração em todo o processo de pesquisa, enquanto o segundo corresponde ao suporte necessário para que os dados possam ser utilizados, reutilizados e compartilhados gratuitamente por qualquer pessoa.

Os defensores da ciência aberta argumentam que já passou da hora de redefinir as condutas científicas. Durante décadas, a área foi dominada por um modelo que alguns especialistas chamam de science-push (algo como “empurrão da ciência”), uma abordagem de cima para baixo, na qual os cientistas decidem quais investigações seguir, quais perguntas levantar, como fazer ciência e quais resultados são importantes. Se houver um total envolvimento da sociedade civil, seus membros serão os agentes da pesquisa, e não consumidores passivos do conhecimento seletivo que lhes é apresentado pelos cientistas.

Leia também: O Despertar da Liderança Sistêmica

A abordagem tradicional da ciência acabou levando a população a desconfiar cada vez mais dos cientistas — de seus motivos, valores e interesses comerciais. Por ser um processo que explora o mundo pela observação e experimentação, procurando evidências que possam revelar padrões mais genéricos, geralmente produzindo novas descobertas, a ciência, em si, não decide quais são os efeitos ou consequências dos resultados obtidos. A devastadora epidemia de opioides nos Estados Unidos — na qual os fabricantes promoveram de modo agressivo drogas com alto poder de causar dependência, minimizando riscos e desinformando os médicos — mostrou que os valores e interesses dos cientistas são extremamente importantes.

Os defensores da ciência aberta acreditam que a ciência deveria ser um empreendimento conjunto entre cientistas e a sociedade para demonstrar o valor da ciência na vida cotidiana da população. Essa colaboração pode mudar a forma como os cientistas, comunidades, agências reguladoras, parlamentares, acadêmicos e financiadores trabalham individual e coletivamente. Cada ator terá mais facilidade de integrar a ciência às tomadas de decisão cívicas, atacar os problemas com maior eficiência e a custos mais baixos. Esse trabalho colaborativo criará novas oportunidades para a ação cívica e dará à sociedade uma maior sensação de propriedade — tornando-a a sua ciência.


Sobre o Autor

Louise Lief é consultora em filantropia, mídias e organizações não governamentais, com foco em engajamento cívico e abordagens colaborativas. Ela atuou como acadêmica em políticas públicas no Science and Technology Innovation Program (Programa de Inovação em Ciência e Tecnologia) e no Environmental Change and Security Program (Programa de Mudança Ambiental e Segurança), do Wilson Center. Ela também foi conferencista no Investigative Reporting Workshop da Faculdade de Comunicação da American University. A íntegra de seu artigo sonre ciência comunitária pode ser lida no site da Stanford Social Innovation Brasil.

Autor

Ensino Superior


Leia Stanford Social Innovation Review Brasil (SSIR)

Espaços de escuta

Por mais espaços de escuta 

+ Mais Informações
o problema das mesas

O problema das mesas

+ Mais Informações
ESG

As diferenças entre ESG e investimento de impacto

+ Mais Informações
Revista Ensino Superior - EHenry Eyring: Universidades com fins lucrativos sofrem a tentação de maximizar o lucro a qualquer preço.

Universidade em Mutação

+ Mais Informações

Mapa do Site